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Leitura: "Jesus explicado a todos"

Leitura: "Jesus explicado a todos"

Imagem Capa | D.R.

Não é uma apologia nem pretende provocar polémica: "Jesus explicado a todos", uma das novidades da Paulinas Editora, apresenta-se como contributo para encontrar caminhos de resposta esclarecedora para algumas questões sobre Jesus.

O autor, Joseph Doré, arcebispo emérito de Estrasburgo, França, é especialista em estudos histórico-críticos da Bíblia e é também considerado profundo conhecedor das temáticas relativas a Cristo, particularmente dos avanços das novas correntes do pensamento cristão nos domínios da investigação e interpretação.

Ao longo da obra o autor coloca perguntas - a primeira das quais sobre a existência de Jesus -, como que a procurar envolver o leitor. O primeiro capítulo, "História", termina na crucificação, enquanto que a ressurreição é refletida na terceira parte, "Identidade". Na segunda secção, "Mensagem", Jesus é apresentado como um mestre que privilegia o amor aos outros e a esperança em Deus.

O último capítulo, "Posteridade", centra-se em múltiplos aspetos relativos à Igreja, como o ministério de Pedro, os concílios, os sacramentos, os artistas (de que adiantamos um excerto) e a perspetiva do final dos tempos.

«Maria Madalena terá sido a companheira ou a mulher de Jesus? Ele era casado?», «Como se situava frente a ela?», «'Que se pode dizer então acerca da identidade de Jesus? Quem era Ele, afinal?», «Como compreender o facto de que esse Filho de Deus salvador teve de passar pela humilhação, pela cruz e pela morte?», «Como distinguir a Igreja de Jesus, se ela é o "Corpo de Cristo"?» são algumas das interrogações colocadas pelo autor.

Joseph Doré salienta que «não se pode pensar em esperar, nem em amar, confiar e crer sem se ter razões para o fazer e, portanto, sem instaurar uma reflexão: sem que a inteligência tenha sido realmente interpelada».

«O primeiro objetivo será esforçarmo-nos por clarificar aquilo que se pode efetivamente saber sobre esse personagem, do qual cada um ouviu falar e apreendeu, pelo menos, parte da sua importância entre as grandes figuras da história da humanidade. Daremos a palavra à ciência histórica e à reflexão crítica que a define e que por ela é levada a cabo», explica o prelado na introdução.

O professor do Instituto Católico de Paris sublinha que «não se tratará de ignorar aquilo que os crentes cristãos entenderam, disseram e anunciaram até hoje, relativamente a esse mesmo personagem».

«Esforçar-nos-emos, simplesmente, por trazer à luz as razões que eles possam ter tido para adotar uma postura em relação a Jesus e para se manifestarem sobre Ele tal como fizeram. Em suma, não apenas chegando a reconhecer nesse homem «um deus», mas a ver nele a própria revelação do Deus «único, vivo e verdadeiro»! Esse objetivo preciso deveria poder ser atingido sem ser necessário solicitar uma adesão crente ao que exporemos nesse sentido», assinala.

O autor está consciente de que a sua autoridade académica e identidade católica possa fazer dele «um partidário ou propagandista faccioso», e por isso explica: «Permito-me precisar, de qualquer modo, que a conceção que eu tenho da minha responsabilidade como crente, como teólogo e como pastor, sempre me impediu de ceder a qualquer forma de proselitismo e, com maior razão ainda, de clericalismo, seja qual for o sentido em que se entendam estes termos».

«Se considero, seguramente, ter boas razões para acreditar naquilo em que acredito – também a propósito de Jesus –, não esqueço que: 1) se trata, precisamente, de uma fé, e não de uma evidência nem de uma certeza que por si só se imponha; 2) compete, portanto, a essa fé encontrar os meios para se expor a si própria, de forma inteligível (no seu conteúdo essencial, nas suas motivações e no seu interesse), àqueles que não aderem à mesma... nem consideram necessariamente a hipótese de tal adesão», acrescenta.

 

"Jesus explicado a todos"
Joseph Doré

A forma como, ao longo dos séculos, os cristãos têm evocado a figura de Jesus não tem sido apenas de ordem intelectual (doutrinal e dogmática), mas também de ordem artística e estética. Porventura existem representações dos momentos característicos?

Os primeiros séculos cristãos não representavam Jesus com imagens esculpidas ou pintadas. Era sem dúvida uma consequência da tradição judaica que não fazia «imagem esculpida» (cf. Êxodo 20,4) do Deus-Javé, o que o reduziria ao nível de «ídolo» e implicaria o risco de práticas supersticiosas. Por outro lado, recorreu-se desde muito cedo à linguagem, à escrita e à música para exprimir o mistério de Deus e dirigir-se a Ele mediante a celebração, o louvor, a súplica, etc., através de «salmos, hinos e cânticos» (Efésios 5,19), acompanhados por instrumentos de sopro e de cordas da época. Na tradição ortodoxa oriental, rapidamente se dará início à arte específica do ícone, concebida como uma representação, ela própria digna de veneração, dos mistérios da vida de Cristo e dos santos...

Contudo, não deixa de ser verdade que foi necessário esperar pelo fim do século III para ver aparecer representações artísticas pintadas ou esculpidas de Jesus Cristo. Bastante discretas, no início, elas foram-se multiplicando de forma acelerada, quando, a partir do século IV, uma arte cristã específica começou a desenvolver-se noutro domínio: na arquitetura.

Com o despertar de velhas resistências, rapidamente se desenvolveu um vasto movimento denominado iconoclasta, quer dizer, «destruidor de imagens», assumindo dimensões tais que foi necessário recorrer a um novo concílio, o sétimo ecuménico: Niceia II (787). Este pronunciou-se firmemente contra a iconoclastia e em favor do fabrico de ícones, determinando as condições e modalidades da sua veneração.

 

Embora a tendência fosse de evitar representar Jesus, como se explica que a sua representação se tenha tornado corrente?

Havia uma forte motivação doutrinal para essa evolução. Como a fé cristã proclama a vinda do Filho de Deus «na carne» e a sua «encarnação» no mundo, como diz ainda o Prefácio – ou seja, o primeiro elemento da grande oração eucarística – da missa de Natal, ela professa que, em Jesus, o Deus invisível por natureza «se tornou visível aos nossos olhos». Como ela considera que as palavras de Jesus eram palavras do próprio Deus, e os seus atos, atos do próprio Deus, a ponto de Jesus ter podido responder assim a uma pergunta do seu discípulo Filipe: «Quem me vê, vê o Pai» (cf. João 14,8-9) – sim, como ela se exprime, tudo levava uma fé assim a representar, através das diversas artes plásticas, a figura corpórea do «verdadeiro homem» que era Jesus; e, portanto, a representar os numerosos episódios da existência «desse homem» que, no seu tempo, se tinha podido não só escutar, mas ver e até tocar.

 

Será possível distinguir grandes tipos na representação artística que se tem feito de Jesus ao longo dos dois milénios «depois de Jesus Cristo»?

Essa tarefa seria imensa, por isso contentar-nos-emos em evocar alguns grandes tipos.

Os inícios são modestos, situando-se nas catacumbas romanas. Destaca-se sobretudo a figura de um jovem pastor. Contudo, não foi necessário esperar muito tempo (podemos recordar os esplêndidos mosaicos de Ravena, de Monreale, etc.) para ver desabrochar e resplandecer as representações da glória do Ressuscitado em cúpulas e tímpanos bizantinos, e através de toda a arte orient al/ortodoxa do ícone: "Pantocrator", "Majestas Domini", etc.

Durante toda a Idade Média, os cristãos apegar-se-ão cada vez mais à representação dos vários mistérios da vida de Jesus mediante a reprodução das cenas do Evangelho, desde a Anunciação e a Natividade até às aparições pascais. Os séculos XIV e XV insistirão de bom grado sobre as marcas daquilo a que se pode chamar a autenticidade humana de Jesus Cristo, a saber, os sofrimentos da Paixão: condenação, flagelação, caminho da cruz, crucifixão...

Vários artistas se esforçarão por sugerir da melhor forma possível o mistério humano-divino da personalidade singular de Jesus, desde Giotto e Fra Angelico até Rembrandt, passando, por exemplo, por Mantegna e El Greco.

Com a aproximação da época contemporânea, o interesse recairá, por um lado, sobre a infância de Jesus (muitas vezes tratada com uma sensibilidade um pouco adocicada) e, por outro, sobre o supliciado do Gólgota, cuja fronte foi coroada de espinhos (o crucifixo) e o coração trespassado (o «Sagrado Coração»).

Basta mencionar Rouault (1871-1958), por um lado, e Arcabas (nascido em 1926), por outro, para se poder sublinhar a permanência do interesse pela representação de Jesus Cristo até hoje, tanto através da pintura e dos vitrais como mediante a escultura e a joalharia.



 

SNPC
Com Gérard Billon
Publicado em 05.05.2017

 

Título: Jesus explicado a todos
Autor: Joseph Doré
Editora: Paulinas
Páginas: 176
Preço: 9,90 €
ISBN: 978-989-673-577-7

 

 
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