Santo Estêvão | Luca Signorelli (1445-1523) | D.R.
Em plena Oitava de Natal, celebrámos a Festa do Protomártir (primeiro mártir) Santo Estêvão. O relato do seu martírio, que se encontra nos capítulos 6 e 7 dos Atos dos Apóstolos, tem um aspeto muito importante para a nossa vida espiritual que vale a pena sublinhar.
Lapidação de Santo Estêvão | Orazio Samacchini (1532-1577) | D.R.
Dizem os Atos dos Apóstolos que, depois do discurso de Estêvão diante do Sinédrio (tribunal judaico), «ao ouvirem tais palavras, encheram-se intimamente de raiva e rangeram os dentes contra Estêvão. Mas este, cheio do Espírito Santo e de olhos fixos no céu, viu a glória de Deus e Jesus de pé, à direita de Deus. “Olhai, disse ele, Eu vejo o céu aberto e o Filho do Homem de pé, à direita de Deus.” Eles, então, soltaram um grande grito e taparam os ouvidos; depois, à uma, atiraram-se a ele e, arrastando-o para fora da cidade, começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram as capas aos pés de um jovem chamado Saulo. E, enquanto o apedrejavam, Estêvão orava, dizendo: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito.” Depois, posto de joelhos, bradou com voz forte: “Senhor, não lhes atribuas este pecado.” Dito isto, adormeceu» (At 7, 54-69).
Martírio de Santo Estêvão | Pietro da Cortona (1596-1669) | D.R.
Desde o início os cristãos tiveram a consciência de que, pela oração, se ligam aos Céus... se ligam realmente a Deus. Por isso, para o cristão, o céu está sempre aberto, porque pela sua vinda Jesus abriu-nos os céus. Mesmo quando se encontram presos nas masmorras por causa da fé, os cristãos na verdade são livres porque, para além das pesadas abóbadas de pedra das prisões, para eles, os Céus estão abertos... escancarados de par em par.
Abside da Basílica de Santo Apolinário de Ravena, Itália | Séc.VI | D.R.
Mesmo quando os cristãos rezam numa igreja, a igreja não é na verdade um edifício fechado: é um verdadeiro céu aberto que nos eleva para Deus. Isto que acabo de expor é evidente nas três representações do Martírio de Santo Estêvão, e também na abside da Basílica de Santo Apolinário em Ravena que é um céu aberto ao qual se dirige a oração do santo mártir. O mesmo céu aberto é recorrente na luz que jorra do Oriente (Nascente) na Igreja de Sant'Antimo, e mesmo nas igrejas barrocas, como vemos pelas imagens, o que mostra a continuidade da mesma fé em diferentes expressões artísticas. E mesmo antes do cristianismo, já a cúpula aberta do Panteão de Roma provavelmente exprimia o mesmo desejo de que as preces dos humanos se elevassem para os céus...
Abadia de Sant'Antimo, Toscana, Itália | Séc.VIII | D.R.
Este aspeto da oração dos primeiros cristãos há-de ajudar a nossa oração a tornar-se cada vez mais sincera e verdadeira, e assim voltados realmente para Deus e com o coração atraído completamente para Deus por esse céu aberto que é a oração, nada temos a temer... como Santo Estêvão...
Abadia de Sant'Antimo, Toscana, Itália | Séc.VIII | D.R.
Glória de Santo Inácio | Andrea Pozzo (1685) | Igreja de Santo Inácio, Roma | D.R.
Panteão | Roma (120-124 d.C) | D.R.
P. Fernando António, SJ