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«O diálogo é o nosso método», «somos defensores da cultura do encontro», aponta papa Francisco

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«O diálogo é o nosso método», «somos defensores da cultura do encontro», aponta papa Francisco

«O diálogo é o nosso método, não por astuciosa estratégia, mas por fidelidade àquele que nunca se cansa de passar e repassar pelas praças dos homens até às cinco horas da tarde a fim de lhes propor o seu convite de amor.»

A abertura à diferença - «somos defensores da cultura do encontro» - constituiu uma das linhas de ação mais sublinhadas pelo papa Francisco na intervenção que proferiu hoje na catedral de S. Mateus Apóstolo, em Washington, durante a oração litúrgica da Hora Média, que recitou com os bispos dos EUA.

«O caminho a seguir é o diálogo entre vós, diálogo nos vossos presbitérios, diálogo com os leigos, diálogo com as famílias, diálogo com a sociedade. Não me cansarei jamais de vos encorajar a dialogar sem medo. Quanto mais rico for o património que tendes para partilhar desassombradamente, tanto mais eloquente há-de ser a humildade com que o deveis oferecer», afirmou o papa.

Francisco apelou aos prelados para não terem «medo de efetuar o êxodo que é necessário em cada diálogo autêntico»: «Caso contrário, não é possível entender as razões do outro, nem compreender profundamente que o irmão que devemos encontrar e resgatar, com a força e a proximidade do amor, conta mais do que as posições que, apesar de certezas autênticas, julgamos distantes das nossas».

«A linguagem dura e belicosa da divisão não fica bem nos lábios do pastor, não tem direito de cidadania no seu coração e, embora de momento pareça garantir uma aparente hegemonia, só o fascínio duradouro da bondade e do amor é que permanece verdadeiramente convincente», assinalou.

As palavras de Francisco realçaram que, em Deus, a bondade sobrepõe-se à cólera: «Aprender de Jesus, melhor ainda, aprender Jesus manso e humilde; entrar na sua mansidão e humildade através da contemplação do seu agir. Introduzir as nossas Igrejas e o nosso povo, muitas vezes esmagado pela rígida ansiedade de sucesso, na suavidade do jugo do Senhor. Recordar que a identidade da Igreja de Jesus é assegurada, não por um "fogo do céu que consuma", mas pelo calor secreto do Espírito que "sara quanto é moléstia, o que há de dureza abranda, endireita o desvairado".

Ao episcopado «não é lícito iludir ou silenciar» a «vítima inocente do aborto, as crianças que morrem de fome ou debaixo das bombas, os imigrantes que acabam afogados em busca dum amanhã, as pessoas idosas ou os doentes que olhamos sem interesse, as vítimas do terrorismo, das guerras, da violência e do narcotráfico, o meio ambiente devastado por uma relação predatória do homem com a natureza», assinalou.

Estes «aspetos irrenunciáveis da missão», a par do anúncio do Evangelho, prosseguiu o papa, devem ser guardados e comunicados, «mesmo quando o sentimento do tempo se torna impermeável e hostil a tal mensagem».

O testemunho cristão «precisa não só de proclamações e anúncios externos, mas também de conquistar espaço no coração dos homens e na consciência da sociedade», frisou.

Da identidade dos bispos faz parte ser «pastores próximos das pessoas, pastores próximos e servidores», de modo especial dos padres, de modo a que as suas «fontes espirituais» se mantenham vivas, «para que não caiam na tentação dos notários e burocratas».

Também Francisco quis afirmar a sua proximidade a todas as comunidades católicas do país: «Quando uma mão se estende para fazer o bem ou tornar próximo o amor de Cristo, para limpar uma lágrima ou fazer companhia a alguém na solidão, para indicar a estrada a um extraviado ou reanimar um coração já despedaçado, para se inclinar sobre uma pessoa caída ou ensinar um sedento da verdade, para oferecer o perdão ou guiar para um novo começo em Deus... sabei que o papa vos acompanha e sustenta e, sobre a vossa mão, apoia também ele a sua já velha e enrugada mas, por graça de Deus, ainda capaz de sustentar e encorajar».

Referindo-se aos imigrantes que procuram entrar, muitas vezes clandestinamente, nos EUA, Francisco apelou aos prelados para os acolherem «sem medo»: «Talvez não vos seja fácil ler a sua alma; talvez vos sintais desafiados pela sua diversidade. Sabei, no entanto, que também possuem recursos para partilhar».

Sem se referir explicitamente aos abusos sexuais de menores por parte de membros do clero, o papa realçou o esforço realizado pela Igreja norte-americana: «Estou consciente da coragem com que enfrentastes momentos obscuros do vosso percurso eclesial, sem temer autocríticas nem vos poupardes a humilhações e sacrifícios, sem ceder ao temor de vos despojardes de quanto é secundário, contanto que se recuperasse a credibilidade e a confiança requerida aos Ministros de Cristo, como o espera a alma do vosso povo singular. Sei quanto vos pesou a ferida dos últimos anos e acompanhei o vosso generoso esforço para curar as vítimas – conscientes de que, curando, também nós ficamos curados – e para continuar a agir a fim de que tais crimes nunca mais se repitam».

Ainda que não quisesse «traçar um programa ou delinear uma estratégia» - «não vim para vos julgar ou dar lições» -, Francisco assinalou várias linhas de rumo, nomeadamente no que diz respeito à «identidade» dos bispos, que «deve ser procurada no rezar com assiduidade, no pregar e no apascentar», rejeitando a pregação de «doutrinas complicadas, mas o anúncio jubiloso de Cristo».

«Não se apascentar a si mesmo, mas saber esconder-se, diminuir, descentralizar-se», «elevar-se à altura da cruz de seu Filho, o único ponto de vista que abre ao pastor o coração do seu rebanho», «não olhar para baixo no próprio eu, mas sempre para os horizontes de Deus, que ultrapassam tudo o que nós somos capazes de prever ou planificar» e «velar também sobre nós para fugirmos da tentação do narcisismo, que cega os olhos do pastor, torna irreconhecível a sua voz, e estéril o seu gesto» foram alguns dos apelos deixados pelo papa.

Insistindo no apelo à humildade, Francisco alertou para a queda que ocorre «inexoravelmente» quando se confunde «a potência da força com a força da impotência», através da qual Deus agiu no mundo.

Vincando que «ao bispo é necessária a lúcida perceção da batalha entre a luz e as trevas», o papa afirmou que ao episcopado não assiste a tentação de se deixar «paralisar pelo medo», ainda que seja «hostil o campo» onde se semeia o Evangelho e a tendência «de fechar-se», permanecendo imóvel na recordação de «um tempo que não volta e planificando respostas duras às resistências já ásperas».

 

 

Encontro com bispos dos EUA - Washington, 23.9.2015 (em diferido)

 




 

Rui Jorge Martins
Publicado em 27.09.2015 | Atualizado em 21.04.2023

 

 

 
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«O caminho a seguir é o diálogo entre vós, diálogo nos vossos presbitérios, diálogo com os leigos, diálogo com as famílias, diálogo com a sociedade. Não me cansarei jamais de vos encorajar a dialogar sem medo. Quanto mais rico for o património que tendes para partilhar desassombradamente, tanto mais eloquente há-de ser a humildade com que o deveis oferecer»
Referindo-se aos imigrantes que procuram entrar, muitas vezes clandestinamente, nos EUA, Francisco apelou aos prelados para os acolherem «sem medo»: «Talvez não vos seja fácil ler a sua alma; talvez vos sintais desafiados pela sua diversidade. Sabei, no entanto, que também possuem recursos para partilhar»
Não se apascentar a si mesmo, mas saber esconder-se, diminuir, descentralizar-se», «elevar-se à altura da cruz de seu Filho, o único ponto de vista que abre ao pastor o coração do seu rebanho», «não olhar para baixo no próprio eu, mas sempre para os horizontes de Deus, que ultrapassam tudo o que nós somos capazes de prever ou planificar» e «velar também sobre nós para fugirmos da tentação do narcisismo, que cega os olhos do pastor, torna irreconhecível a sua voz, e estéril o seu gesto» foram alguns dos apelos deixados pelo papa
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