Tema: Interiores
Entramos na igreja do Sagrado Coração de Jesus (Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas, 1962-1970) e somos transportados para uma realidade subitamente diferente daquela em que nos encontrávamos momentos atrás – um meio urbano fragmentado, confuso, extremamente dinâmico. Dentro da igreja descobrimos um ambiente de surpreendente tranquilidade e simplicidade.
É uma igreja que, de tão radical e depurada, aparenta não encontrar facilmente sentido na vida da comunidade cristã. Talvez no tempo da Quaresma possamos ver nesta igreja um sentido renovado. Num período em que procuramos a simplicidade no quotidiano pessoal e uma reflexão acerca do essencial, esta igreja parece mostrar-nos uma faceta de deserto quaresmal para onde nos podemos retirar do bulício da cidade, onde podemos procurar profundidade no silêncio. Talvez seja uma experiência arquitetónica ainda hoje radical. Será, no entanto, que podemos procurar-lhe qualidades escondidas a um primeiro olhar? Será que podemos descobri-la como um espaço de reflexão e recolhimento? Como um espaço distante de nós mas ao mesmo tempo próximo, simples mas não vazio, frio mas com luz tépida – de certa forma, nos extremos de uma experiência sensorial, que nos retira eficazmente do espaço quotidiano e das rotinas? Como um deserto, talvez.
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Lisboa | Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas | Fotografia: João Valério (2014) | D.R.
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Lisboa | Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas | Fotografia: João Valério (2014) | D.R.
Igreja do Sagrado Coração de Jesus, Lisboa | Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas | Fotografia: João Valério (2014) | D.R.
João Valério