Os fogos de artifício que iluminaram os céus de Lecce não foram, este ano, o último ato da festa evocativa dos padroeiros, santos Oronzo, Justo e Fortunato: a Igreja católica local quis deixar como sinal profético um jantar oferecido aos pobres da cidade italiana.
A refeição decorreu na maior igreja barroca de Lecce, situada entre a catedral, que acolheu as celebrações litúrgicas e as devoções populares, e a praça Santo’Oronzo, coração da cidade antiga e cenário dos principais eventos das festividades.
A meio caminho entre as manifestações da fé e a tradição popular, a igreja transformou-se no «cenáculo da caridade» de Lecce, 600 km a leste de Roma, nas costas do mar Adriático. Mais de uma centena de pessoas, italianas e estrangeiras, sentaram-se à mesa preparada na nave central. Voluntários da Cáritas serviram e animaram com música a refeição e a festa.
Não faltou a incursão de turistas que entravam para admirar a jóia barroca e que depois foram convidados a juntar-se à mesa. O presidente da câmara municipal interveio e jantou com os pobres, com o arcebispo e alguns padres.
Que «Lecce se torne a capital da fraternidade», tinha desejado o arcebispo, Michele Seccia, na vigília da festa, na mensagem à cidade que dirigiu da Praça de Sant’Oronzo no final da procissão.
«É a novidade deste ano», sublinhou o prelado antes de abençoar a mesa, fazendo votos de que o jantar se replique noutras ocasiões de festa: «Foi uma maneira de partilhar a alegria da fé e da família cristã através de um gesto simples que aqui é há anos uma vivência diária normal».
«Todos os dias, entre cantinas e refeições ao fim do dia, sem falar do acolhimento noturno na Casa da Caridade e nos outros apartamentos colocados à disposição pela diocese, graças à fileira de voluntários generosos, procuramos tornar a vida menos amarga a centenas de pobres e famílias necessitadas», acrescentou.
Os voluntários provenientes das paróquias da cidade prepararam uma refeição multicultural à base de piza, cuscuz, arroz, parmesão, almôndegas, fruta, vegetais e outros produtos típicos da região e da tradição da festa dos padroeiros.
«Temos um grande respeito pela dignidade destas pessoas em dificuldades, e por isso, à parte o fotógrafo oficial da Cúria diocesana, que obteve algumas imagens para efeitos de documentação, admitimos os repórteres de imagem apenas durante a fase de preparação do jantar», explicou o arcebispo.
A abertura à imprensa não foi «para fazer propaganda», mas porque «de vez em quando algumas “boas notícias” são de grande utilidade para o bem comum e podem arrastar quem ainda não compreendeu que a essência do Evangelho está no mandamento do amor», vincou D. Michele Seccia.