«O avaro vive como pobre e morre rico.» De vez em quando as notícias confirmam factos que se repetem há séculos: o velhinho que pedia esmola às portas de uma igreja morre e na sua casa miserável vêm à luz pacotes de notas e contas bancárias.
Tinha razão S. Bernardo quando definia a avareza como «um contínuo viver na miséria por medo da miséria». E para continuarmos junto dos santos, é conhecida a frase atribuída a Santo António, que a liturgia festeja hoje, perante o funeral de um avaro riquíssimo: «Não conseguirão sepultar o seu coração porque estava demasiado agarrado ao dinheiro».
Acima citei outra frase, semelhante a um provérbio, proposta por um jornalista, Vittorio Buttafava (1918-1983). Todavia, gostaria de acentuar outro tipo de avareza, a dos sentimentos, uma cupidez a que pouco se dá atenção mas de resultados igualmente nocivos.
Tem-se muitas vezes a tentação de negar ao próximo não tanto o dinheiro (um gesto de caridade por vezes não custa muito e põe a consciência em paz) mas sobretudo o próprio tempo na escuta, na proximidade, na ternura.
Paradoxalmente esta avareza é muito mais séria porque recusa não tanto um bem material, ainda que importante, mas uma realidade íntima e profunda que não pode ser adquirida.
Todos, creio, devemos confessar termos dito não a quem queria apenas ouvir-nos ao telefone para ter uma palavra boa, ter evitado quem desejava ser escutado, ter recusado a companhia a uma pessoa só e doente. Também esta é uma avareza mesquinha.