Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura
Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura - Logótipo
secretariado nacional da
pastoral da cultura

Deus está aqui, mas andamos distraídos

João Batista foi preso, cala-se a grande voz do rio Jordão, mas levanta-se uma voz livre junto ao lago da Galileia (cf. Mateus 4,12-23). Anda à vista de todos, sem medo, um imprudente jovem rabi, só, e vai enfrentar fronteiras, na mestiça Galileia, crisol de gentes, quase Síria, quase Líbano, região quase perdida para a fé.

Começou a pregar e a dizer: convertei-vos, porque o Reino dos Céus está próximo. Estamos perante a mensagem geradora do Evangelho. A bela notícia não é «convertei-vos», a palavra nova e poderosa está no pequeno termo «está próximo»: o Reino está próximo, e não distante; o Céu está próximo, e não perdido; Deus está próximo, está aqui, e não para além das estrelas. Há pólen divino no mundo. Estamos mergulhados nele. Deus veio, força de proximidade dos corações, «força de coesão dos átomos, força de atração das constelações» (Turoldo).

O que é esta paixão de proximidade nova e antiga que percorre o mundo? Não é outra coisa que o amor, que se exprime em toda a potência e variedade do seu fogo. «O amor é paixão de unir-se ao amado» (Tomás de Aquino), paixão de proximidade, paixão de comunhão imensa: de Deus com a humanidade, de Adão com Eva, da mãe com o filho, do amigo com o amigo, das estrelas com as outras estrelas.

«Convertei-vos», então, significa: dai-vos conta disso! Voltai-vos para a luz, porque a luz já aqui está. A notícia belíssima é esta: Deus está em ação, aqui entre as colinas e o lago, pelas estradas de Cafarnaum e de Betsaida, para curar a tristeza e o desamor do mundo. E cada estrada do mundo é a Galileia. Nós, em vez disso, caminhamos distraídos e pisamos tesouros, passamos ao lado de pedras preciosas e não nos damos conta.



Sabemos que, historicamente, as Este rabi coloca-me à disposição um tesouro, de vida e de amor, um tesouro que não engana, que não desilude. Escuto-o e sinto que a felicidade não é uma quimera, tal como os Estados, partidos e ideologias, tiveram dificuldades com os artistas



O Evangelho de Mateus fala do «Reino dos Céus», que é como dizer «Reino de Deus»: e é a Terra como Deus sonha; o projeto de uma nova arquitetura do mundo e das relações humanas; uma história finalmente livre do engano e da violência; uma luz que ilumina por dentro, uma força que penetra a trama secreta da história, que circula nas coisas, que não está parada, que impele para o alto, como o fermento, como a semente. A vida que reparte. E Deus dentro dela.

Enquanto caminhava ao longo do mar da Galileia, vê dois irmãos que lançavam as redes ao mar. Jesus caminha, mas não quer agir sozinho, precisa de homens e também de mulheres que lhe sejam próximos (cf. Lucas 8,1-3), que mostrem o rosto belo, nobre e luminoso do Reino e da sua força de comunhão. E chama-os a ousar, a ser algo loucos, como Ele.

Passa por toda a Galileia alguém que cura o homem. Passa alguém que sabe tornar a dar encanto à vida. E atrás dele vão homens e mulheres sem dotes especiais, e atrás dele vamos também nós, pequenos anunciadores, para que grande seja só o anúncio.

Terra nova, ao longo do mar da Galileia. E aqui, sobre nós, um céu novo. Este rabi coloca-me à disposição um tesouro, de vida e de amor, um tesouro que não engana, que não desilude. Escuto-o e sinto que a felicidade não é uma quimera, é possível, melhor, está próxima.


 

Ermes Ronchi
In Avvenire
Trad.: Rui Jorge Martins
Imagem: ChimS/Bigstock.com
Publicado em 23.01.2020

 

 
Relacionados
Destaque
Pastoral da Cultura
Vemos, ouvimos e lemos
Perspetivas
Papa Francisco
Teologia e beleza
Impressão digital
Pedras angulares
Paisagens
Umbrais
Mais Cultura
Vídeos