Lidia Maksymowicz apresentou-se ao papa Francisco mostrando-lhe o braço marcado com o número 70072. «Tinha três anos, e mal entrei no “lager” de Birkenau, um dos campos de Auschwitz, arrancaram-me do abraço da minha mãe para me transformar numa cobaia do “doutor” Mengele».
Lidia, antes de tudo, sorri enquanto desaperta o pulso da camisa para enrolar a manga e mostrar aquela marca a Francisco. E o papa, profundamente comovido, beijou o braço da mulher, precisamente onde a carne traz impressa a tentativa de lhe eliminar, com o nome, a identidade. O gesto de Francisco foi também uma marca, radicalmente oposta, na audiência geral de hoje.
Lidia Maksymowicz | D.R.
Há quase 80 anos, em 1942, Lidia foi “vomitada” de um vagão na improvável estação ferroviária de Birkenau. «Sim, o meu nome é Lidia Maksymowicz, mas não esqueço que durante três anos, até 1945, me chamavam com o número 70072: por isso apresento-me sempre mostrando o braço marcado.
Para ela, mulher de fé, não se coloca a questão do perdão a quem a fechou num campo de concentração, usando-a para experimentações insanas. Recorda muito bem o rosto e o tom de voz do famigerado Mengele. «Não odiei os meus perseguidores quando era criança, não os odeio agora que tenho mais de 80 anos. Se tivesse de viver a pensar em ódio e vingança, provocaria dano a mim própria e à minha alma, ficaria doente porque o ódio matar-me-ia também a mim como matou aqueles homens que semearam morte.»
Por isso, conta, «a missão que escolhi e que levarei por diante até quando viver é recordar, falar do que me aconteceu. Descrevê-lo sobretudo aos jovens, para que não permitam que nunca mais aconteça uma coisa do género».
Após a libertação ocorrida em 1945, Lidia – de origem bielorussa, mas os seus avós eram de Wadowice, a terra-natal de Karol Wojtyla – foi confiada a uma família polaca que a educou como a uma filha. Estava certa de que a mãe tinha sido morta em Auschwitz, mas «numa manhã de 1962 ouvi bater à porta de casa e encontrei-a à minha frente… Quando nos separaram violentamente no campo de concentração, a minha mãe prometeu-me que, um dia, passaria para me levar. E manteve a promessa».
Vatican News | D.R.
A Francisco, “a menina que não sabia odiar” – é o título de um documentário que percorre a sua vida – ofereceu o lenço que recorda a sua detenção, um terço e um quadro (pintado por Renata Rechlik) que a retrata de mão dada à mãe enquanto entram em Auschwitz. São representadas com vestido de elegância simples, porque não perderam a dignidade. Nem sequer quando lhes marcaram um número no braço.
L'Osservatore Romano | D.R.