«Por que razão os médicos se opõem? A Associação Médica Mundial ou a Ordem dos Médicos? Será apenas por serem todos religiosos conservadores? Por que motivo há médicos de esquerda que se opõem?»
Estas são algumas das várias perguntas que o jornalista e escritor Henrique Monteiro coloca como artigo principal na página que o “Expresso” lhe reserva semanalmente, e para as quais avança algumas respostas, ao contrário dos questionamentos com que conclui o texto.
«A minha pista é que compreendem duas coisas: que a ideia da agonia antes da morte é do tempo de outra medicina e que a eutanásia vai sobrar para os desprotegidos», assinala, depois de ter manifestado idêntica posição contra a eutanásia no 13.º Encontro Nacional de Referentes da Pastoral da Cultura, realizado a 25 de janeiro.
«A favor da eutanásia diz-se que todos têm o direito de morrer com dignidade e menor desconforto possível. Ninguém discorda. Isso é possível? Penso que sim, com as novas técnicas paliativas. Mas quantas pessoas têm acesso aos cuidados paliativos?», pergunta.
Henrique Monteiro lembra que menos de uma pessoa em cada quatro têm, em Portugal, acesso aos cuidados paliativos, recorda o «triste abandono» de pessoas nos hospitais, e destaca que se «tornou norma médica a oposição à distanásia ou prolongamento inútil de tratamentos».
«Somos a última palavra no que respeita à nossa vida e ao nosso corpo? Não somos! Nem quem defende a lei o proclama, caso contrário dispensaria, médicos e trapalhada burocrática. Dava, pura e simplesmente, o “comprimido do não dia seguinte” que na Holanda se debate para os maiores de 70 anos fartos da vida (e alguém sabe o que é estar farto da vida, coisa que se está num momento e se deixa de estar noutro?), observa.
O texto termina com três interrogações: «Qual o caminho da medicina e da farmacêutica quando o negócio estiver, não em salvar vidas, mas em terminar com elas? Quando o essencial da assistência for ajudar a morrer e não a viver? Que irá acontecer aos abandonados, aos que ocupam camas três meses?».
Há três anos, Henrique Monteiro tinha declarado que «a eutanásia (por muito que queira dizer boa morte) é um ato de suicídio, no sentido em que a vida deixa de interessar, ou pesa menos na balança do deve e haver entre vida e morte».