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“Agnus Dei – As inocentes”: Antestreia filme sobre história real de violência sobre religiosas e drama de fé

Imagem Cartaz (det.) | D.R.

“Agnus Dei – As inocentes”: Antestreia filme sobre história real de violência sobre religiosas e drama de fé

O filme “Agnus Dei – As inocentes”, da realizadora luxemburguesa Anne Fontaine, vai ter a antestreia em Portugal nos dias 11 e 12 de outubro, respetivamente em Lisboa e Almada, antecipando a chegada às salas de cinema a 3 de novembro.

A obra, que é dada a conhecer na programação da 17.ª Festa do Cinema Francês, baseia-se em factos reais, ocorridos poucos meses antes do fim da II Guerra Mundial numa comunidade religiosa feminina, na Polónia.

Integrada numa missão da Cruz Vermelha de apoio aos sobreviventes do conflito, uma jovem médica, Mathilde (interpretada por Lou de Laâge), recebe o pedido de ajuda de uma freira de um convento próximo.

«Quando Mathilde chega ao convento depara-se com um cenário de dor, onde as freiras tentam a todo custo guardar um segredo: foram todas vítimas de violação por parte dos soldados soviéticos, meses antes. Agora as freiras encontram-se grávidas, e incapazes de conciliar este facto com a sua fé», refere a sinopse.

A cineasta, que passou parte da infância e adolescência em Lisboa, explica que «de acordo com as notas redigidas por Madeleine Pauliac, a médica da Cruz Vermelha inspiradora do filme, 25 freiras foram violadas no seu convento – algumas 40 vezes seguidas -, 20 foram mortas e cinco tiveram de enfrentar a gravidez».

«Este facto histórico não reflete bem os soldados soviéticos, mas é a verdade; uma verdade que as autoridades recusam divulgar, ainda que vários historiadores conheçam os acontecimentos», sublinhou a realizadora em entrevista publicada no caderno de imprensa do filme.

Para Anne Fontaine, os soldados «não sentiam que estavam a cometer um ato repreensível, dado que foram autorizados a fazê-lo pelos superiores, como recompensa pelos seus esforços. Este género de brutalidade continua a ser, infelizmente, amplamente praticado hoje. As mulheres continuam a ser sujeitas a esta falta de humanidade em países em guerra em todo o mundo».

O catolicismo não é um ambiente novo para a realizadora, já que duas das suas tias eram religiosas. Todavia, Anne Fontaine quis saber mais sobre a vida das freiras, «compreender o ritmo dos seus dias», pelo que participou em dois retiros em comunidades beneditinas, a Ordem retratada no filme.

«Além da vida em comunidade, que me impressionou grandemente - a maneira de estarem juntas, de rezarem e cantarem sete vezes por dia -, é o facto de se estar como num mundo onde o tempo está suspenso. Tem-se a sensação de flutuar num tipo de euforia, e no entanto está-se sujeito a uma disciplina muito forte», afirmou.

Mas o que mais tocou a realizadora, e que tenta passar para o filme, «é como a fé é frágil»: «Acreditamos muitas vezes que a fé cimenta aqueles que são conduzidos por ela. É um erro: como Maria confidencia a Mathilde no filme, é ao contrário, “vinte e quatro horas de dúvida para um minuto de esperança”».

«Esta noção resume as minhas impressões depois de falar com as irmãs, e também depois de ouvir uma conferência sobre o questionamento da fé proferida por JeanPierre Longeat, antigo abade da abadia de Saint-Martin de Ligugé. O que ele disse foi extremamente tocante e tem um eco profundo no interior do mundo secular de hoje», salientou a realizadora de “Coco avant Chanel” (2009).

“Agnus Dei – As inocentes conjuga o ritmo «meditativo» com a cadência acelerada: «Quis transmitir a singular passagem meditativa do tempo num convento e ao mesmo tempo manter a tensão dramática. Foi um balanço delicado para encontrar os dois quando escrevi o argumento e durante as filmagens».

«Também repliquei o que vi durante os retiros. Pensei que era importante dar a conhecer que as irmãs garantem para si momentos tranquilos onde todas podem prosseguir os seus próprios interesses: leitura, música, costura, conversa», afirmou Anne Fontaine.

Falado em francês, polaco e russo, o filme de 1h45 concluído em 2015 pode ser visto a 11 de outubro, às 21h30, no cinema São Jorge, em Lisboa, e no dia 12, à mesma hora, em Almada, no Fórum Romeu Correia. Ambas as sessões contam com a presença da realizadora.

 




 

Rui Jorge Martins
Publicado em 04.10.2016 | Atualizado em 24.10.2016

 

 

 
Imagem Cartaz | D.R.
O que mais tocou a realizadora, e que tenta passar para o filme, «é como a fé é frágil»: «Acreditamos muitas vezes que a fé cimenta aqueles que são conduzidos por ela. É um erro: como Maria confidencia a Mathilde no filme, é ao contrário, “vinte e quatro horas de dúvida para um minuto de esperança”»
«Repliquei o que vi durante os retiros. Pensei que era importante dar a conhecer que as irmãs garantem para si momentos tranquilos onde todas podem prosseguir os seus próprios interesses: leitura, música, costura, conversa»
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