«Naquele tempo, seguia Jesus uma grande multidão. Jesus voltou-se e disse-lhes: "Se alguém vem ter comigo, e não Me preferir ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos, aos irmãos, às irmãs e até à própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não pode ser meu discípulo. Quem de vós, desejando construir uma torre, não se senta primeiro a calcular a despesa, para ver se tem com que terminá-la? (...) Assim, quem de entre vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo"» (Do Evangelho do 23.º Domingo, 4.9.2016, Lucas 14, 25-33).
Jesus, sempre surpreendente nas suas propostas, indica três condições para o seguir. Radicais. A primeira: se alguém vem a mim e não me ama mais do que quanto ama o seu pai, a mãe, a mulher, os filhos, os irmãos, as irmãs e até a própria vida, não pode ser meu discípulo.
Jesus joga tudo no amor. Fá-lo com palavras que parecem chocar contra a beleza e a força dos nossos afetos, a primeira felicidade desta vida. Mas o verbo central sobre o qual se apoia a frase é: se alguém não me «ama mais». Não se trata, por isso, de uma subtração, mas de uma adição. Jesus não subtrai amor, mas acrescenta um «mais».
O discípulo é aquele que à luz dos seus amores estende uma luz maior. E o resultado não é uma subtração, mas um potenciamento: tu sabes quanto é belo dar e receber amor, quanto contam os afetos da família; pois bem, Eu posso oferecer-te algo de ainda mais belo. Jesus é a garantia que os teus amores serão mais vivos e luminosos porque Ele possui a chave da arte de amar.
A segunda condição: aquele que não leva a própria cruz não me pode seguir. Nós banalizamos a cruz, empobrecemo-la como simples imagem das inevitáveis dificuldades de cada dia, dos problemas da família, do cansaço ou da doença a suportar em paz. No Evangelho, "cruz" contém o vértice e a síntese da vida de Jesus: amor sem medida, desarmado amor, corajoso amor, que não se rende, não engana e não trai.
A primeira e a segunda condição, amar mais e levar a cruz, iluminam-se mutuamente; levar a cruz significa levar o amor até ao fundo.
Jesus não gosta das coisas deixadas a metade, porque geram tristeza: se queres construir uma torre, senta-te primeiro e calcula bem se tens os meios. Quer de nós respostas livres e maduras, ponderadas e inteligentes.
E elenca a terceira condição: quem de vós não renunciar a todos os seus bens, não pode ser meu discípulo. A renúncia que Jesus pede não é um sacrifício, mas um ato de liberdade: sai da ânsia de possuir, da ilusão que te faz dizer: «Eu acumulo, logo sou e valho».
«Um homem não vale por aquilo que possui ou pela cor da sua pele, mas pela qualidade dos seus sentimentos» (M.L. King). «Um homem vale quanto vale o seu coração» (Gandhi).
Não te deixes absorver pelas coisas: a tua vida não depende dos teus bens. Deixa cair as coisas e toma sobre ti a qualidade dos sentimentos. Aprende não a ter mais, mas a amar bem.
Jesus não pretende apoderar-se do homem, mas libertá-lo, oferecendo-lhe uma asa que o eleve para mais liberdade, mais amor, mais consciência. Então nomear Cristo, falar do Evangelho, equivale sempre a confortar o coração da vida.
Ermes Ronchi