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Crentes e não crentes refletem e dão testemunho sobre «a dor inocente»

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Crentes e não crentes refletem e dão testemunho sobre «a dor inocente»

O Átrio dos Gentios, plataforma da Igreja católica para o diálogo entre crentes e não crentes, organiza a 10 e 11 de junho, na cidade italiana de Lecco, um debate sobre «a dor inocente».

O ponto de partida da iniciativa centra-se no «significado a atribuir à dor, em particular quando diz respeito à pessoa inocente», explica a página do Átrio dos Gentios, projeto inspirado pelo papa Bento XVI e confiado ao Conselho Pontifício da Cultura.

«A necessidade de uma reflexão sobre este tema interpela agudamente a consciência do crente, e não menos a do não crente. Tem sentido suportar a dor, a incapacitação, o défice cognitivo, e até que ponto?», questionam os organizadores, pensando nas intervenções programadas.

Perante situações de dor, «a ciência, a filosofia, a religião podem dialogar? Qual é o papel da medicina, da cura e da reabilitação, que liberdade é colocada em jogo?»: estas constituem também perguntas que surgem em torno do tema do encontro.

No primeiro painel, "Ciência e consciência", participa um filósofo que estuda as ligações entre a estrutura da racionalidade e a dimensão moral do agir humano, bem como um biólogo que se ocupa da «ecologia humana à luz das suas implicações para a saúde pública».

«A injustiça da dor emerge fortemente sobretudo em relação ao outro, ao amado: o que é insuportável é a dor do outro, "não é justo; porquê a ele e não mim?". A dor pertence à ordem do inevitável: antes ou depois o sujeito embate na experiência da dor, antes ou depois o sujeito é obrigado a pensar na dor. A reflexão que a experiência da dor suscita não é, portanto, redutível somente aos instrumentos destinados à sua superação», referem os responsáveis pelo encontro.

Segue-se o testemunho de uma jornalista atingida aos 35 anos por esclerose múltipla, que atualmente assina duas colunas na revista "Vanity Fair", sobre temas da atualidade, e é responsável por um blogue ligado ao jornal "Gazzetta dello Sport" que incide sobre deficiência humana.

"A dor inocente" é o título da primeira mesa-redonda da tarde, que juntará, um filósofo e um jornalista e escritor italiano, antes de novo testemunho, pelo espanhol Albert Espinosa, que devido a um tumor perdeu uma perna, um pulmão e uma parte do fígado.

«Diante do tema da dor inocente não há qualquer resposta do ponto de vista humano. Crianças que sofrem, guerras que atingem os civis. Doenças que atacam os corpos com ferocidade. O nascimento de crianças marcadas por deficiência. Diante da dor inocente o homem só pode calar enquanto não tem resposta. No plano humano há apenas o silêncio, detrás do qual se escondem os comportamentos mais diversos: a compaixão ou, mais frequentemente, o medo, por vezes até o horror. Os homens têm medo da dor e da "mutilação" que a deficiência traz consigo», lê-se no texto de enquadramento do debate, acrescentando que só a fé em alguma «mais alto que o homem consente superar esse medo, como Francisco de Assis que beija o leproso».

O programa prossegue com o painel "Oportunidade e fronteiras da investigação científica, em que participam o presidente da Fundação Don Carlo Snocchi, dedicada ao tratamento de pessoas com deficiência, e o filósofo Umberto Curi, que tem refletido na relação entre amor e morte, dor e destino.

Os «limites» da pesquisa «diferenciam-se entre crentes e não crentes, assim como muda a perspetiva em relação à dor»: é a partir deste contexto que o debate desta mesa se vai articular, «em torno às possibilidades que ciência e técnica oferecem à cura e aos limites da intervenção da tecnologia na vida humana, ao conceito de dor como mal físico e ao direito de o superar e em torno das terapias da dor».

Os trabalhos terminam com um diálogo com o escritor e realizador Alessandro Bergonzoni, colaborador numa associação que se ocupa do despertar do coma e da reabilitação que se lhe segue, atividade que o tem levado a dezenas de encontros em hospitais e universidades.

O segundo dia começa com o diretor de radioterapia e do departamento de oncologia e hematologia da policlínica universitaria Agostino Gemelli, o presidente da Fundação ISAL, centrada nos cuidados paliativos, e o bispo de Cassano allo Ionio refletem sobre "O alívio do sofrimento como direito universal do homem".

«É bem conhecido o desenvolvimento do sofrimento que nas fases avançadas de cada doença, em especial a oncológica, se torna uma dor "total" que abraça o aspeto físico, psicológico, social, espiritual e relacional. Os tratamentos paliativos colocam no centro precisamente essa dor que constitui, naquele momento, a essência do doente, com o objetivo de garantir uma vida digna e sem dor, e portanto oferecer a melhor qualidade de vida que a doença permite», lê-se na página do encontro.

As implicações da dor crónica, que quando associadas a várias condições de doença requerem um tratamento complexo, dirigido quer à cognição quer ao tratamento da dor associada à sociabilidade da pessoa serão também pensadas nesta mesa, que também se centrará na dor que emerge de uma vida diferente daquela anterior à doença.

Antes das conclusões, decorre o painel "Face a face com a dor", com um especialista em reanimação e responsável pela terapia intensiva pediátrica de um hospital de Milão,  uma pastora valdense, o fundador da Associação Fabio Sassi, que tem como objetivo dar dignidade ao fim da vida através de cuidados paliativos, entre outros intervenientes. «Que percursos e reflexões gera a experiência da dor naqueles que dela são testemunhas?» é um dos questionamentos desta mesa final.

A denominação "átrio dos gentios" refere-se ao espaço que no antigo templo de Jerusalém era reservado aos não judeus (os gentios). Enquanto escutavam os cantos e seguiam a liturgia do culto, podiam interrogar os doutores da lei sobre o mistério e a transcendência, a religião e o Deus a eles "desconhecido".

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 02.06.2016 | Atualizado em 26.04.2023

 

 

 
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Diante do tema da dor inocente não há qualquer resposta do ponto de vista humano. Crianças que sofrem, guerras que atingem os civis. Doenças que atacam os corpos com ferocidade. O nascimento de crianças marcadas por deficiência. Diante da dor inocente o homem só pode calar enquanto não tem resposta. No plano humano há apenas o silêncio, detrás do qual se escondem os comportamentos mais diversos
Os «limites» da pesquisa «diferenciam-se entre crentes e não crentes, assim como muda a perspetiva em relação à dor»: é a partir deste contexto que um dos debates se vai articular, «em torno às possibilidades que ciência e técnica oferecem à cura e aos limites da intervenção da tecnologia na vida humana, ao conceito de dor como mal físico e ao direito de o superar e em torno das terapias da dor»
É bem conhecido o desenvolvimento do sofrimento que nas fases avançadas de cada doença, em especial a oncológica, se torna uma dor "total" que abraça o aspeto físico, psicológico, social, espiritual e relacional
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