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Goa, pulmão do catolicismo na Ásia

Goa, ex-colónia portuguesa que agora ocupa uma das praias mais famosas da Índia, continua a promover o cristianismo na Ásia como parte de seu legado colonial, de acordo com o arcebispo emérito de Goa e Damão, Raul Gonsalves.

O prelado de 91 anos está convicto de que os missionários jesuítas, presentes na sua terra natal, situada na costa sudoeste do subcontinente desde o século XVI, ainda têm um efeito de cascata em todo o continente, apesar de alegadas tentativas de, no passado, limpar etnicamente a área, afastando os católicos.

O arcebispo acentua que em Goa nasceram bispos para vários países devido ao forte sentido de fé incutido em muitas famílias na região.

Do minúsculo estado indiano saíram cerca de 60 bispos e cardeais para a Índia, Paquistão e África, segundo o P. Joaquim Loiola Pereira, secretário do atual arcebispo de Goa e Damão, D. Filipe Neri Ferrão.

A diocese goesa foi criada a 31 de Janeiro de 1533, 23 anos após os portugueses conquistarem o estado ao derrotar o seu governante muçulmano, Ismail Adil Shah.



O espírito missionário ainda pode ser visto em vários bispos e cardeais que permanecem ativos na Índia e no Paquistão, mas que têm as raízes em Goa. O exemplo mais recente é o cardeal Joseph Coutts, de Carachi, que recebeu o barrete vermelho a 28 de junho



O primeiro padre de Goa, André Vaz, foi ordenado 55 anos depois, em 1558, no contexto de um sentimento geral entre os missionários coloniais de que os locais eram "indignos" de se tornarem sacerdotes, explicou o P. Pereira.

O primeiro bispo do estado foi Matheus de Castro, ordenado em 1637. Desde então, bispos de Goa lideraram muitas dioceses indianas, dado que o estado é um polo do cristianismo na Índia, depois de Kerala, prosseguiu o sacerdote.

Cerca de 500 mil pessoas da população de 1,8 milhão de habitantes de Goa identificam-se como católicas, enquanto na vizinha Kerala a proporção é de 5 milhões de católicos para um total de 36 milhões de pessoas, enquanto que um milhão pertencem a outras denominações cristãs.

O impacto dos dois estados nos assuntos religiosos globais foi sobredimensionado. Por exemplo, existem atualmente 80 bispos nascidos em Kerala ao serviço de várias missões em diversos pontos do globo. Pouco mais da metade (50) desses prelados atuam nas 41 dioceses do estado.

Mas nem sempre foi assim. Durante a era colonial foram proibidos de evangelizar fora do estado, o que diminuiu significativamente a sua influência. Com efeito, o número de bispos nascidos em Kerala só começou a aumentar após o Concílio Vaticano II (1962-1965), que privilegiou o mandato de cada Igreja espalhar a fé.



Entre as figuras religiosas de Goa que se destacaram está Altino Ribeiro de Santana. Foi ordenado sacerdote em outubro de 1938. Aos 39 anos, tornou-se o primeiro padre da arquidiocese de Goa a ser nomeado bispo, tendo sido o primeiro responsável da recém-criada diocese de Sá da Bandeira, em Angola



Em contraste, os portugueses, que governaram Goa durante 450 anos, tinham um mandato de expansão evangélica, juntando-se aos missionários franciscanos, dominicanos, jesuítas e agostinianos.

"Eles fizeram uma expansão missionária através de Goa para a África do Sul, Japão e China", afirmou padre Pereira.

Esse espírito missionário ainda pode ser visto em vários bispos e cardeais que permanecem ativos na Índia e no Paquistão, mas que têm as raízes em Goa. O exemplo mais recente é o cardeal Joseph Coutts, de Carachi, que recebeu o barrete vermelho a 28 de junho.

Coutts é o quinto cardeal com raízes em Goa, seguindo os passos dos cardeais Valerian Gracias, de Bombaim (1900-1978), Joseph Cordeiro, de Carachi (1918-1994), Ivan Dias (1936-2017) e Oswald Gracias (1944).

Entre as figuras religiosas de Goa que se destacaram está Altino Ribeiro de Santana. Nascido em Porvorim, foi ordenado sacerdote em outubro de 1938. Depois de servir como pároco assistente e capelão militar, obteve o doutoramento em teologia na Universidade Gregoriana de Roma.



Para o P. Pereira, as abundantes vocações sacerdotais de Goa derivam em parte da prática das famílias da região, que têm como tradição «oferecer um filho a Deus».



Aos 39 anos, tornou-se o primeiro sacerdote da arquidiocese de Goa a ser nomeado bispo, a 27 de julho de 1955, precisamente a data em que foi criada a diocese de Sá da Bandeira, em Angola, de que viria a ser o primeiro responsável.

Em 1972, D. Altino Santana foi nomeado bispo da diocese de Beira, em Moçambique. Morreu de ataque cardíaco no ano seguinte, na sequência da detonação de uma bomba no lado de fora da sua residência, com a autoria a ser atribuída ao regime militar do governo, numa tentativa de o assustar. Ao tempo abrigava dois padres portugueses acusados ​​de crimes contra o Estado e rotulados como ameaças à segurança.

Depois de o seu corpo ter sido sepultado na Beira, o povo de Sá da Bandeira pediu que os seus restos mortais fossem levados para a cidade onde tinha enriquecido as suas vidas durante 16 anos. O desejo foi correspondido a 4 de abril de 1974.

Voltando a Goa, a aldeia de Aldona é notável por ter servido como o berço de nada menos que seis prelados.

Para o P. Pereira, as abundantes vocações sacerdotais de Goa derivam em parte da prática das famílias da região, que têm como tradição «oferecer um filho a Deus».  

Já o arcebispo Gonsalves sublinha que o florescimento sacerdotal relaciona-se também com a oração: no passado, os católicos em Goa oravam a Deus para ajudá-los a realizar os seus desejos, ao passo que hoje pedem que os ajude a realizar o que vêem como seu mandato.


 

Bosco de Souza Eremita
In UCA News
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: Bigstock.com
Publicado em 10.08.2018 | Atualizado em 06.10.2023

 

 
 
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