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Leitura: "Nos palcos da Ciência: Uma apreciação estética da heterodoxia científica"

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Leitura: "Nos palcos da Ciência: Uma apreciação estética da heterodoxia científica"

«Numa crónica na "revista" do "Expresso" de um começo de férias do verão de 2014, José Tolentino Mendonça aborda a problemática da "lente da razão": "Kant deu o mote à aventura da Modernidade com uma fórmula: 'Atreve-te a pensar'.

Foi o que dizemos, agigantando o papel da razão, colocando-a como motor e explicação disto que somos no tempo, esperando que fosse ela a fornecer todas as respostas. Rapidamente se passou do 'atreve-te a pensar' para um 'só é válido o que se possa pensar'. E hoje percebemos , a um alto preço de sofrimento, o erro que isso representou. A razão é uma lente parcial para enxergar o enigma humano".»

É com estas palavras que abre a introdução ao livro "Nos palcos da Ciência: Uma apreciação estética da heterodoxia científica", de Sebastião J. Formosinho, autor de 30 livros sobre epistemologia e história das ciências, educação em química e relações entre ciência e religião, além de mais de 170 artigos em Química.

Em depoimento enviado ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o membro efetivo da Academia das Ciências de Lisboa, que em 1988 foi distinguido com o Prémio Aboim Sande Lemos, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, sustenta que «não há uma demarcação inequívoca entre Arte e Ciência».

«O Prémio Nobel da Química Roald Hoffmann, na sua obra "The Same and Not the Same", afirma-o de um modo bem expressivo: “Toda a atividade científica, como a de fazer nascer uma nova teoria ou um modelo teórico, é mais um ato de criação do que descoberta, com o mesmo apelo psicológico que sente um pintor que, com as limitações das suas telas e tintas, cria os seus quadros”», salienta.

O Secretário de Estado do Ensino Superior entre 1980 e 1981 evoca o questionamento presente na «obra ímpar» que é "Haja Luz", de Jorge Calado: «O pitoresco, o belo e o sublime representam uma hierarquia de experiências estéticas, de intensidade e qualidade crescente. Será que as ciências obedecem a uma hierarquia semelhante?».

«A minha carreira científica nos domínios mais heterodoxos que cultivei, durante mais de quarenta anos, permite-me responder de um modo afirmativo a este questionamento em “Nos palcos da Ciência”. E foram estas sensações estéticas do ato criativo que se revelaram "força motriz" para no meu percurso científico pugnar pelas minhas ideias no seio dos paradigmas vigentes», realça.

Regressando a Jorge Calado, Sebastião Formosinho acentua que «a diferença entre arte e ciência é que a primeira não necessita de ser verdadeira; basta-lhe apenas ser bela ou perturbante».

«Sem dúvida, as sensações estéticas em ciência não são uma garantia de verdade. Mas se recordarmos a asserção de Francis Bacon em "Novum Organum" - “A verdade emerge mais facilmente do erro do que da confusão” -, somos levados a concluir que o pitoresco ou o belo em ciência nos colocam na senda da verdade ao permitir-nos superar a “confusão”», conclui Sebastião Formosinho.

Editada pela Imprensa da Universidade de Coimbra e apresentada por Carlos Fiolhais, a obra "Nos palcos da Ciência: Uma apreciação estética da heterodoxia científica" percorre a carreira científica do autor, galardoado com os prémios Gulbenkian da Ciência, Estimulo à Excelência (Fundação Ciência e Tecnologia), e Inventa (Caixa Geral de Depósitos), pelas patentes de que é coinventor.

Em setembro de 2013, Sebastião Formosinho proferiu a "Última Lição" no Departamento de Química da Universidade de Coimbra.

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 19.05.2016

 

Título: Nos palcos da ciência: uma apreciação estética da heterodoxia científica
Autor: Sebastião J. Formosinho
Editora: Imprensa da Universidade de Coimbra
Páginas: 259
ISBN: 978-989-26-0997-3

 

 
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Se recordarmos a asserção de Francis Bacon em "Novum Organum" - “A verdade emerge mais facilmente do erro do que da confusão” -, somos levados a concluir que o pitoresco ou o belo em ciência nos colocam na senda da verdade ao permitir-nos superar a “confusão”,
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