«Quando a Igreja toma consciência de que a cultura e a poesia põem o ser humano no caminho de Deus, pode fazer alguma coisa pela religião e pela cultura», considera José Mattoso, que este sábado, 1 de junho, recebe em Fátima o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes, atribuído pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.
O historiador está convicto de que «se a Igreja não ocupar o seu lugar [no mundo da cultura], vai perder cada vez mais fiéis», e sublinha que «aqueles que ouvem a voz de Jesus não podem deixar de responder ao Evangelho, e isso é estar presente no mundo de hoje».
Em entrevista ao Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, a Renascença e a Agência Ecclesia, José Mattoso falou da hospitalidade que os católicos devem à diversidade, do concílio Vaticano II que ainda tem muito para dar à Igreja, das tendências que ameaçam o mundo, e da gratidão a Deus pela vida.
A Igreja continua a ser um interlocutor válido para o ser humano, que anseia sempre «por alguma coisa mais do que a subsistência, mais do que passar pela existência como se fosse um carrossel», e nessa demanda encontra «na arte aquilo que está para além da mesquinhez do homem».
O predomínio do digital e o ascendente do dinheiro sobre a sociedade - «a economia que mata», assinala, citando o papa Francisco –, são preocupações que o inquietam, a par dos antagonismos «sem retorno» entre países, que podem conduzir «à destruição».
Passados mais de 50 anos sobre a conclusão do Vaticano II, ainda está «imenso» por cumprir, como, por exemplo, a «incapacidade» da Igreja para «acolher e defender os pobres».
À Igreja falta também aprender «o acolhimento de uma diferença que não se sabe o que vai ser», a busca da «criatividade», o gosto por «estimular a complementaridade».
No catolicismo como na sociedade, há uma «sabedoria» que passa por «não recorrer a extremos, dialogar, multiplicar possibilidades, para encontrar novos caminhos, completar o que está incompleto».
Uma frase sintetiza o olhar que José Mattoso pousa sobre os seus 86 anos: «Dou cada vez mais graças à vida, que me deu tanto».
A cerimónia de entrega do prémio, que consiste na escultura “Árvore da Vida”, de Alberto Carneiro, e o valor pecuniário de 2.500 euros, patrocinado pelo grupo Renascença, realiza-se este sábado, em Fátima, pelas 16h30, na casa Domus Carmeli, concluindo o programa da 15.ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, dedicada ao tema “A Mulher na Sociedade e na Igreja”.
O júri da edição de 2019 foi constituído pelos bispos D. João Lavrador, presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, e D. Américo Aguiar, presidente do Conselho de Gerência da Renascença, P António Trigueiros, S.J., Maria Teresa Furtado, Guilherme d’Oliveira Martins e José Carlos Seabra Pereira.
Nas edições anteriores, o Prémio galardoou o poeta Fernando Echevarría, o cientista Luís Archer S. J., o cineasta Manoel de Oliveira, a classicista Maria Helena da Rocha Pereira, o político e intelectual Adriano Moreira, o trabalho de diálogo entre Evangelho e Cultura levado a cabo pela Diocese de Beja, o compositor Eurico Carrapatoso, o arquiteto Nuno Teotónio Pereira, o pedagogo Roberto Carneiro, o jornalista Francisco Sarsfield Cabral, a artista plástica Lourdes Castro, o professor de Medicina e Bioética Walter Osswald, o ator e encenador Luís Miguel Cintra e o ator Ruy de Carvalho.