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História

Apresentação da obra "Elites católicas em Portugal: o papel da Ação Católica (1940-1961)"

O Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa realiza a 5 de dezembro, em Lisboa, a apresentação pública da obra “Elites católicas em Portugal: o papel da Ação Católica (1940-1961)”, de Paulo Fontes.

A sessão, que decorre no auditório 2 (edifício antigo) a partir das 18h15, inclui intervenções dos historiadores D. Manuel Clemente, bispo do Porto, e Luís Salgado de Matos, contando também com a presença do reitor da universidade, Manuel Braga da Cruz.

O volume de 1033 páginas e um CD editado pela Fundação Calouste Gulbenkian e Fundação para a Ciência e Tecnologia é prefaciado por Manuel Braga da Cruz, que destaca o «decisivo e novo contributo» do trabalho para o estudo da Ação Católica «não só na Igreja mas também na sociedade portuguesa», vista no seu «impacte» social e não como objeto de uma «história institucional».

A Agência Ecclesia publicou em 2008 uma síntese que o autor fez da sua tese de doutoramento, apresentada dois anos antes, que serve de base para o volume que vai ser lançado.

«Há 75 anos, uma carta do papa Pio XI ao cardeal-patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira, datada de 10 de novembro de 1933, assinalava oficialmente o lançamento da Ação Católica Portuguesa (ACP), nova organização do apostolado católico no país. A promulgação das suas Bases Orgânicas pelo episcopado português, a 16 de novembro do mesmo ano, traduzia o início do processo de institucionalização da ACP como organização nacional, visando integrar todos os setores do apostolado e cobrindo todas as dioceses do país, de modo a totalizar uma nova forma de presença da Igreja Católica na sociedade, marcada pela visão de um catolicismo militante, em prol do que então se designava pela “reconquista cristã” ou “recristianização cristã” da sociedade. A sua criação resultou de fatores internos e externos que favoreceram o seu aparecimento e moldaram a sua identidade no quadro de recomposição do catolicismo nacional e de reestruturação da própria Igreja em Portugal, cujo marco mais significativo fora a realização do Concílio Plenário Português, em 1926.

Desde finais do século XIX que, ao sentimento de fragilidade vivido pelo catolicismo no seio de uma sociedade em processo de secularização, correspondera uma vontade de revitalização e um ímpeto associativo dos católicos, de que a Ação Católica Portuguesa foi, de certo modo, herdeira. A estratégia definida pelo episcopado português em 1926 ia no sentido do reforço da chamada “união católica”, da secundarização de tudo o que dividia os católicos, incluindo a política, e de afirmação da autonomia e capacidade de ação da Igreja na sociedade, sob a direção dos bispos, enquanto expressão da autoridade católica na sociedade. A “participação dos fiéis leigos no apostolado hierárquico da Igreja” marca o entendimento eclesiológico dos anos 30 e parte dos anos 40. O ideal histórico de uma “nova cristandade” teorizado por Jacques Maritain, afirmando o primado do espiritual, constituía o horizonte de mobilização para os que integravam o que então se designava por “exército de Cristo-Rei”. A teologia de Cristo-Rei foi, aliás, um dos principais pólos de referência doutrinal até, pelo menos, ao final dos anos 50 do século XX; e a ACP fez sua a Festa de Cristo-Rei, instituída em 1925. A ideia de que havia que aliar o “combate interior” de cada um ao “combate exterior” na sociedade era o quadro de compreensão de um apostolado que se pretendia simultaneamente religioso e social. A “questão social”, isto é o conflito capital-trabalho e a “imerecida miséria” em que viviam os novos setores sociais urbanos, em particular o operariado industrial, estimulavam a procura de nova respostas sociais, para que a doutrina social da Igreja e a então chamada “sociologia cristã” procuravam contribuir, oferecendo referências para a ação social e a participação cívica dos católicos.

A natureza específica da nova Ação Católica assentava, desde o início, na ideia do apostolado organizado, realizado por leigos sob mandato da Hierarquia. Foi necessário esperar pelos seus desenvolvimentos e dificuldades, assim como pelas novas dinâmicas do pós-II Guerra Mundial, a par da reflexão teológica desenvolvida por Yves Congar e outros, para se afirmar a especificidade e autonomia do apostolado dos leigos, que a realização do I e II Congressos Mundiais do Apostolado dos Leigos bem exprimiu (1951 e 1957). No caso português, combinou-se a ideia de um apostolado total, capaz de responder e integrar todos os setores da sociedade, com uma organização duplamente especializada: segundo o sexo e a idade, dando origem a quatro Organizações (Liga dos Homens da Ação Católica, Liga das Mulheres da Ação Católica, Juventude Católica e Juventude Católica Feminina); e de acordo com os chamados “meios sociais” - agrário, escolar, independente, operário e universitário -, dando origem a 20 Organismos Especializados. Paralelamente, a hierarquização interna e a centralização em cada um dos três planos em que a organização se estruturava (local ou paroquial, diocesano e nacional) procurava assegurar eficácia a um movimento que visava, simultaneamente, a formação de um “escol” (os militantes e dirigentes) e a influência na “massa”.

Os desenvolvimentos do trabalho de formação e reflexão teológicas, a preocupação com o enraizamento social do trabalho de cristianização, a par da ativa participação nas dinâmicas internacionais ou supranacionais do catolicismo, foram fatores que contribuíram decisivamente para conferir ao movimento católico português alguns novos traços nos anos 50 a 70, em especial: a formação humana, cívica e religiosa de várias gerações de católicos, conforme a uma espiritualidade mais incarnada e cristocêntrica, pese embora o peso do marianismo nas devoções dos movimentos de Ação Católica; o desenvolvimento de um catolicismo social reformista, partindo do estudo e procura de soluções para a realidade nacional, bloqueada pela persistência política do Estado autoritário após a II Guerra Mundial; o aparecimento de novas elites católicas nos mais diversos setores da sociedade, em particular universitário, intelectual e cultural, mas também operário e de novos setores profissionais, a par da emergência de novas lideranças e dinâmicas sociais, a nível da juventude, das mulheres, das famílias e do movimento sindical e patronal, entre outros.

Nos anos 70, o esgotamento do paradigma de movimento católico que a ACP corporizou explica o seu desmembramento como corpo orgânico em 1974, sendo que a realização do II Concílio do Vaticano constituiu um importante ponto de viragem neste processo. Muitas das perspetivas teológicas e pastorais que o Concílio viera reconhecer e proclamar tiveram na vida e trabalho da Ação Católica, em todo o mundo, um pioneirismo e um alicerce que, no longo prazo, explicam a sua secundarização, mormente o reconhecimento do valor pleno do apostolado dos leigos, sem necessidade de recurso ao mandato episcopal ou o valor da liberdade religiosa e do pluralismo eclesial e social. No caso português, o paralelismo cronológico verificado entre a vigência do Estado Novo e a existência da ACP (1933-1974) não deve ser interpretado num registo causal, mas deve procurar-se no húmus cultural e sociológico da realidade portuguesa, que aqui não podemos analisar.

O desmembramento da ACP como corpo orgânico não significou o fim daquela experiência. Ao invés, nalguns casos, traduziu-se no relançamento de parte dos movimentos que entretanto se tinham autonomizado no seu interior, alguns dos quais continuam o seu trabalho nos dias de hoje, embora em contexto e em modalidades bem diversos dos iniciais. De igual modo, muitas das intuições sociais, teológicas e pastorais nascidas no seio da Ação Católica fizeram o seu caminho, encontrando noutras dinâmicas sociais e movimentos eclesiais a sua forma de expressão, nomeadamente: o “apostolado do semelhante pelo semelhante”, preconizado pelo papa Pio XI; o método da “revisão de vida”, aprendido na escola da JOC (Juventude Operária Católica) de Joseph Cardjin, seu fundador e figura emblemática do movimento católico internacional; a afirmação do “apostolado de leigos”, apoiado na presença e acompanhamento dos “assistentes eclesiásticos”, função para que se recrutaram e formaram dezenas de padres em todo o país e a partir donde se projetaram figuras marcantes do catolicismo social; a distinção entre “missão interna” e “missão externa”, conforme a uma visão que muito contribuiu para a reflexão missiológica e a reformulação da própria noção de missão; e, por último, a ideia de “militância católica” que, sendo-lhe anterior, aqui encontrou um lugar privilegiado de expressão ao longo do século XX.»

 

© SNPC | 29.11.11

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