Neste tempo em que apoiar o comércio local é uma maneira de ajudar os lojistas a resistir à tempestade provocada pelo Covid-19, uma geladaria escondida à sombra da basílica de S. Pedro tem um fiel cliente especial: o papa Francisco.
A geladaria Padron é tão conhecida no Vaticano, que quando Silvia - a esposa do dono, Sebastian Padron - apareceu aos portões do menor estado do mundo com uma dúzia de empanadas - massa recheada de carne, clássico na Argentina natal de Bergoglio -, ninguém fez perguntas e entregou-as diretamente ao pontífice.
As empanadas são um acrescento recente ao menu da geladaria, na tentativa de manter o negócio a funcionar durante os meses de inverno. Os Padrons deixaram um bilhete com o presente: queriam que o papa soubesse que rezam por ele, e que não se importariam se ele rezasse por eles.
As iguarias foram entregues num sábado, e na terça-feira o papa telefonou aos donos para lhes agradecer e convidá-lo para uma conversa.
«Mal conseguia acreditar no quão pessoal ele estava a ser, quão acessível, humano», comentou Padron, após a conversa de 40 minutos que a sua família teve com Francisco na casa Santa Marta, residência dentro do Vaticano onde Francisco vive desde a sua eleição.
«O santo padre queria saber quando poderíamos ir, com base no horário da loja e na rotina da família, quando, obviamente, sempre que ele nos pudesse receber, poderíamos ir!», acrescentou.
Os Padrons têm dois filhos: Maite, de seis anos, e Luca Marino, de três. Abriram a loja em 2018, e o plano original para este ano era abrir mais uma, dado que o negócio estava em alta - graças à qualidade do produto, do cliente especial do Santa Marta e de um jogador argentino da AS Roma, o clube de futebol mais popular da capital italiana. Mas a pandemia mudou os planos.
Cardeais, bispos e amigos do papa são clientes regulares da loja, e todos sabem que “Dulce de leche granizado” é a única sobremesa que não pode faltar em qualquer encomenda dirigida a Francisco.
Para quem não está familiarizado, o doce de leite é uma pasta semelhante a caramelo, feita com leite, açúcar e extrato de baunilha. Tem pequenas variações e é consumido em vários países da América Latina, mas os argentinos gostam de dizer que o inventaram. O sabor de gelado que o papa prefere inclui minúsculos pedaços de chocolate amargo.
A família Padron chegou à casa Santa Marta a 29 de outubro com um cesto cheia com os seus melhores produtos, incluindo uma garrafa de vinho Malbec argentino, que também está à disposição dos clientes. Para alegria das crianças, o papa também tinha um saco cheio de presentes em troca, contendo terços para cada membro da família e um crucifixo franciscano.
Maite fez um desenho para o papa que, no final do encontro, Francisco levou cuidadosamente consigo, classificando-o de «coisa mais importante» entre os presentes que a família ofereceu.
«Para mim, parecia que ele estava a “desligar-se” por alguns minutos do que significa ser o papa», disse Padron. «Ficámos surpreendidos como ele nos fez sentir bem-vindos, como se estivéssemos a conversar com um velho amigo. Acho que ele também precisava disso, estar entre amigos.»
«A certa altura, o papa reconheceu que era bom para ele estar connosco, quase como se o ajudasse a manter os pés no chão, sentir como se estivesse entre amigos, no seu bairro, no seu país”, afirmou Padron.