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O infinito ferido

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Imagem amenic181/Bigstock.com

O infinito que a nós cabe viver é sempre um infinito ferido. E é bom que assim seja. As perguntas «quem estou disposto a amar?», «até que ponto me torno disponível para a confiança?», «como me disponho a abraçar a vida nos seus rasgões e nas suas convulsões?» trazem tatuada uma interrogação que não vemos, em que raramente pensamos, mas que é intrínseca a tudo, precisamente a tudo aquilo que somos: «Por que coisas me sinto capaz de sofrer?».

E isto nada tem a ver com um qualquer confuso masoquismo autossacrificial. É antes o contrário. Onde se lê «sofrer» entenda-se «viver», investir gratuitamente desejo e esforço, escutar em profundidade, acompanhar passo a passo com amor incondicional, dar a vida. Exatamente como faz a semente que mergulha na terra, onde está como se morresse, e desse modo assume o risco de hipotecar e transmudar a sua própria existência para gerar um fruto novo.

Poderemos nós pensar a vida de outra maneira? Podemos, certamente. E infelizmente muitos (por medo, por egoísmo, por insegurança) lidam com ela nessa perspetiva. Mas essa não é vida. Permanecerá sempre, mesmo se bem camuflada, uma vida aparente, mutilada de algumas dimensões fundamentais, vida a realizar. Uma aventura apenas esboçada. Um dom que não chegou a sê-lo.



 

José Tolentino Mendonça
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 12.01.2017

 

 
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