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Leitura: “Comentário à liturgia dominical e festiva – Ano B”

Leitura: “Comentário à liturgia dominical e festiva – Ano B”

Imagem Capa | D.R.

Destinado aos leigos ou ao clero que prepara a homilia domimical, o livro “Comentário à liturgia dominical e festiva – Ano B”, de Luciano Manicardi, prior da comunidade monástica de Bose, em Itália, apresenta, segundo o autor, «pistas que iluminam de vez em quando dimensões cristológicas ou eclesiais ou existenciais da passagem dos Evangelhos».

«Um livro novo de Luciano Manicardi merece ser festejado. A intensidade espiritual do autor e a consistente bagagem no campo dos estudos bíblicos, da antropologia e das ciências humanas tornam-no um interlocutor especialmente preparado para o anúncio do Evangelho na contemporaneidade», escreve José Tolentino Mendonça na introdução

O biblista sublinha que «a chave de leitura» desta obra recentemente editada pela Paulinas «é fundamentalmente cristológica e a finalidade é alcançar uma sabedoria concreta» que avizinhe a humanidade de cada pessoa «daquilo que Deus tornou visível na humanidade de Jesus de Nazaré».

Para Tolentino Mendonça «falta trabalhar uma formação bíblica das comunidades, para lá dos círculos especializados. Sabemos que muitos cristãos se aproximam da Bíblia com a melhor boa vontade e logo a abandonam, desiludidos, porque afinal a leitura é uma operação complexa que requer instrumentos e aprendizagem».

«Este livro de Manicardi é uma ótima ajuda, pois não só apresenta uma interpretação sempre sugestiva, mas ensina a ler o texto à maneira do escriba referido por Jesus no Evangelho, que sabe retirar “do tesouro [da Palavra] coisas novas e coisas antigas” (Mt 13,52)», assinala.



O testemunho evangélico não requer fazer muita coisa, mas, sim, decidir-se perante Cristo, em relação com Ele. A testemunha é, portanto, alguém que suscita o sentido de uma outra presença, a presença daquele de quem dá testemunho



Por isso, «para quantos estão comunitariamente comprometidos, empenhados na catequese, nos grupos de vida, na pastoral familiar, nas equipas de jovens, na preparação da liturgia ou para quantos são ainda buscadores solitários da experiência da fé, este livro deve ser recomendado».

O volume dirige-se igualmente aos pastores, «que são chamados a viver da Palavra de Deus e a pregá-la em cada dia».

«O Papa aponta a homilia como o termómetro “para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um pastor com o seu povo”. E recomenda vivamente aos pastores o tempo e a qualidade da preparação: “um tempo longo de estudo, oração, reflexão e criatividade pastoral”. O presente comentário de Manicardi escutou, e ajuda-nos a escutar, o desafio urgente de Francisco», aponta Tolentino Mendonça

 

III Domingo do Advento
Luciano Manicardi
In “Comentário à liturgia dominical e festiva - Ano B”

A primeira e a segunda leituras [Isaías 61,1-2a.10-11, 1.ª Carta aos Tessalonicenses 5,16-24] sublinham sobretudo o tema da alegria, típico do III Domingo do Advento (o Domingo Gaudete). O texto do Evangelho centra-se no testemunho que João Batista deu de Jesus, testemunho que a continuação do quarto Evangelho dirá que se deu na alegria, ainda que ao preço de diminuir o próprio João (Jo 3,29-30).

De acordo com o quarto Evangelho [João 1,6-8.19-28], João é a testemunha do Cordeiro, aquele que reconhece Jesus como enviado do Pai, sobre quem repousa o Espírito. A testemunha é a pessoa mudada por aquilo que viu, pelo encontro que teve. Longe de qualquer exibicionismo ou protagonismo ou enfatuação de si, a testemunha dá testemunho de um outro e conduz quem a vê ou escuta, não para si, mas à adesão daquele de quem ela dá testemunho. O verdadeiro testemunho é acompanhado de um justo, realista e humilde conhecimento de si. A pergunta «Quem és tu?» (v. 19), que retorna a João, ressoa igualmente em cada leitor do Evangelho e pede a cada um que se conheça à luz de Cristo. Testemunhar é a arte de dizer a verdade sobre si, sobre os outros e sobre a realidade. O testemunho evangélico não requer fazer muita coisa, mas, sim, decidir-se perante Cristo, em relação com Ele. A testemunha é, portanto, alguém que suscita o sentido de uma outra presença, a presença daquele de quem dá testemunho. Como João, a testemunha desperta para a consciência de Alguém que não conhecemos ou não sabemos reconhecer, mas que existe (v. 26). A testemunha não é tanto alguém que toma a iniciativa de dirigir uma palavra aos outros, mas antes uma pessoa cuja vida é tal – e é tal o modo como olha o mundo e os seres – que acontece aos outros interrogarem-se a si próprios e perguntarem-lhe qual a origem da sua singularidade. A testemunha aparece assim como uma pessoa capaz de suscitar interrogações.



Os tons e os traços do seu ministério e do testemunho de João têm alguma coisa a ensinar à Igreja de sempre: ele ser uma mão que faz sinal, um indicador que aponta a direção para o olhar e os passos para Cristo



Ligado ao tema do testemunho está o da identidade. O cristão não é o Cristo; a Igreja não é o Cristo. Só Cristo pode afirmar com absoluta verdade «Eu sou», eco do nome divino na Escritura (cf. Ex 3,14). A identidade cristã é relacional e relativa a Cristo. Ela consiste numa humanidade precisa, que se alcança em Cristo, portanto, à luz da fé. A simplicidade do Batismo abre ao cristão a sua plena identidade, que é também um programa de vida até à morte. Quer dizer, até ao testemunho último e radical do martírio (em grego, martyria significa «testemunho»). Testemunhar o nome «cristão» pode levar à perda da vida. Ou melhor, afirma Cipriano de Cartago, pode-se ser mártir sendo apenas testemunha no quotidiano da existência: «A gloriosa coroa da sua confissão será retirada da cabeça dos mártires, se se descobrir que eles não a adquiriram com a fidelidade ao Evangelho, que é a única que faz os mártires.»

Este domingo é também a ocasião para meditar sobre a figura de João. Os tons e os traços do seu ministério e do seu testemunho têm alguma coisa a ensinar à Igreja de sempre: ele ser uma mão que faz sinal, um indicador que aponta a direção para o olhar e os passos para Cristo; o saber reconhecer o seu lugar e nele permanecer com fidelidade; o dar lugar Àquele que vem; o diminuir-se na alegria e no amor perante o Senhor, tudo isto revela uma grande liberdade e um grande amor, sempre necessários ao testemunho eclesial. Exatamente para não se substituir ao Senhor.

Paradoxal testemunha que precede Cristo, João desenvolve um ministério essencial também para as testemunhas que seguirão Cristo, que virão depois. Escreve Orígenes: «O mistério de João realiza-se no mundo até hoje. Em quem quer que se prepare para aceder à fé em Jesus Cristo, é necessário que primeiro entrem no seu coração o espírito e a força de João para preparar para o Senhor um homem predisposto e para aplanar os caminhos e endireitar as asperezas do seu coração.»

Aquele que precede Cristo também apresenta Cristo.



 

SNPC
Publicado em 12.12.2017

 

Título: Comentário à liturgia dominical e festiva – Ano B
Autor: Luciano Manicardi
Editora: Paulinas
Páginas: 184
Preço: 13,00 €
ISBN: 978-989-673-609-5

 

 
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