A mesa é o lugar privilegiado para celebrar a passagem da morte de Jesus à sua ressurreição, mas sobre ela não se começam por dispor ovos e coelhos de chocolate, ou carnes e doces, nem sequer o tradicional folar: na ementa da refeição pascal estão palavras e gestos, que preparam e estimulam prodígios de conversão, vizinhança e caridade.
«Nas casas e nas famílias, a mesa é o lugar da partilha do pão e do dom da comunhão. A mesa continua a ser o lugar do dom da Páscoa: mesa da Palavra, mesa da Eucaristia e mesa da caridade fraterna. Aqui acontece o milagre da fraternidade cristã», apontam os bispos de Portugal na mensagem para a Páscoa.
Com efeito, «a mesa com Cristo» não resulta em estômagos cheios e pesados de banquetes fartos, mas impele «à missão e à proximidade com quantos são atingidos pela pandemia e sofrem nos lares, nos hospitais e nas instituições, pedindo a bênção de Deus e a recuperação da saúde e da esperança».
«Continuamos a partilhar, igualmente, a dor das famílias que perderam os seus entes queridos, confiando-os aos braços misericordiosos do Ressuscitado, assim como a angústia dos que perderam ou viram substancialmente reduzidos os seus rendimentos necessários a uma vida condigna», escreve o Conselho Permanente do Episcopado.
A quem se interroga, com inquietação ou ironia, sobre onde está Deus na doença e na morte, os prelados reiteram: «É nos gestos de amor, de partilha, de serviço, de encontro, de fraternidade, que encontramos Jesus Cristo vivo, a transformar e a renovar o mundo».
Por isso, a Conferência Episcopal renova a «gratidão pela heroicidade e dedicação à dignidade da vida humana: aos profissionais de saúde e de segurança, aos voluntários e a todas pessoas que fazem avançar a história da humanidade nos serviços essenciais e quotidianos ao bem comum».
Aos católicos, particularmente, a mensagem acentua que «o encontro com o Ressuscitado transfigura o coração e é a razão para acolher o precioso dom e o compromisso da fraternidade e do cuidado integral».
Por esse motivo, «a fé, a esperança e a caridade que nascem e renascem da Páscoa frutificam» quando os crentes se «tornam mais irmãos e cidadãos mais ativos para se realizar a justiça e a paz, o perdão e o amor».
«Desta crise temos de sair melhores», e ela constitui «um desafio à coragem criativa e à confiança crente», frisa o Episcopado, que salienta a importância da «esperança da Páscoa», porque «sem ela a vida torna-se árida, insuportável, sem sentido». E remata: «Para todos existe a possibilidade de reencontrar a esperança, porque Cristo é a nossa Páscoa e a nossa paz».