Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura

Concerto: A música dos Salmos

A proposta de uma viagem pelo Livro dos Salmos pode ter múltiplas portas de entrada, na música ou na literatura, nas artes plásticas e performativas. Mas é necessário recordar que se trata de poesia orante. Poesia que habita milenarmente as arquiteturas, as vozes de crentes nas suas comunidades, como um eco contínuo e partilhado. Nesse bordão, que atravessa os tempos, pode encontrar-se o sentimento característico da condição humana crente: saber-se gerado.

Matéria literária de muitos ritos judaicos e cristãos, o Livro dos Salmos foi o solo arável para a criação musical de tradição europeia. Para além dos contextos rituais e litúrgicos, o ofício da composição descobriu nos Salmos uma palavra vibrante sobre os enigmas da experiência humana – para crentes e não crentes. Recentemente, o Lincoln Center, em Nova Iorque, programou uma ambiciosa série de concertos exclusivamente centrada nos 150 salmos bíblicos: 150 compositores para 150 salmos. É uma boa expressão da vitalidade da relação deste livro bíblico com a cultura.  David Lang, um dos compositores convidados para este projeto – Prémio Pulitzer de Música em 2008 –, referiu-se ao Livro dos Salmos como «um catálogo das maneiras pelas quais podemos conversar com Deus».

Esta é uma boa perspetiva sobre as leituras (ou reescritas) do Livro dos Salmos no curso da história da música ocidental: a intimidade e a extroversão, o trágico e o épico, a comemoração e a profecia, a confiança e a justiça, a aflição e o júbilo. São palavras sobre os mistérios da vida humana. São palavras sobre Deus, dirigidas a Deus – um Deus sensível, que escuta e se comove, que acolhe sob as suas asas, que protege com a sua sombra, que se levanta para defender o justo. Um Deus que se deixa transcrever na história humana, como a vibração de um instrumento musical.

O programa proposto pelo Ensemble São Tomás de Aquino para o concerto do dia 25 de março, às 21h00, na igreja paroquial de São Tomás de Aquino, em Lisboa, atravessa diversas fronteiras. Entre o norte e o sul da Europa, na planura do canto gregoriano, no cruzamento entre línguas rituais e línguas mátrias/pátrias, no diálogo entre as Igrejas protestantes e Igreja latina, numa polifonia de emoções: a piedade vernacular do Saltério de Genebra na arte dos compositores reformados, as arquiteturas sonoras de Gabrieli, o dolorismo de Hassler, a solenidade de Charpentier, o murmúrio que se eleva na voz de Purcell, o dramatismo de Scarlatti, o fulgor de Valls, a luminosidade de Almeida. A este mosaico juntam-se as cores da voz que narra os Salmos, na recente tradução para português da versão grega da Bíblia, oferecida pelo saber de Frederico Lourenço. Escutemo-nos na música dos Salmos.



Temporada de Música de São Tomás de Aquino
25.3.2023, 21h00, igreja paroquial de São Tomás de Aquino, Lisboa
Ensemble São Tomás de Aquino; Maria de Fátima Nunes, dir.

Compositores e obras

Claude Goudimel (c. 1514/1520-1572)
Dieu Tout Puissant
Étans assis aux rives aquatiques
Reveillez-vous

Claude le Jeune (c. 1528/1530-1600)
Il faut que de tous mes esprits

Giovanni Gabrieli (c. 1555/1557-1612)
Miserere mei Deus

Jan Pieterszoon Sweelinck (1562-1621)
Chantez à Dieu chanson nouvelle

Hans Leo Hassler (1564-1612)
Ad Dominum cum tribularer

Marc-Antoine Charpentier (1643-1704)
De profundis clamavi ad Te, Domine

Henry Purcell (1659-1695)
Hear my prayer, o Lord

Alessandro Scarlatti (1660-1725)
Domine in auxilium meum

Francesc Valls (c. 1665/1671-1747)
Domine probasti

Francisco António de Almeida (c.1702-1755?)
Justus ut palma florebit









 

Alfredo Teixeira
Antropólogo e compositor
Imagem: D.R.
Publicado em 20.03.2023 | Atualizado em 21.03.2023

 

 

 
Relacionados
Destaque
Pastoral da Cultura
Vemos, ouvimos e lemos
Perspetivas
Papa Francisco
Impressão digital
Paisagens
Prémio Árvore da Vida
Vídeos