Jesus e mulher adúltera (det.) | Lorenzo Lotto | Museu do Louvre, Paris, França
O papa criticou hoje a insensibilidade à fragilidade humana e a prontidão para sentenciar castigos, comparando-os com trechos da Bíblia que apelam à conversão e manifestam a ternura de Deus para com o ser humano.
No Salmo 95 (94), proposto no início de cada dia antes da oração da Liturgia das Horas, Deus exorta os fiéis a não endurecerem o coração, e com o profeta Ezequiel faz «uma promessa belíssima»: tornar o coração de pedra noutro de carne, ou seja, apontou Francisco, «que saiba escutar» e «receber o testemunho da obediência».
«E isto faz sofrer muito, muito, a Igreja: os corações fechados, os corações de pedra, os corações que não querem abrir-se, que não querem ouvir; os corações que só conhecem a linguagem da condenação», frisou o papa, citado pela Rádio Vaticano.
As pessoas que «sabem condenar» são incapazes de perguntar: "'Explica-me, porque dizes isto? Porquê isto? Explica-me'. Não: estão fechadas. Sabem tudo. Não precisam de explicações», acrescentou.
Quem são os dois discípulos de Jesus que seguem a caminho de Emaús e que o acolhem no percurso, não o reconhecendo ressuscitado? «Somos nós», apontou o papa, pessoas «com muitas dúvidas, muitos pecados», que muitas vezes se querem afastar da cruz, «das provações».
Francisco relembrou o episódio da mulher apanhada em adultério, que responsáveis religiosos queriam apedrejar, conforme a lei, e a quem Jesus responde «olhai para dentro de vós»: «Cada um de nós entra num diálogo entre Jesus e a vítima dos corações de pedra, a adúltera».
«Hoje, olhemos para esta ternura de Jesus: a testemunha da obediência, a Grande Testemunha, Jesus, que nos deu a vida faz-nos ver a ternura de Deus em relação a nós, aos nossos pecados, às nossas fragilidades», convidou.
A terminar, o papa lançou uma sugestão para a oração: «Entremos neste diálogo e peçamos a graça que o Senhor suavize um pouco o coração destes rígidos, daquela gente que está sempre fechada na Lei e condena tudo o que está fora de Lei».
«Não sabem que o Verbo veio em carne, que o Verbo é testemunha de obediência. Não sabem que a ternura de Deus é capaz de mudar um coração de pedra e colocar no seu lugar um coração de carne», concluiu Francisco.