«Muito medo, ainda estamos em choque»: quem o testemunha é o P. Marwan Mouawad ao recordar o que aconteceu quando, ao celebrar a missa, as explosões ocorridas no porto de Beirute fizeram cair sobre ele e a assembleia o teto da igreja maronita de S. Maroun-Bouchrieu, imagens que deram a volta ao mundo nas redes sociais.
O vídeo mostra o P. Rabih Thoumy que estava a incensar, com um turíbulo, o altar e a assembleia, quando, repentinamente, se ouve um estrondo e a onda de choque atinge a igreja. O sacerdote corre para se proteger, ao mesmo tempo que pedaços de vitrais e da construção caem de cima. A câmara também é atingida, detendo-se focada em detritos que cobrem o chão. O sacerdote e uma religiosa sofreram ferimentos sem gravidade.
As comunicações telefónicas na área próxima do porto continuam muito afetadas. Entre uma chamada e outra, o P. Mouawad, que na ocasião estava na celebração, mas não se vê nas imagens, relata: «O Líbano, neste momento, está em confinamento [por causa do Covid-19], e também a nossa diocese pediu para que se fechassem as igrejas e que as missas fossem transmitidas através dos meios de comunicação».
«Era uma quarta-feira, 4 de agosto, e, como sempre, estávamos a celebrar a missa às 18h00. Estávamos sós no início da celebração quando sentimos como que um terramoto. A igreja começou a tremer. Por isso foi espontâneo olhar para cima, com o temor de que o teto viesse abaixo, convencidos de que se tratava de um abalo sísmico. A determinada altura até as luzes se apagaram», afirma.
Depois, a sucessão de acontecimentos precipitou-se sobre as oito pessoas que estavam no interior da igreja: «Vimos os vidros a quebrar-se e os estilhaços começaram a atingir-nos. A onda de choque arremessou na nossa direção a porta lateral da igreja, que estava fechada. Começámos a gritar. Nesse momento, uma onda de choque atirou-nos para outro lado, e caímos por terra. Tivemos medo».
A igreja localiza-se a três quilómetros do porto. A onda de choque causou danos significativos não só no interior da igreja, como em todas as casas do bairro: «Foi terrível, inacreditável. Os paroquianos tiveram muito medo, estamos todos chocados por aquilo que aconteceu».
O pároco acrescenta que, nestes dias, a comunidade procura, antes de tudo, descobrir quem continua ferido e precisa de alguma coisa. «E depois estamos à procura de meios para reconstruir aquilo que foi destruído».
O sacerdote não tem ilusões sobre a dificuldade da reconstrução, «até porque, precisamente neste momento, o Líbano estava a passar por um momento muito difícil, por causa de uma crise que está a atingir o país a nível económico, social, político. As pessoas perderam o trabalho, e por isso estas explosões atingiram duramente um povo já sofredor e pobre».
«Só a fé nos salva, e nos salvará de todos os males, como dizia S. Paulo, somos o povo da vida, pela graça de Deus. No meio de toda esta destruição que vemos à nossa volta, aquilo que permanece vivo hoje, no Líbano, é só a fé», sublinha.
´Mas como a ajuda de Deus passa pela generosidade humana, o P. Mouawad lança um apelo: «No Líbano vivem cristãos, que partilham convosco a mesma fé e a mesma identidade da Igreja universal unida ao papa. Agora precisamos de vós, da vossa ajuda, da vossa oração. Precisamos de todo o vosso apoio para permanecer no Líbano e não deixar esta terra. O Médio Oriente não pode perder esta presença. Precisamos da vossa ajuda económica para continuar a viver a fé aqui».
Entre as ajudas económicas enviadas para o Líbano incluem-se os donativos de 250 mil euros pelo papa Francisco, e de um milhão de euros através da Conferência Episcopal Italiana.