O Dia Nacional da Santa Sé na Exposição Universal de Milão, que se assinala esta quinta-feira, 11 de junho, vai ser marcado pela realização de um encontro do Átrio dos Gentios, plataforma da Igreja católica para o diálogo entre crentes e não crentes.
O debate, intitulado "Os rostos da terra", envolve o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho da Cultura e comissário do pavilhão da Santa Sé na exposição, Giuliano Amato, presidente da Fundação Átrio dos Gentios, e Nicolas Hulot, enviado especial do presidente de França para a proteção do planeta.
A agenda deste Dia Nacional compreende um encontro sobre o tema do pavilhão da Santa Sé - "Não só de pão" - e a atuação da Orquestra Sinfónica Esagramma, uma das vertentes do organismo homónimo dedicado à terapia, através da música, de crianças e jovens com autismo, atraso cognitivo e dificuldades de comunicação e relação.
A Exposição Universal de Milão decorre de 1 de maio a 31 de outubro.
Os rostos da terra
Átrio dos Gentios
Desde há milénios que definimos a Terra como "mãe" porque dependemos dos bens que nos oferece. S. Francisco, no "Cântico das Criaturas", recitava: «Louvado sejas meu Senhor, pela nossa irmã Terra", indicando ser mãe generosa, fonte de abundância e riquezas naturais, e dando uma imagem de um mundo sereno e harmonioso graças às fraternidade de todas as criaturas e dos elementos naturais.
Também na tradição judaico-cristã existe uma imagem fecunda e positiva da mãe Terra, motivando dessa maneira uma visão religiosa da maternidade e da corporeidade, que marca profundamente a relação entre os rostos da humanidade e da Terra.
Porém, o rosto da natureza nem sempre se mostra benigno, e na sua longuíssima história a humanidade teve de defender-se de calamidades e de verdadeiras e próprias catástrofes de origem natural. Todavia, a pior calamidade que hoje nos aflige - a insuficiência do alimento e da água para manter vivos todos os habitantes do planeta - não se deve ao rosto "maligno" da Terra.
O próprio papa Francisco, na inauguração da Exposição Universal, dirigiu a todos um chamamento para que se recupere a «consciência dos rostos», começando pelos «rostos de milhões de pessoas que hoje têm fome, que hoje não comeram de modo digno de um ser humano».
O papa denunciou o «paradoxo da abundância", pelo qual, por um lado, a Terra, que permanece sempre como nossa mãe e irmã, continua a oferecer-nos alimentos e água suficiente para todos; por outro lado, assistimos ao escândalo da fome e da desnutrição de populações inteiras, provocadas não pela diminuição dos alimentos, mas por uma distribuição dos bens naturais injusta e desigual.
Trad. / edição: Rui Jorge Martins