Cinema
"Guia para um final feliz": saber olhar o futuro com esperança após a perda, ausência e frustração
A vida tranquila de Pat acabou no dia em que descobriu que a mulher o traía. O estado de infelicidade e depressão leva-o a interromper a carreira de professor e ao internamento numa clínica psiquiátrica.
Oito meses passados, instala-se em casa dos pais, ainda pouco convictos da sua total recuperação. No entanto, Pat, que continua a ser acompanhado por um especialista que lhe diagnostica bipolaridade e o sujeita a forte medicação, está plenamente convicto de que o exercício físico e uma atitude positiva para com a vida serão os melhores meios para enfrentar os seus problemas.
Ao conhecer Tiffany, uma mulher atraente que sofreu igualmente de depressão após a morte do marido e leva agora uma vida bastante desorganizada, a afinidade entre os dois, que começa pela entusiástica partilha de nomes de ansiolíticos e antidepressivos, torna-se cada vez mais abrangente e clara.
Reconstruir duas vidas amachucadas não será fácil, mas Pat não desiste das suas premissas positivas na forma como encara a vida e esta nova relação...
Construir de forma consistente uma obra que se debruce sobre um dos maiores e mais comuns problemas que afligem a nossa sociedade - a capacidade de lidar com a perda, a ausência e a frustração – está longe de ser uma tarefa fácil. Mas foi a que assumiu o realizador David O. Russell ao propor-se simultaneamente retratar, convidar à reflexão e divertir os espetadores com a adaptação ao cinema do romance “Silver Linings Playbook” de Matthew Quick (2008).
Num estilo ágil e mais descontraído do que profundo, “Guia para um Final Feliz”, cujo título adotado em português perverte pela fraca acuidade o original – transformando uma simples sugestão de otimismo para com o inesperado num pretenso ‘livro de instruções para uma felicidade garantida’ -, é uma simpática abordagem à forma como lidamos com os nossos problemas.
Do ímpeto de evasão à procura dos paliativos mais imediatos, do desmoronamento à reconstrução da relação a dois, da dúvida e do pessimismo à convicção e à esperança em melhores dias, tudo começando no princípio de que é de dentro de nós que parte a solução, eis um filme que de forma suave é capaz de tocar questões importantes que fazem parte do nosso dia-a-dia – questões nossas ou dos que nos rodeiam.
No início da ronda anual de premiações americanas, “Guia para um Final Feliz” consta já de uma longa lista de galardões, incluindo a nomeação aos Globos de Ouro nas categorias de Melhor Filme, Melhor Argumento e Melhor Ator e Atriz principais (Bradley Cooper e Jennifer Lawrence).
Margarida Ataíde
Grupo de Cinema do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura
In Agência Ecclesia / Com SNPC
14.01.13