Agora que recebemos com júbilo a boa nova de que o Papa Francisco nomeou o Cardeal Tolentino Mendonça para Prefeito do Dicastério para a Educação e a Cultura, sentimos que a Igreja está mais fortalecida e habilitada a realizar-se com o mundo de hoje, na sua missão universal de resgate dos humanos prometidos à Ressurreição – pois o Santo Padre escolheu quem de há muito se vem cumprindo exemplarmente na sua condição cristã de consagrado e sucessor dos Apóstolos numa linha de rumo que sempre foi de promoção da aliança educativa com orientação católica – em espírito de guia no caminho – e de evangelização da Cultura e através da Cultura (da qual, dizia São Tomás, a natureza humana necessita e, acrescenta o Papa Francisco, a própria Graça precisa).
No âmbito da Pastoral da Cultura e do Secretariado Nacional que a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) instituiu para esse domínio temos razões acrescidas para viver com alegria estimulante e responsabilizante este acontecimento promissor, pelas razões que, ao suceder ao Padre Tolentino na direção do SNPC, explicitei no louvor do seu trabalho fundacional e do extraordinário legado que nos deixava à luz do que então enalteci como a sua poética da espiritualidade cristã.
Creio que aí pulsa o coração do seu pensamento teológico e do seu magistério eclesial e universitário (entendendo a educação como processo de relação que ajuda os comparticipantes a crescer naquilo que cada um é), mas também da impressionante presença (constante e cativante) no espaço público pela palestra e pela crónica (… até à coluna que diariamente assinava no Avvenire) – da qual podemos dizer, como o Papa Francisco após a pregação dos exercícios espirituais, que é proposta de fecunda meditação, a partir do dado exegético ou de ocorrências do texto-do-mundo, e convocando referências literárias e artísticas, nos abre à vida contemporânea.
Eduardo Lourenço decerto também aplicaria a esse especial labor apostólico do Cardeal Tolentino certa súmula que um dia propôs no centenário da Brotéria, revista jesuíta de Cristianismo e Cultura: «Desposar o espírito do tempo sem a ele ceder.»
Nem a natureza do Dicastério em causa, nem a sua inserção nos intuitos programáticos do Papa Francisco, nem a personalidade do Cardeal Tolentino permitem que olhemos para esta escolha pontifícia como concessão de mais uma honraria e atribuição de mais um novo cargo. O significado e o alcance desta nomeação são de outra ordem, mais subida e mais ampla: o Papa distingue o Cardeal Tolentino solicitando-o para mais exigente serviço no seu seguimento de Cristo ao assumir as mais altas responsabilidades de um cargo novo no âmbito do projeto de reforma da Cúria romana – tão importante que o Papa elaborou a Constituição Praedicate Evangelium e à sua luz passou a implementar neste verão de 2022 a visada reforma.
De facto, é no âmbito desse plano e desse movimento que surge o Dicastério para a Cultura e a Educação, concebido para operar «em prol do desenvolvimento dos valores humanos no horizonte da antropologia cristã»; e assim cabe ao Cardeal Tolentino um mandato inaugural nessa instância que o Papa tem por fundamental para os seus desígnios de diálogo entre as múltiplas culturas presentes dentro da Igreja pelo mundo fora, de apoio aos Bispos na defesa e valorização das culturas locais, de participação nos fóruns internacionais de debate de ideias e nos dinamismos criativos (mormente artísticos) das diversas sociedades civis.
Esta é a estrutura de horizonte que preside à criação do Dicastério e ao gesto de confiar a sua condução primordial ao Cardeal Tolentino. Nela ganha a devida dimensão os atributos de coordenação que, sobretudo na área da Educação, vêm sendo amplamente difundidos pela comunicação social: não só a tutela dos milhares de Universidades e outras Escolas, mas também a colaboração com as dioceses de todo o mundo na criação de escolas católicas e/ou de promoção do ensino católico noutras instituições, tal como na área da Cultura a coordenação a nível global do trabalho das dioceses na conservação do seu património histórico e artístico, em arquivos, bibliotecas, museus e templos.
É com esse horizonte que no Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura procuraremos ser fiéis ao legado e ao exemplo do Cardeal José Tolentino Mendonça, seu primeiro Diretor!