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Leitura: "Amor, silêncios e tempestades"

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Leitura: "Amor, silêncios e tempestades"

O livro “Amor, silêncios e tempestades”, seleção de crónicas que José Luís Nunes redige semanalmente para o jornal “i”, vai ser lançado esta sexta-feira, em Lisboa.

Os 67 textos do volume, acompanhados por ilustrações originais de Carlos Ribeiro, são prefaciados pelo P. Gonçalo Portocarrero de Almada, que também apresenta a obra editada pela Paulus.

«Cada texto é um desafio concreto ao pensamento sobre a existência concreta e pessoal de cada um. O amor, a morte, o sofrimento e a esperança, são alguns dos pontos essenciais a que o autor retorna várias vezes, enriquecendo e provocando sempre o pensamento de quem lê», refere a nota de apresentação do livro.

Para o padre Gonçalo Portocarrero, «ler uma crónica do José Luís Nunes Martins é sempre uma aventura surpreendente, porque nunca se sabe como termina».

«Nasce de coisas triviais, prosaicas, quase banais. São sempre pistas em que facilmente o leitor se reconhece, porque são situações da sua vida, sentimentos que já auscultou no seu coração, temores alguma vez imaginados pela sua mente. Depois, o texto evolui por estradas íngremes, onde as considerações filosóficas não são despropositadas, nem um mero exercício de erudição. Uma filósofia tão natural quanto intensa e original», acrescenta no prefácio.

O sacerdote considera que «qualquer que seja o ângulo de observação, é sobre o homem que incidem estas reflexões, não tido como mera natureza animal, nem como apenas espírito transcendente, mas como realidade viva num corpo e numa alma, onde as pulsões corpóreas ocorrem a par dos anseios místicos, porque o ser humano é o produto dessa mistura paradoxal entre o barro da terra – o vaso de argila de que falava amiúde São Paulo – e a imagem e semelhança esplendorosa do seu Criador».

«Abundam, nos escaparates das livrarias, nas montras das grandes superfícies e, até, das estações de serviço, livros de autoajuda. São brochuras mais ou menos elaboradas que seduzem pelos seus títulos convidativos: prometem – finalmente! – a dieta que emagrece para sempre e que não regride; oferecem, ao preço da chuva, sortilégios cem por cento eficazes para todos os problemas amorosos; ensinam as dicas que garantem o êxito profissional, até mesmo para quem está desempregado, etc., etc., etc. São uma mão cheia de receitas baratas para um consumo superficial. Quem procura isso, desista já deste “Amor, silêncios e tempestades”, porque José Luís Nunes Martins não é um bruxo, nem um mágico de trazer por casa, nem nenhum santo milagreiro que, com duas ou três fórmulas, resolve todos os problemas da humanidade.»

O autor não resolve os problemas, «mas dá-nos a explicação filosófica, sem a qual dificilmente se conseguiria chegar a um diagnóstico correto», oferecendo «as ferramentas de um sucesso que passa sempre pelo esforço pessoal, pelo empenhamento próprio, por vezes, também, pela perseverança numa luta árdua, mas sempre eficaz», assinala o padre Gonçalo Portocarrero.

“Amor, silêncios e tempestades” não é «uma leitura fácil, mas é acessível a qualquer pessoa que queira verdadeiramente investir no conhecimento próprio, no amadurecimento dos seus sentimentos, na compreensão dos seus estados de espírito».

A sessão de lançamento do livro, de que apresentamos um excerto, decorre às 19h00 no Salão Nobre do Palácio da Independência, junto ao Teatro Nacional D. Maria II.

 

O amor não se promete
José Luís Nunes Martins
In “Amor, silêncios e tempestades”

Há uma distância fundamental entre as palavras e os gestos de cada homem. As palavras prometem mundos, os gestos constroem -nos. As palavras esclarecem pouco, os gestos definem quase tudo.

O amor é um projeto, uma construção que necessita de ser realizada a cada dia. Sem grandes discursos. Qualquer hora é tempo de amar. Se o amor é verdadeiro, não há tempos de descanso, porque o silêncio no coração dos que buscam lutar contra as trevas dos egoísmos é a paz mais profunda e o maior descanso... ainda que se cravem espinhos na carne, ainda que não sarem as feridas antigas, ainda que a esperança tenha pouco mais onde se apoiar do que nela própria.

Cada um de nós é aquilo que for capaz de ir construindo de firme e duradouro a cada dia por entre todas as tempestades da vida.

Há muito quem sonhe e passe o tempo a desejar o que não é...

Esperam e desesperam por algo que lhes há de chegar de fora... rejeitando quase tudo quanto são, quando, na verdade, é com o que temos e somos que devemos ser felizes, por pouco e por pior que seja... somos nós. Mas nós não somos quem somos só para nós mesmos. Eu sou quem sou, mas só o serei se for capaz de me encontrar com os outros. Ser humano é ser relacional. Ser é sempre ser com o outro. Ninguém se vê só a si quando se olha por um espelho. Ser é amar. Dar -se... sem grandes sonhos ou promessas, com pequenos gestos, na heroica coragem de acreditar que não são nem as palavras nem os desejos que nos devolvem ao céu.

Encarcerados nunca seremos autênticos, devemos pois libertar-nos de tudo quanto nos pesa, de forma especial das coisas materiais, romper com as teias dos sonhos que nos inebriam e incapacitam de sair de nós mesmos para o mundo, de criar mundo... sem esperar nada, a não ser conseguirmos chegar ao melhor de nós mesmos...

Este desprendimento não será prudente aos olhos do mundo, mas é essencial confiar e seguir adiante, até porque as coisas e as pessoas são o que são, independentemente da forma como os olhos do mundo as veem, sentem ou pensam...

Aos sonhos falta existirem de facto, realizarem -se, ou melhor, serem realizados por alguém. A existência é um dos mais belos e decisivos atributos para que algo se faça determinante da nossa felicidade. Por isso a realidade mais pobre é, ainda assim, mais bela que o sonho mais magnífico...

Quase todos os egoísmos têm nome de amor. Conscientes do que são, escondem -se. Normalmente juntam -se aos pares... fazem pouco, falam muito, prometem tudo... entrelaçam as suas necessidades de ter mais, de estar melhor, sem cuidarem que cada homem é muito mais do que aquilo que tem ou da forma como está... nós, humanos, não somos deste mundo... somos do lugar de onde chegámos quando nascemos e do lugar para onde havemos de ir depois da morte... um mundo de onde este faz parte, mas muito maior, muito melhor... muito mais profundo.

É pois importante procurar a vontade do outro, e encontrarmo-nos nela, sermos o melhor que ele pode receber e merecer...

Amar é arriscar tudo, sem garantia alguma. Apenas com a fé de que, no amor, nos cumprimos... Amar é desprender -se e perder -se... abrir -se e abandonar -se à vontade de ser feliz.

Só o amor permite que se cumpra a mais essencial de todas as promessas da existência: Uma vida com valor e verdade.

Quem ama não promete... dá.

 

Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 17.11.2014

 

Título: Amor, silêncios e tempestades
Autor: José Luís Nunes Martins
Editora: Paulus
Páginas: 256
Preço: 19,00 €
ISBN: 978-972-301-831-8

 

 
Imagem Capa | D.R.
Qualquer hora é tempo de amar. Se o amor é verdadeiro, não há tempos de descanso, porque o silêncio no coração dos que buscam lutar contra as trevas dos egoísmos é a paz mais profunda e o maior descanso
Quase todos os egoísmos têm nome de amor. Conscientes do que são, escondem -se. Normalmente juntam -se aos pares... fazem pouco, falam muito, prometem tudo... entrelaçam as suas necessidades de ter mais, de estar melhor, sem cuidarem que cada homem é muito mais do que aquilo que tem ou da forma como está
Amar é arriscar tudo, sem garantia alguma. Apenas com a fé de que, no amor, nos cumprimos... Amar é desprender -se e perder -se... abrir -se e abandonar -se à vontade de ser feliz
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