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Jogos Olímpicos: O mundo do desporto fez a sua parte, agora é a vez dos políticos

Após 17 dias de competições, caiu a cortina das 23ªs. Olimpíadas de inverno, realizadas em PyeongChang, Coreia do Sul, que contaram pela segunda vez consecutiva com a presença da Santa Sé – após o Rio de Janeiro.

Entrevista ao P. Melchor Sánchez de Toca, representante do Vaticano e sub-secretário do Conselho Pontifício da Cultura, que além das cerimónias protocolares tomou parte nas conferências que decorreram no âmbito das Sessões dos Jogos Olímpicos.

 

O relacionamento entre o Comité Olímpico Internacional (COI) e a Igreja aponta para um relacionamento estável a curto prazo?<

A natureza oficial da nossa presença em PyeongChang fortalece a nossa cooperação mútua em curso e vai na direção de um relacionamento estável. Nada impede um acordo permanente no futuro - provavelmente através do Conselho Pontifício para a Cultura - que regule a cooperação entre a Santa Sé e o COI.

Embora não seja uma relação intergovernamental, é de grande importância, pois esta é a autoridade suprema do desporto mundial.

 

Como foi recebido?

No início a presença de um sacerdote nos trabalhos das sessões foi vista com certa surpresa por parte dos delegados; depois, quando se soube que se tratava de uma delegação do Vaticano, o sentimento de surpresa transformou-se num caloroso acolhimento. Acredito que todos apreciaram a nossa presença.

 

Quais os principais temas abordados?

As sessões do COI constituem o mais alto órgão de governo da organização. Foi uma reunião de dois dias com uma agenda muito ocupada.

As sanções contra o Comité Olímpico da Rússia, resultantes da «manipulação sistemática» do sistema antidoping nos Jogos de Sochi, foram o primeiro tema da agenda, juntamente com a decisão de permitir que atletas sem histórico de doping compitam como neutros.

Outro assunto foi a agenda de 2020, com o objetivo de tornar os Jogos mais sustentáveis, transparentes e próximos da cidadania, começando com os procedimentos de candidatura, que devem envolver instituições, bem como a população como um todo, e a possibilidade de reutilizar instalações desportivas assim que os Jogos terminem.

Outras questões incluíram a questão da igualdade de género - não só nas competições desportivas, mas também nos órgãos de governo - e os Jogos Olímpicos da Juventude que, após a edição de outubro de 2018 em Buenos Aires, serão realizados em África em 2022, numa cidade ainda por decidir.

 

Testemunhou uma cerimónia de abertura que ficará para a história. Como foi?

Quando a equipa anfitriã desfilou não apresentando a sua própria bandeira, mas a da Coreia unida, um contorno azul da península coreana sobre fundo branco, foi um momento muito emocionante para todos, especialmente para os coreanos, que experimentam a separação do país como algo não natural, uma ferida aberta infligida há mais de 60 anos.

O presidente da República, Moon Jae-in, lembrou que, devido à divisão, tornou-se filho de refugiados. Muitas famílias na Coreia do Sul têm parentes do outro lado. Também o presidente Bach, cidadão alemão, lembrou o seu passado como atleta num país dividido [República Federal da Alemanha e República Democrática da Alemanha, antes da queda do Muro de Berlim].

O desfile conjunto testemunhou o sucesso da diplomacia desportiva, também experimentado noutras ocasiões, e que, diante da escalada das declarações de guerra, mostrou aos líderes políticos uma saída.

Nesta perspetiva, Bach disse que o desporto não pode criar a paz, mas pequenos sinais como este podem abrir-lhe caminho. Ele ressaltou que os atletas têm desempenhado o seu papel nesse sentido. Na cerimónia de encerramento, ele afirmou que o desporto pode unir e construir pontes. Ele definiu-os como «Jogos dos novos horizontes» e assegurou que o COI irá seguir o caminho do diálogo olímpico. Por seu lado, Moon Jae-in aceitou o convite para visitar Pyongyang após o fim dos Jogos.

Estes são pequenos sinais e canais de diálogo que nos dão esperança. O mundo do desporto tem desempenhado o seu papel, agora cabe aos líderes políticos tirarem o máximo dessa abertura.

 

Muitos países do mundo e uma paisagem religiosa policromática: qual foi a sua experiência a nível pessoal, como sacerdote católico?

A vila olímpica teve áreas multiconfessionais com salas dedicadas à meditação e oração, no nosso caso para a celebração da santa missa. O capelão olímpico foi o capelão da equipa nacional coreana, com aproximadamente cem atletas, 15 dos quais católicos, mas algumas equipas tinham o seu próprio capelão.

Como era necessário um convite oficial para entrar na vila olímpica, celebrava missa todos os dias no meu quarto. Então, alguns membros do COI perguntaram-me se eu poderia celebrá-la para todos; no último dia da minha estadia aqui celebrei missa num quarto de hotel com cerca de 30 pessoas.

 

É possível encontrar Deus nos Jogos Olímpicos?

Deus pode ser encontrado em todos os lugares, o Senhor nunca está distante do coração que o procura.

Os Jogos Olímpicos também são um momento oportuno para o encontro com Deus. Enquanto de um lado há um grande foco no corpo, envolvendo uma grande quantidade de adrenalina e energia física que nem sempre é canalizada na direção certa, por outro há a solidão que os atletas individuais enfrentam antes da competição e, em caso de derrota, a humilhação do fracasso. Estes são momentos propícios para encontrar Deus, como a alegria da vitória e a indescritível emoção transmitida pelo desporto a todos aqueles que o praticam e seguem.

 

As Olimpíadas da Juventude de 2018 serão realizadas em Buenos Aires, de 6 a 18 de outubro. Vai estar presente?

Esperamos que sim. Nós despedimo-nos com as palavras «vejo-o em Buenos Aires». Esses Jogos têm um significado especial para nós porque terão lugar em Buenos Aires e porque serão realizados simultaneamente com o sínodo para jovens. Os valores do movimento olímpico e dos valores evangélicos convergem.

Estaremos presentes nos Jogos na Argentina com uma pequena conferência que estamos a trabalhar com o COI sobre o tema de fé e desporto, uma abordagem inter-religiosa.



 

Giovanna Pasqualin Traversa
In SIR
Trad. / edição: SNPC
Publicado em 27.02.2018 | Atualizado em 10.10.2023

 

 
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