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Jovens querem «uma Igreja que escute mais» e «não passe a vida a condenar», diz papa na exortação “Cristo vive”

«Os jovens reclamam uma Igreja que escute mais, que não passe a vida a condenar o mundo. Não querem ver uma Igreja calada e tímida, nem tampouco que esteja sempre em guerra por dois ou três temas que são para ela uma obsessão», assinala o papa na exortação apostólica “Cristo vive”, divulgada hoje pelo Vaticano.

Francisco defende que «para ser credível frente aos jovens, [a Igreja] por vezes, precisa de recuperar a humildade e de simplesmente escutar, reconhecer naquilo que os outros dizem alguma luz que a ajude a descobrir melhor o Evangelho».

«Uma Igreja na defensiva, que perde a humildade, que deixa de escutar, que não permite que a ponham em questão, perde a juventude e converte-se num museu. Como poderá acolher, desse modo, os sonhos dos jovens?», questiona, antes de observar: «Mesmo que detenha a verdade do Evangelho, isso não significa que a tenha compreendido plenamente; pelo contrário, deve crescer continuamente na compreensão desse tesouro inesgotável».

No documento dirigido aos «jovens cristãos» e «a todo o Povo de Deus», porque a reflexão sobre a juventude «convoca e estimula a todos», o papa declara que se deixou «inspirar pela riqueza das reflexões e dos diálogos do Sínodo do ano passado», que de 3 a 28 de outubro debateu, no Vaticano, o tema “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”.



São os jovens que podem ajudar a Igreja «a manter-se jovem, a não cair na corrupção, a não desistir, a não se orgulhar, a não se converter em seita, a ser mais pobre e testemunhal, a estar próxima dos últimos e dos descartados, a lutar pela justiça, a deixar-se interpelar com humildade»



«A minha palavra estará carregada de milhares de vozes de crentes do mundo inteiro que fizeram chegar as suas opiniões ao Sínodo. Mesmo os jovens não-crentes, que quiseram participar com as suas reflexões, apresentaram questões que suscitaram em mim novas interrogações», assinala.

O texto, que seguramente inspirará a próxima Jornada Mundial da Juventude, que Lisboa vai acolher em 2022, é composto por 299 números, divididos em nove capítulos: «O que diz a Palavra de Deus sobre os jovens?», «Jesus Cristo sempre jovem», «Vós sois o agora de Deus», «O grande anúncio para todos os jovens», «Caminhos de juventude», «Jovens com raízes», «A Pastoral dos Jovens», «A vocação» e «O discernimento».

O «ambiente digital», «os migrantes» e o imperativo de «pôr termo a todo o tipo de abusos», com a convicção de que a «praga do clericalismo» é «o terreno fértil» para todas as «abominações», são questões especialmente desenvolvidas na exortação.

São os jovens que podem ajudar a Igreja «a manter-se jovem, a não cair na corrupção, a não desistir, a não se orgulhar, a não se converter em seita, a ser mais pobre e testemunhal, a estar próxima dos últimos e dos descartados, a lutar pela justiça, a deixar-se interpelar com humildade. Eles podem conferir à Igreja a beleza da juventude quando estimulam a sua capacidade de se alegrarem com aquilo que começa, de se darem sem recompensa, de se renovarem e de partirem de novo para novas conquistas», acentua.



«Eu tenho aprendido a chorar? Eu tenho aprendido a chorar ao ver uma criança com fome, uma criança drogada na rua, uma criança que não tem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança usada como escrava por uma sociedade? Ou o meu pranto é o pranto caprichoso daquele que chora porque gostaria de ter mais qualquer coisa?»



Francisco revela que no Sínodo «foi reconhecido que um número consistente de jovens, por razões muito distintas, não pedem nada à Igreja porque não a consideram significativa para a sua existência», o que em parte de deve «aos escândalos sexuais e económicos», à «falta de preparação dos ministros ordenados, que não sabem captar adequadamente a sensibilidade dos jovens», ao «pouco cuidado na preparação da homilia e na explicação da Palavra de Deus», ao «papel passivo atribuído aos jovens dentro da comunidade cristã» e à «dificuldade da Igreja em dar razão das suas posições doutrinais e éticas à sociedade contemporânea».

A mãe de Jesus, Maria, S. Sebastião, S. Francisco de Assis, Santa Joana d’Arc, Beato Andrés Phû Yên, Santa Catarina Tekakwitha, São Domingos Sávio, Santa Teresa do Menino Jesus, Beato Zeferino Namuncurá, Beato Isidoro Bakanja, Beato Pier Giorgio Frassati, Beato Marcel Callo e a Beata Chiara Badano, originários de vários continentes, são apontados como exemplos de santidade entre os jovens.

Estas figuras mostram que, no seu tempo como agora e para sempre, o entusiasmo pela «vida comunitária» incentiva «grandes sacrifícios pelos outros», e, pelo contrário, o «isolamento» enfraquece e expõe o ser humano «aos piores males».

O documento recorda que «a Igreja sempre quis desenvolver espaços para a melhor cultura dos jovens» e vinca que «não deve renunciar a fazê-lo, porque os jovens têm direito a ela». E acrescenta: «Hoje em dia, sobretudo, o direito à cultura significa proteger a sabedoria, quer dizer, um saber humano que humaniza».

A exortação reconhece a existência de «uma pluralidade de mundos jovens» e pede aos católicos que não se acostumem aos «dramas» da juventude, «porque quem não sabe chorar não é mãe».



«Aquilo de que tu te enamoras prende a tua imaginação e acaba por ir deixando a sua marca em tudo. Será isso que decidirá aquilo que te tira da cama de manhã, aquilo que fazes ao anoitecer, em que empregas os teus fins de semana, aquilo que lês, que conheces, que parte o teu coração e que o faz transbordar de alegria e a gratidão. Enamora-te!»



«Eu tenho aprendido a chorar? Eu tenho aprendido a chorar ao ver uma criança com fome, uma criança drogada na rua, uma criança que não tem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança usada como escrava por uma sociedade? Ou o meu pranto é o pranto caprichoso daquele que chora porque gostaria de ter mais qualquer coisa?», interroga.

Se és jovem de idade, mas te sentes débil, cansado ou desiludido, pede a Jesus que te renove. Com Ele, não falta a esperança. O mesmo podes fazer se te sentes submergido nos vícios, nos maus costumes, no egoísmo ou na comodidade doentia. Jesus, cheio de vida, quer ajudar-te para que ser jovem valha a pena. Assim não privarás o mundo daquele contributo que só tu lhe podes dar, sendo único e irrepetível como és.

Com efeito, a «primeira verdade» a anunciar é esta: «Deus ama-te. Se já o escutaste, não importa, eu quero recordar-to: Deus ama-te. Nunca o duvides, suceda o que te suceder na vida. Em qualquer circunstância, tu és infinitamente amado».

«Procuras paixão? Como diz aquele belo poema: Enamora-te! (ou deixa-te enamorar), porque nada pode ser mais importante do que encontrar Deus. Quer dizer, enamorar-se dele de uma forma definitiva e absoluta. Aquilo de que tu te enamoras prende a tua imaginação e acaba por ir deixando a sua marca em tudo. Será isso que decidirá aquilo que te tira da cama de manhã, aquilo que fazes ao anoitecer, em que empregas os teus fins de semana, aquilo que lês, que conheces, que parte o teu coração e que o faz transbordar de alegria e a gratidão. Enamora-te! Permanece no amor! E tudo será diferente», desafia Francisco.

O papa conclui a exortação com uma certeza e um pedido: «A Igreja precisa do vosso entusiasmo, das vossas intuições, da vossa fé. Fazeis-nos falta! E quando chegardes onde nós ainda não chegámos, tende paciência para esperar por nós».


 

Rui Jorge Martins
Fonte: "Cristo vive", ed. Paulinas Editora
Imagem: D.R.
Publicado em 02.04.2019

 

 
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