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A “novidade” do apoio do papa Francisco à criação de leis sobre uniões civis de pessoas do mesmo sexo

O papa Francisco expressou o apoio à criação de legislação para a união civil de casais do mesmo sexo no documentário “Francesco”, que estreou quarta-feira em Roma. As suas declarações, por muitos na imprensa nacional e internacional consideradas novidade absoluta, situam-se no seguimento de tomadas de posição anteriores.

No documentário, Francisco sustenta que as pessoas homossexuais são «filhas de Deus» e «têm o direito a uma família. Não se pode expulsar ninguém de uma família».

Francisco sugere que a legislação relativa à união civil é uma maneira de os países protegerem os direitos legais das pessoas envolvidas em relacionamentos homossexuais: «O que temos de fazer é uma lei de convivência civil [para que essas pessoas] tenham o direito a estar cobertas legalmente. Eu defendi isso».

Em 2014, a poucos dias de completar o primeiro ano de pontificado, durante uma entrevista ao jornal italiano “Corriere della Sera”, o papa tinha apontado que a aprovação de legislação sobre uniões civis por parte dos estados constituía uma forma de proverem direitos legais aos casais do mesmo sexo.



«Cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar qualquer sinal de discriminação injusta, e particularmente toda a forma de agressão e violência»



«O matrimónio é entre um homem e uma mulher. Os estados laicos querem justificar as uniões civis para regular diferentes situações de convivência, impelidos pela exigência de regular aspetos económicos entre as pessoas, como, por exemplo, assegurar a assistência de saúde. Trata-se de pactos de convivência de diferente natureza, das quais não saberei elencar as diversas modalidades. É preciso ver os diferentes casos e avaliá-los na sua verdade», referiu.

No ano de 2017, em entrevista ao francês Dominique Wolton, o papa, questionado sobre a possibilidade do matrimónio para casais do mesmo sexo, respondeu: «O matrimónio é a união de um homem com uma mulher. Não brincamos com a verdade».

No documentário de Evgeny Afineevsky, a questão é abordada num segmento em que comparece Andrea Rubera, italiano homossexual que participou numa das missas a que o papa preside diariamente, na capela da casa de Santa Marta, no Vaticano.

Rubera refere que entregou ao papa uma carta na qual descrevia as conversas que mantinha com o seu parceiro sobre se deviam levar as suas crianças à igreja, temendo que poderiam ser submetidos a um julgamento injusto por serem filhos de um casal homossexual. Mais tarde, Francisco telefonou a Rubera, e encorajou-o a levar as crianças à igreja e a ser honesto com o pároco acerca da situação de vida da família.



A frase de Francisco que, possivelmente, mais impacto causou sobre as pessoas homossexuais terá sido a que proferiu no voo entre o Rio de Janeiro e Roma, após a sua primeira viagem internacional, para participar nas Jornadas Mundiais da Juventude, em julho de 2013: «Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para a julgar?»



Na exortação “Amoria laetitia”, sobre o amor na família, Francisco acentua que «cada pessoa, independentemente da própria orientação sexual, deve ser respeitada na sua dignidade e acolhida com respeito, procurando evitar qualquer sinal de discriminação injusta, e particularmente toda a forma de agressão e violência. Às famílias, por sua vez, deve-se assegurar um respeitoso acompanhamento, para que quantos manifestam a tendência homossexual possam dispor dos auxílios necessários para compreender e realizar plenamente a vontade de Deus na sua vida» (n. 250).

No número seguinte, o documento de 2016 frisa que «que não existe fundamento algum para assimilar ou estabelecer analogias, nem sequer remotas, entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimónio e a família». 

Mas a frase de Francisco que, possivelmente, mais impacto causou sobre as pessoas homossexuais terá sido a que proferiu no voo entre o Rio de Janeiro e Roma, após a sua primeira viagem internacional, para participar nas Jornadas Mundiais da Juventude, em julho de 2013: «Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para a julgar?».



Houve outras ocasiões em que Francisco expressou apoio à defesa da dignidade das pessoas homossexuais. Uma das mais recentes ocorreu há pouco mais de um mês, no termo da audiência geral de 16 de setembro, ao receber um grupo de pais com filhos lgbt: «O papa ama os vossos filhos tal como são, porque são filhos de Deus»



Em 2016, Francisco, também numa conferência de imprensa “aérea”, quando regressava da viagem à Geórgia e Azerbaijão, afirmou: «Antes de mais nada, acompanhei na minha vida de sacerdote, de bispo – também de Papa – acompanhei pessoas com tendência homossexual e também com práticas homossexuais. Acompanhei-as, aproximei-as do Senhor, alguns não podem, mas eu acompanhei-as e nunca abandonei ninguém. Isto é o que se deve fazer. As pessoas devem ser acompanhadas como as acompanha Jesus. Quando chega diante de Jesus uma pessoa que tem esta condição, com toda a certeza Jesus não lhe dirá: “Vai-te embora porque és homossexual”. Isto não». 

Dois anos depois, quando voltava do Encontro Mundial das Famílias realizado em Dublin, Irlanda, Francisco observou: «O que diria eu a um pai que vê que seu filho ou filha tem essa tendência. Eu, antes de mais nada, diria para rezar: reze. Não condenar, mas dialogar, entender, abrir espaço para o filho ou filha. Dar espaço para que se expresse. (…) Mas nunca direi que o silêncio é o remédio: ignorar o filho ou a filha com uma tendência homossexual é uma falta de paternidade e maternidade. “Tu és meu filho, tu és minha filha, assim como és; Eu sou teu pai e tua mãe, vamos conversar. E se vós, pai e mãe, não estais a conseguir, pedi ajuda, mas sempre em diálogo, sempre em diálogo. Porque aquele filho e filha têm direito a uma família e a família é aquela que tendes: não o afasteis da família».

Houve outras ocasiões em que Francisco expressou apoio à defesa da dignidade das pessoas homossexuais. Uma das mais recentes ocorreu há pouco mais de um mês, no termo da audiência geral de 16 de setembro, ao receber um grupo de pais com filhos lgbt: «O papa ama os vossos filhos tal como são, porque são filhos de Deus».


 

Fontes: National Catholic Reporter, Corriere della Sera, The Catholic Telegraph, Avvenire
Edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 22.10.2020 | Atualizado em 07.10.2023

 

 
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