«Trazida ao espanto da luz»: o assombro e a estranheza, o deslumbramento e o abismo, sugeridos pelo verso de Sophia de Mello Breyner Andresen, inspiram o primeiro congresso «no âmbito das hermenêuticas do religioso no espaço literário, com especial incidência sobre a sua dimensão poética» organizado no contexto do novo projeto Teotopias.
«Linguagem poética e linguagem teológica: continuidades e descontinuidades; linguagem poética e linguagem mística: inter[con]textualidades; linguagem poética e sagrado: aproximações estético-fenomenológicas» constituem os eixos temáticos das intervenções anunciadas para 8 e 9 de novembro.
Os organizadores sustentam que a «crise» chegou ao «positivismo teológico», paradigma «que sempre cedeu demasiado à obsessão pela verdade», o que tem feito emergir «um crescente interesse pelo estudo teológico de produções literárias como lugares de redenção da linguagem referencial, própria do discurso tradicional da teologia».
«Na sua performatividade quase litúrgica, a linguagem poética aproxima o objeto do discurso teológico do seu eixo verdadeiramente referencial: “a transluminosa treva do Silêncio” (Pseudo-Dionísio Areopagita», acentua a nota de apresentação do colóquio.
A iniciativa, organizada pela Cátedra Poesia e Transcendência | Sophia de Mello Breyner (Universidade Católica, Porto), em parceria com a Faculdade de Teologia da mesma instituição e o Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, decorre a 8 e 9 de novembro, no Porto.
La elocuencia del mistério”, “O sagrado e o mistério como categorias de análise do religioso na literatura. Os casos de Dalila Pereira da Costa e de Mário Cláudio”, “Redenção e deformidade. A poética do estranhamento como discurso teológico da modernidade” e “Literatura y hospitalidad. El giro estético-dramático de la teologia” são os temas das conferências e painéis da manhã do primeiro dia.
Durante a tarde estão previstas seis intervenções, entre as quais “Razón teológica del arte literario”, “A salvação que habita a palavra. Um diálogo entre teólogos e poetas”, “A dimensão metafísica do banal profano. Graham Greene entre a literatura, o cinema e o ensaio”.
O programa prossegue na manhã de sábado com “’De mãos vazias perante a morte’. Sobre o vazio de Deus em Vergílio Ferreira”, “’As coisas em que penso não existirão muitas vezes’. A associação metonímica como princípio de continuidade em ‘Toda a Terra’, de Ruy Belo”, “’De poderes abrir a vida’. Sobre a casa na poesia de Daniel Faria e de Luiza Neto Jorge”, “’Silêncio de luz’. Mística musical em Jorge de Sena”, “‘Monoteísmo da razão e do coração, politeísmo da imaginação e da arte’. A mitologia nova em Fernando Pessoa e Sophia de Mello Breyner” e “Frei Agostinho da Cruz: um poeta para o nosso tempo”.
“‘E se Deus nos falta?’ Inquietações espirituais e formas de relação com Deus na literatura portuguesa contemporânea”, “O espanto da luz e a inocência da carne. A poesia de Sophia de Mello Breyner e de Adélia Prado”, “O transcendente, o sagrado e o cristão na obra de Sophia de Mello Breyner”, “‘No tempo dividido’. Mistagogia da temporalidade na poesia de Sophia” são as palestras agendadas para a tarde, antecedendo um recital de poesia e a sessão de encerramento, que conta com a intervenção da reitora da Universidade Católica, Isabel Capeloa Gil.