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O desporto na vida e na mensagem do papa Francisco

No balanço do primeiro ano de pontificado de Francisco I, propomos-lhe, caro leitor, um breve olhar sobre a importância do desporto na vida e, consequentemente, na mensagem do Papa Francisco, passada no seu reconhecido estilo descontraído e simples ao falar de coisas sérias, que dessacraliza o papado, descodifica, mobiliza, aproxima.

Como ninguém, o Papa usa a cultura do exemplo, desde logo quando pretende motivar a prática desportiva, partilhando que, quando menino, corria imparável no colégio, ou que, já como bispo e cardeal, se deslocava de bicicleta para a catedral. Recorda-nos ainda quando jogava basquetebol e futebol - lê-se que era discreto, mas já líder, convocando, organizando e distribuindo jogo. «Praticar um desporto», diz-nos, faz parte da dimensão de «gratificação» do ócio, por contraponto à aceção de «desocupação». Nessas «belas memórias de infância», o Papa remete-nos para a importância dos clubes de bairro e para o papel vital da família: «Quando era criança, ia sempre ao estádio [do Clube Atlético San Lorenzo de Almagro]. Íamos a família toda, incluindo a minha mãe (...) os meus pais eram de Almagro, o bairro do clube. (...) O papá jogava basquetebol no clube San Lorenzo e, às vezes, levava-nos com ele».

Assim nasceu a paixão pelo San Lorenzo, «clube santo», «dos corvos», de que o Papa é hincha e sócio honorário, circunstância que gosta de amplificar, tocando o coração (e a Fé...) não só do praticante mas também do adepto ou simpatizante, sendo que, como escreveu Marcos Caetano, esta paixão pelo futebol é um dado que «humaniza a biografia de um homem que tem como principal missão aproximar a Igreja das pessoas comuns, o que é ótimo».

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O Papa é, pois, um homem que vibra como qualquer um de nós: «Que alegria!», exclamou quando o San Lorenzo se sagrou campeão na época passada. Mais: o Papa é um homem que, como nós, peca - é o próprio Bergoglio quem recorda que chamou «vagabundo» a árbitros, ainda que, aproveite para lembrar que «[e]ram outros tempos. O máximo que se dizia do árbitro era patife, sem-vergonha, vendido...Isto é, nada comparado com os insultos de agora». E é esta paixão pelo futebol que, comentam os amigos, confere um «humor inesperado» a este homem «silencioso e humilde», que lhes telefona para comentar as incidências do fim de semana futebolístico e que nos seus poucos bens materiais - dizem que caberão numa só mala - guarda um poster autografado da equipa de futebol do seu clube. Eis vivências e estilos de vida que nos aproximam do Papa e para os quais ele nos convoca, a partir do desporto-rei.

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Na esteira sobretudo de Pio X e Pio XII, Francisco I encontra no desporto um veículo privilegiado de transmissão de valores. A este respeito, escolheu, e bem, o Movimento Olímpico para o seu discurso de referência: perante dirigentes do Comité Olímpico Internacional e dos Comités Olímpicos Europeus, associou o «crescente interesse da Igreja ao mundo do desporto» àquilo que este encerra e proporciona: «espírito de sacrifício»; «lealdade nas relações interpessoais»; «amizade»; «respeito pelas regras»; «justiça»; «educação»; «solidariedade», «paz»; «harmonia»; «partilha»; «coexistência harmoniosa entre pessoas». Tudo isto, afirmou, «(...) é possível porque o desporto é uma linguagem universal que ultrapassa fronteiras, linguagens, raças, religiões e ideologias. Tem a capacidade de juntar pessoas, encorajar o diálogo e a aceitação. Trata-se de um precioso recurso!». Percebe-se aqui uma influência do barão Pierre de Coubertin, a mesma que, noutro momento, terá levado o Papa a frisar que «o desporto é um meio, e não um fim em si mesmo», no âmbito da formação do corpo e do carácter da pessoa humana.

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Mas, claro está, o Papa não vive alheio do reverso da medalha: «Quando o desporto é visto somente em termos económicos ou na prossecução da vitória a todo o custo, corremos o risco de reduzir os atletas a meros produtos dos quais retiramos lucro». Atletas a quem já apelou para «semearem o bem» e exortou para que, «no terreno de jogo como na vida», encarem o desporto como um «dom de Deus, uma oportunidade para tirarem proveito dos [respetivos] talentos» mas, simultaneamente, uma responsabilidade, porquanto o jogo, as condutas, os valores dos atletas - «modelos» ou «pontos de referência» na sociedade - têm eco, «para o bem e para o mal», junto de quem os observa e admira.

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Muito mais haveria para dizer sobre o tema em apreço. Deixamos apenas, uma nota final para a vertente do desporto enquanto metáfora nos discursos do Papa. Se a necessidade de ter «metas» ou de «consciência da derrota» são exemplos paradigmáticos, destacamos o que é transmitido aos jovens, em especial: «Jesus pede-nos que joguemos na sua equipa (...) que treinemos ["diálogo e oração"] para estar em forma (...) Queridos jovens, sejam autênticos "atletas de Cristo!"»; «Sede protagonistas; jogai ao ataque! Chutai para a frente!»; «Não olheis para a vida a partir da bancada, mergulhai nela como fez Jesus». Dificilmente um agnóstico ou ateu fica indiferente...

 

Alexandre Miguel Mestre
Ex-secretário de Estado do Desporto e Juventude
In Diário de Notícias
11.03.14

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