Como é conhecido, quando o dia de S. Tiago, 25 de julho, ocorre ao domingo, tem lugar o Ano Santo Compostelano. Seguramente, alguns de vós ou estais a planear fazer o Caminho, qualquer que seja a modalidade, e em grupos de amigos, família ou por paróquias. Há também quem o tenha traçado na solidão e o silêncio de caminhar só em companhia do pó do caminho, de fundir-se com o céu e a Criação, de refletir, de receber e dar solidariedade e desfrutar da companhia ocasional de quem faz o mesmo caminho e quer viver a mesma experiência.
Porém, todos temos ouvido contar algumas destas experiências, ou até temos alguém conhecido que fez o caminho. E em quase todos os casos, a experiência foi especial: «O Caminho muda-te», «não voltas igual», o Caminho «ajuda-te a encontrar-te a ti mesma» ou «voltarei a fazê-lo».
Seguir pelos Caminhos de Santiago com a ideia de buscar uma experiência espiritual única é uma decisão importante. Trata-se de uma peregrinação, e há que prepará-la, há que preparar-se e, sobretudo, há que colocar-se em «modo» de busca. Há um caminho físico, que se faz passo a passo, quilómetro a quilómetro, mas há um caminho espiritual que é interior, pessoal e único, onde se busca a conexão com o nosso interior, com a semente de Deus que levamos no nosso coração.
Quem peregrina tem ante si uma grande metáfora da vida que lhe permite libertar-se de tudo e buscar a experiência necessária a partir do anonimato e distante das etiquetas sociais, laborais ou religiosas. De facto, poderíamos dizer que quem peregrina a Santiago leva a sua vida e os seus anseios às costas, na sua pequena mochila.
São diversas as tradições que nos chegaram sobre Santiago, mas o certo é que a figura do apóstolo é um referente das primeiras comunidades cristãs, juntamente com Pedro e João. E destaca-se numa coisa, como recolhe o livro dos Atos dos Apóstolos: S. Tiago – apesar de possíveis reticências iniciais – toma decididamente partido pela universalidade da fé cristã, pelo acolhimento dos pagãos e para abrir as portas a todo o mundo: «Sou da opinião que não devemos pôr obstáculos àqueles pagãos que se convertem a Deus» (15, 19). E neste sentido a experiência do Caminho de Santiago tem, de alguma maneira, esta dimensão universal.
Estamos às portas de agosto, o mês que de algum modo marca a transição entre um ciclo e outro, que relaxa as nossas atividades pastorais e serve para trabalhar as propostas futuras. Quem sabe se em casa também experimentamos um mês diferente.
É certo que, neste ano de pandemia, o verão voltará a ser seguramente diferente para muitos de nós, mas também pode ser uma nova oportunidade de reencontro pessoal, percorrer uma espécie de Caminho de Santiago interior que nos ajude a libertar-nos dos medos que a pandemia nos trouxe, de vencer as dificuldades que apareceram nas nossas vidas e de enfrentar as perspetivas incertas que se depositaram nos nossos corações.
Como quando se faz o Caminho de Santiago, nos momentos atuais permitamos que nos escutemos a nós mesmos e descubramos as respostas às nossas perguntas mais importantes. Porque normalmente as respostas a essas perguntas Deus escreveu-as dentro dos nossos corações.