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Dizem e não fazem

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Dizem e não fazem

O Evangelho segundo S. Mateus (23, 1-12) apresenta a repreensão profética de Jesus contra os homens religiosos, advertência a que se seguem, na tradução portuguesa, oito «Ai de vós» (23, 13-36). Jesus ensina-nos como viver no hoje e, portanto, como esperá-lo.

Antes de tudo, é preciso compreender o objetivo da invetiva de Jesus. «Os doutores da Lei e os fariseus instalaram-se na cátedra de Moisés.» Ele visa atingir todos quantos em cada instituição religiosa se comportam, tal como hoje, como “literalistas” (escribas) e duros “rigoristas” (fariseus).

É por isso que S. Jerónimo escreveu: «Ai de nós, miseráveis, que herdámos os vícios dos escribas e fariseus». Para conhecer o seu e o nosso possível retrato, é suficiente glosar as palavras de Jesus, que na sua franqueza são cortantes, e por isso fonte de discernimento, de decisão.

«Dizem e não fazem.» Não há nada pior aos seus olhos. É o exato contrário do estilo com que Jesus viveu: era confiável, credível porque dizia o que pensava e fazia o que dizia. Precisamente desta sua integridade/unidade nascia a sua fascinante autoridade, tão diferente da dos escribas (cf. Mateus 7, 28-29).

«Atam fardos pesados e insuportáveis e colocam-nos aos ombros dos outros, mas eles não põem nem um dedo para os deslocar.» Imagem extraordinária que não precisa de comentários, mas só de um exame de consciência, para evitar esta insuportável duplicidade.

A esta realidade contrapõe-se mais uma vez a prática de Jesus, o nosso único Mestre, o rosto visível do Pai invisível: «Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos. Tomai sobre vós o meu jugo, porque sou manso e humilde de coração e encontrareis descanso para o vosso espírito. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve» (Mt 11, 28-30).

Por fim, Jesus ilumina a motivação profunda do agir hipócrita: «Tudo o que fazem é com o fim de se tornarem notados pelos homens». É a triste e cómica patologia do quererem aparecer bem aos olhos dos outros, do quererem ser reverenciados, prescindindo da própria condição real interior. Sem se darem conta de que, dessa maneira, são «semelhantes a sepulcros caiados, formosos por fora, mas, por dentro, cheios de ossos de mortos e de toda a espécie de imundície» (Mt 23, 27).

Jesus é preciso, desce ao detalhe. «Gostam de ocupar o primeiro lugar nos banquetes»: é o prazer de receber honras dos poderosos deste mundo, de sentir que «nós também contamos». Sem nunca poderem apreciar uma refeição gratuita, de amizade, que não sirva para segundas intenções.

Comprazem-se com os «primeiros lugares nas sinagogas»: é o gosto do aparecer sagrado, que se manifesta na exigência dos lugares eminentes na igreja, no sentar-se em tronos dignos de faraós, e não de serem servos da comunhão fraterna.

«Gostam das saudações nas praças públicas»: serem saudados, não saudar; receber honras ao próprio rosto e não olhar os rostos de quem encontram, rostos que possivelmente precisam apenas de um sorriso, que transmita reconhecimento mesmo sem palavras, possibilidade de levar conjuntamente os pesos da vida. Apreciam «serem chamados “mestres”», não por terem autoridade, mas pelo modo como vivem.

Quem quer a glória por si, «já recebeu a recompensa» (cf. Mt 6, 2.5.16). Mas vale a pena viver assim? Não valerá antes a pena caminhar no sentido oposto, percorrido e traçado por Jesus? «Quem de entre vós é o maior, seja o vosso servo», ou seja, um homem, uma mulher que não gosta de aparecer (por si), mas ser, muitas vezes no escondimento, para os outros.

A cada um de nós cabe a responsabilidade da resposta, no seguimento de Jesus, que vindo ao mundo em carne humana, de rico por nós se fez pobre, para nos fazer ricos da sua pobreza (cf. 2 Coríntios 8, 9).

 

Ir. Ludwig
In "Monastero di Bose"
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 17.12.2015 | Atualizado em 25.04.2023

 

 
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Jesus ilumina a motivação profunda do agir hipócrita: «Tudo o que fazem é com o fim de se tornarem notados pelos homens». É a triste e cómica patologia do quererem aparecer bem aos olhos dos outros, sem se darem conta de que são semelhantes a sepulcros caiados
Quem quer a glória por si, «já recebeu a recompensa». Mas vale a pena viver assim? Não valerá antes a pena caminhar no sentido oposto, percorrido e traçado por Jesus? Isto é, um homem, uma mulher que não gosta de aparecer (por si), mas ser, muitas vezes no escondimento, para os outros
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