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A aurora mais alta do Paraíso: Antigos cânticos para a Natividade e Nome de Maria

«Anunciai: quem é aquela que nasce no céu, que se ergue como aurora mais alta do Paraíso? Ela vem de longe, a lua e as estrelas são seu ornamento: é a esposa de Nazaré.» O entusiástico grito, quase um toque de trombeta, forma o início do hino alemão pelo nascimento de Maria, a Mãe do Redentor. Composto em 1638 por Johannes Khuen (1605-1675), poeta e pároco em Munique da Baviera, consta apenas de três estrofes em septeto, ou seja, de sete versos cada (uma forma poética rara nas línguas românicas, mas frequente no mundo germânico, após o uso marcado que dela fez Lutero, ao ponto de lhe ser dado o nome de “estrofe luterana”).

«É a rosa puríssima, preferida e belíssima», continua a segunda estrofe, «a virgem sem mancha, a esposa do Senhor. Acorrei a vê-la, a mais bela entre todas as mulheres, a alegria de todo o mundo.» A ênfase é acentuada na última estrofe. «Ela é radiosa, amantada de virtudes, nenhum anjo a ela se compara; pureza e humildade são seu ornamento; como um reservado jardim de flores, banhado pela celeste orvalhada, floresce para sempre.»

O “Cântico dos Cânticos” entrelaça-se com o Apocalipse nesta poética descrição de Maria: a beleza física une-se ao esplendor das virtudes. A melodia do canto, hoje ainda de uso comum, é solene na tonalidade de Dó maior: alguns intervalos ascendentes acentuam-lhe a ênfase. O seu autor foi Joseph Clauder (1586-1653).

Ao texto somente descritivo o jesuíta Guido Maria Dreves (1854-1909), conhecido pelos seus “Analecta hymnica Medii Aevi”, acrescenta duas estrofes de invocação e prece. No recente repertório “Gotteslob” foram omitidas.

O achegamento da natividade de Maria ao nascer do sol, como início da redenção do género humano, inspirou poetas e músicos em várias nações. Entre eles o jesuíta italiano Francesco Saverio D’Aria (1889-1976) com a celebérrima “Aurora”, conhecida como “Da aurora tu nasces mais bela”, musicada depois por Mons. Luigi Guida (1883-1951).



«Maria, nós te honramos e ao teu santo nome. Seja sempre a nossa alegria a de multiplicar o teu louvor». O breve refrão, que se alterna nas três quadras, invoca, ao retomar a liturgia do dia, «Santa Maria, Nossa Senhora, faz com que a nossa voz cante sempre o teu louvor»



Os dois poetas românticos Achim von Arnim (1781-1831) e Clemens Brentano (1778-1842) inseriram na sua grande recolha “Des Knaben Wunderhorn” uma poesia do capuchinho austro-alemão Prokop von Templin (1609-1680) intitulada “O nascimento de Maria”.

Na versão romântica a natividade de Nossa Senhora é inserida no quadro da natureza. «Como os passarinhos do bosque fazem ouvir pelos montes e vales as suas vozes, fortes ou leves, ao primeiro nascer da aurora, mal o céu se tinge de púrpura, assim acorrei vós homens, fazei ouvir a vossa melodia para saudar a criança que Santa Ana pôs no mundo: ela será a vossa alegria.»

Isto dizem as duas primeiras sextilhas de que se compõe o texto. Nas seguintes reforça-se que «a aurora fresca e húmida, as flores belas, as ervas e as plantas» inclinam-se perante a menina, que traz consolação e alegria a toda a humanidade. A melodia original não nos chegou; adaptações sucessivas foram feitas por Armin Knab (1881-1951) e da Ilse Fromm Michaels (1888-1986).

Um canto tradicional alemão, de origem incerta, mas provavelmente setecentista, diz na primeira estrofe: «Maria, nós te honramos e ao teu santo nome. Seja sempre a nossa alegria a de multiplicar o teu louvor». O breve refrão, que se alterna nas três quadras, invoca, ao retomar a liturgia do dia, «Santa Maria, Nossa Senhora, faz com que a nossa voz cante sempre o teu louvor».

Nas estrofes seguintes pede-se que o nome da Rainha dos Céus ecoe e ressoe em toda a Terra e que ela estenda, piedosa, o seu manto sobre os fiéis que proclamam o seu louvor. Cantar o santo nome de Maria: eis o fim a que tendem os devotos, segundo o texto. Ainda não está presente o propósito de reparação da blasfémia, típico da piedade dos séculos XIX e XX, ol que reforça a hipótese de datação do século XVIII. A melodia em Fá maior é muito festiva, envolvente e, ao mesmo tempo, solene; o tema musical retoma em parte a “Missa alemã” de Michael Haydn (1737-1806). O canto continua em uso.


 

Benno Scharf
In L'Osservatore Romano
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: "Natividade da Virgem" | Pietro Cavallini | 1296-1300
Publicado em 08.10.2023

 

 
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