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Crónica visual do Advento e Natal (2): Philippe de Champaigne e João Batista

Com o seu rigor habitual, Philippe de Champaigne (1602-1674) apoia-se com precisão nos textos evangélicos. A composição ilustra literalmente, e sem sobrecarga narrativa, a missão do último dos profetas, aquele que precede Cristo e anuncia a sua vinda:

«Ao ver Jesus, que se dirigia para ele, exclamou: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo! É aquele de quem eu disse: "Depois de mim vem um homem que me passou à frente, porque existia antes de mim."» (João 1, 29-30)

João Batista ocupa o plano dianteiro da cena, no termo de um caminho apenas sugerido, à frente de Jesus, para quem ele aponta a silhueta irradiante, esboçada como que para evocar a profecia.

O seu gesto eloquente, o braço e o indicador estendidos, é intensificado por um olhar suplicante e pelo anúncio que emana da boca entreaberta - porquanto João dirige-se a mim e fala-me -, e cujas palavras estão transcritas sobre o filactério: «Ecce Agnus (Dei Qui Tolli]t Pecatum Mvn[di]».

Esta interpelação direta do espetador pelos primeiros sentidos da comunicação - o sinal, o olhar, a palavra e a escrita - dá ao quadro uma verdadeira função evangelizadora que ultrapassa a sua materialidade, com o sujeito representado a transcender a representação.

A importância concedida à paisagem e às suas densas frondescências mostra o interesse de Champaigne pelo género naquele momento da sua carreira. Mas esta paisagem também é um elemento importante do discurso. Com efeito, o horizonte deixa adivinhar os contornos azulados de Betânia, e, mais próximo, o curso tortuoso do rio Jordão, aludindo a outra palavra do profeta: «Preparai o caminho do Senhor e endireitai as suas veredas. Toda a ravina será preenchida, todo o monte e colina serão abatidos; os caminhos tortuosos ficarão direitos e os escabrosos tornar-se-ão planos» (Lucas 3, 4-5).

ImagemS. João Batista (Philippe de Champaigne), 1657. Óleo sobre tela (131 x 98 cm). Museu de Grenoble, França

O gesto de João incarna este convite numa síntese tocante. Os jogos de luz, deixando uma parte do seu braço na sombra, participam também da simbólica das Escrituras. Para que Cristo possa encontrar o caminho do nosso coração, é imperativamente necessário que nos voltemos primeiro para Ele, seguindo, de alguma maneira, a direção do dedo apontado pelo profeta.

Por fim, como não ficar impressionado pela sensualidade da figura? Talvez inspirada por modelos de Rafael e de Carrache, este João Batista parece retratado à maneira de um retrato, o rosto plenamente de frente. O seu olhar está cheio de doçura, e ao mesmo tempo é vivo e intenso, acentuando a proximidade com o espetador.

Homem do deserto, homem do absoluto, João é um personagem sem concessões. A interpelação que ele lança no deserto da Judeia volta a ser atualizada neste tempo de Advento, que nos prepara para uma nova vinda de Cristo nos nossos corações. E não é inútil, porque eles estão muitas vezes fechados a esta vinda que coloca em questão as nossas apatias quotidianas.

Este quadro, concluído em 1657, não pode ser lido sem a "Madalena penitente", pintado no mesmo ano, já que ambos deviam ficar colocados um ao lado do outro. As suas iconografias e simbolismos respondem-se e completam-se.

ImagemMadalena penitente (Philippe de Champaigne), 1657. Óleo sobre tela (128 x 96 cm). Museu de Belas Artes, Rennes, França

A conceção de ambos parece estar ligada às circunstâncias da vida do artista, que apresenta aqui uma mensagem de riqueza comparável à beleza pictórica. Quando a sua filha mais velha decidiu votar a sua vida a Deus, retirando-se para um convento, Champaigne oferece-lhe dois dos mais belos exemplos de vocação bíblica e de renúncia: Madalena, incarnando a penitência, e João Batista, representando a fé profética.

Estes modelos de vidas totalmente consagradas a Deus, feitas de rigor e de privação, serão expostas ao olhar das religiosas do convento, no coro da igreja.

Os votos da filha de Champaigne constituíram também uma renúncia para ele próprio, dado que ficará só após as mortes sucessivas da sua mulher (1638), do seu filho mais velho (1642) e da sua filha mais nova (1655).

Deixemos ecoar em nós a interpelação de João Batista que sacode a nossa tibieza, e tenhamos a coragem de mudar alguma coisa no nosso ramerrame quotidiano. Uma maneira de preparar o caminho de Cristo...

 

In Narthex (Conferência Episcopal Francesa)
© SNPC (trad.) | 20.12.13

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João Batista (det.)
Philippe de Champaigne

 

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