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Deus das surpresas e dos recomeços, que falas a linguagem do amor e abraças a nossa imperfeição

«Deus surpreende. É o Senhor das surpresas que convida não só a surpreender-se, mas também a realizar coisas surpreendentes», afirmou hoje o papa em Sófia, na primeira missa a que presidiu na viagem que entre este domingo e terça-feira o leva à Bulgária e à Macedónia do Norte.

É o inesperado divino «que rompe os fechamentos paralisadores, restituindo a audácia capaz de superar a suspeita, a desconfiança e o medo que se esconde por trás do “sempre se fez assim”», frisou.

Francisco referiu-se ao trecho do Evangelho proclamado nas missas deste domingo, em que Cristo ressuscitado se encontra com os apóstolos frustrados por horas de pesca fracassada.

«Deus surpreende quando chama e convida a lançarmos, já não as redes, mas a nós mesmos ao largo na história e a olhar a vida, a olhar os outros e também a nós mesmos com os seus próprios olhos», acentuou.



«Um dos grandes desgostos e obstáculos, que hoje sentimos, situa-se não tanto ao nível da compreensão de que Deus é amor, mas no facto de termos chegado a anunciá-lo e testemunhá-lo duma maneira tal, que, para muitos, este não é o seu nome»



Para muitos, é também uma surpresa que Deus, suma perfeição, não só acolha como vá ao encontro da imperfeição humana: Cristo «não espera situações ou estados de ânimo ideais, cria-os. Não espera encontrar-se com pessoas sem problemas, sem deceções, pecados ou limitações».

«Deus ama. Deus chama, Deus surpreende, porque Deus ama. O amor é a sua linguagem. Por isso, pede a Pedro – e a nós – para sintonizar-se com a mesma linguagem: “amas-me?”», disse o papa, aludindo à tripla pergunta que Jesus dirigiu ao apóstolo, contraponto da sua tripla negação.

Para Francisco, «ser cristão é um chamamento a ter confiança de que o amor de Deus é maior do que qualquer limite ou pecado», ainda que a prática dos fiéis o contradiga publicamente, suscitando a desconfiança e o afastamento.

«Um dos grandes desgostos e obstáculos, que hoje sentimos, situa-se não tanto ao nível da compreensão de que Deus é amor, mas no facto de termos chegado a anunciá-lo e testemunhá-lo duma maneira tal, que, para muitos, este não é o seu nome. Mas Deus é amor, que ama, dá-se, chama e surpreende», vincou.



«Seja-me permitido sugerir que não fecheis os olhos, o coração e a mão – como é tradição vossa – a quem bate à vossa porta»



No primeiro encontro que teve após tocar solo búlgaro, com autoridades, corpo diplomático e sociedade civil, Francisco salientou que no país, «ponte entre Oriente e Ocidente», a «diversidade, no respeito pelas peculiaridades específicas, é vista como uma oportunidade, uma riqueza e não como motivo de contraste».

«Aproveitemos da hospitalidade que o povo búlgaro nos oferece para que cada religião, chamada a promover harmonia e concórdia, ajude o crescimento duma cultura e dum ambiente permeados de pleno respeito pela pessoa humana e a sua dignidade, instaurando laços vitais entre civilizações, sensibilidades e tradições diferentes e rejeitando toda a violência e coerção. Assim serão desbaratados aqueles que procuram por todos os meios manipulá-la e instrumentalizá-la», frisou.

Num país que tende para o envelhecimento, e que conhece «o drama da emigração» da sua população em busca de melhores oportunidades, Francisco lançou um apelo: «Seja-me permitido sugerir que não fecheis os olhos, o coração e a mão – como é tradição vossa – a quem bate à vossa porta». O programa da visita do papa prevê, para segunda-feira, a visita, de caráter particular, a um campo de refugiados.

O país que acolheu os Santos Cirilo e Metódio, padroeiros da Europa, que «servem de exemplo com as suas orações, engenho e concorde trabalho apostólico, e continuam a ser, passado mais de um milénio, inspiradores dum diálogo fecundo, de harmonia, de encontro fraterno entre as Igrejas, os Estados e os povos», recebeu em tempos recentes, durante cerca de uma década, o delegado apostólico Angelo Roncalli, futuro papa João XXIII, e, no início deste século, S. João Paulo II.



Não «obsta à unidade da Igreja uma certa diversidade de costumes e usos» e que, entre Oriente e Ocidente, «várias fórmulas teológicas, em vez de se oporem, não poucas vezes se completam mutuamente»



A Bulgária é também o país que na sua história conta com os cristãos que «sofreram tribulações pelo nome de Jesus, especialmente durante a perseguição do século passado», realidade que continua hoje em muitos locais do globo, onde «muitos outros irmãos e irmãs espalhados pelo mundo continuam a sofrer por causa da fé», lembrou o papa na visita ao patriarca Neofit e ao santo sínodo.

Ao «ecumenismo de sangue» junta-se o «ecumenismo do pobre»: católicos e ortodoxos são «chamados a caminhar e agir juntos para dar testemunho do Senhor, em particular servindo aos irmãos mais pobres e esquecidos em quem Ele está presente».

Citando o concílio Vaticano II (1962-1965), o papa realçou não «obsta à unidade da Igreja uma certa diversidade de costumes e usos» e que, entre Oriente e Ocidente, «várias fórmulas teológicas, em vez de se oporem, não poucas vezes se completam mutuamente»; por isso: «Quantas coisas pudemos aprender uns com os outros!».

«No anúncio, um campo que nos interpela é o das novas gerações. Como é importante – no respeito pelas respetivas tradições e peculiaridades – ajudar-nos a encontrar maneiras de transmitir a fé segundo linguagens e formas que permitam aos jovens experimentar a alegria dum Deus que os ama e chama! Caso contrário, serão tentados a confiar nas inúmeras sereias enganadoras da sociedade consumista», observou.

Na despedida, Francisco pediu ao clero ortodoxo «um lugar» nas suas orações, na certeza «de que a oração é a porta que abre todo o bom caminho». 


 

Rui Jorge Martins
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Publicado em 05.05.2019 | Atualizado em 06.10.2023

 

 
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