“A papoila e o monge” e “Estação central”, publicados pela Assírio & Alvim, são os dois livros de poesia de José Tolentino Mendonça candidatos ao Prémio Literário Casino da Póvoa 2015, que conta com um total de 13 finalistas.
A obra vencedora vai ser anunciada a 26 de fevereiro, na cerimónia de abertura da 16.ª edição do encontro “Correntes d’escritas – Encontro de escritores de expressão ibérica”, que decorre até ao dia 28 do mesmo mês na Póvoa de Varzim, revelou o município na sua página.
O júri, constituído por Afonso Cruz, Almeida Faria, Ana Paula Tavares, Maria Flor Pedroso e Valter Hugo Mãe, selecionou 13 finalistas de uma lista de cerca de 80 livros de poesia.
“Aprendiz de dourado” (Renato Filipe Cardoso), “Aprendizagem balnear” (João Rios), “Categorias e outras paisagens” (Fernando Echevarría), “Como uma flor de plástico na montra de um talho” (Golgona Anghel), “Equatorial” (Fabiano Calixto), “Gaveta do fundo” (A.M. Pires Cabral), “Jóquei” (Matilde Campilho), “Navegação de acaso” (Nuno Júdice), “Nó” (Daniel Jonas), “O vidro” (Luís Quintais) e “Os caminhos habitados” (Fernando Guimarães) constituem as outras obras finalistas.
Remontando a 2003, o Prémio Literário Casino da Póvoa distingue anualmente uma obra em português, editada em Portugal, escrita por autores de língua portuguesa, castelhana e hispânica.
A concurso estão obras publicadas em Portugal (1.ª edição), editadas entre julho de 2012 e junho de 2014, excluindo obras póstumas, obras completas e complicações, ficando excluídos livros cujo autor tenha sido galardoado com o prémio nos últimos seis anos.
O prémio, que em 2015 tem o valor de 20 mil euros e é entregue no último dia do “Correntes d’escritas”, é atribuído nos anos pares a novela/romance, e nos anos ímpares a obras de poesia.
Em 2007, o padre José Tolentino Mendonça, anterior diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, foi também finalista do prémio Casino da Póvoa, com o livro “A estrada branca”.
De “Estação central” (2012):
Isto é o meu corpo
O corpo tem degraus, todos eles inclinados
milhares de lembranças do que lhe aconteceu
tem filiação, geometria
um desabamento que começa do avesso
e formas que ninguém ouve
O corpo nunca é o mesmo
ainda quando se repete:
de onde vem este braço que toca no outro
de onde vêm estas pernas entrelaçadas
como alcanço este pé que coloco adiante?
Não aprendo com o corpo a levantar-me
aprendo a cair e a perguntar.
Patti Smith explica o Cântico dos Cânticos
Deitamo-nos juntos na noite ilegal
trespassados por faíscas de prata
Talvez fôssemos sem saber nessa hora
a senha aguardada por mundos futuros
Talvez desvendássemos um centro para as rosas
e agora é de lá que partem os comboios
a decidir o curso dos impérios
Pouco importa que tenha chegado a aurora
aos bares que cumprem horário noturno
e o cheiro dos desinfetantes mostre
como se apagam
os vestígios do amor
Quando Deus vacila em mim
Quando Deus vacila em mim
sem adornos, ataduras, sem outro pretexto
Quando o sinto a ponto de perder-se
na folhagem a meu lado
compreendo o grande mistério
uma lei face à qual as palavras
não servem
Deus abraça o meu vazio profundamente grato
Abraça a imundície de todos os seus filhos
e continuamente declara-os bem-aventurados
Pois Deus sendo casto deixa-se consumir
com a paixão insultuosa
dos devassos
A janela iluminada
Não chames ao mundo morada, não lhe dês um nome
pois falhas a tua primavera
as sugestões atmosféricas tornam as paisagens equívocas
e nunca chegamos a perceber
como avança uma história
ou uma tempestade
Diante da janela iluminada
acredita apenas na duração
do amor
Rui Jorge Martins