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Batismo de Jesus: O céu abre-se e ninguém o fechará

Batismo de Jesus: O céu abre-se e ninguém o fechará

Imagem Grisha Bruev/Bigstock.com

«Logo que Jesus foi batizado, saiu da água. Então, abriram-se os céus e Jesus viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e pousar sobre Ele. E uma voz vinda do céu dizia: “Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência”» (Do Evangelho da Festa do Batismo de Jesus, Mateus 3, 13-17).

Jesus recebe o Batismo e eis que os céus se abrem. O Batismo é narrado como um simples inciso; no centro é colocado o abrir-se do céu. Como se abre uma brecha nos mutos, uma porta ao sol, como se abrem os braços aos amigos, ao amado, aos filhos, aos pobres. O céu abre-se para que a vida saia, para que a vida entre. Abre-se sob a urgência do amor de Deus, sob a opressão da vida sofredora, e nunca mais ninguém o fechará.

E do céu vem uma voz que dizia: este é o Filho meu, o amado, nele pus a minha complacência. Três afirmações dentro das quais sinto pulsar o coração vivo do cristianismo e, junto ao de Jesus, o meu verdadeiro nome.

Filho é a primeira palavra. Deus gera filhos. E os gerados têm o cromossoma do genitor nas células; em nós há o ADN divino, «o homem é o único animal que tem Deus no sangue» (G. Vannucci).

Amado é a segunda palavra. Antes que tu ajas, antes da tua resposta, que tu o saibas ou não, a cada dia, a cada despertar, o teu nome para Deus é “amado”. De um amor imerecido, que te é preveniente, que te antecipa, que te envolve. Cada vez que eu penso “se hoje for bom, Deus amar-me-á”, não estou diante do Deus de Jesus, mas da projeção dos meus medos.



Eu que não o escutei, eu que me fui embora, eu que inclusive o traí, ouço dizer-me: gosto de ti. Mas que alegria pode chegar a Deus desta cana frágil, desta mecha pálida que eu sou? E todavia é assim



No discurso do adeus, Jesus pede por nós: «Sabemos, Pai, que os amaste como me amaste». Frase extraordinária: deus ama cada um como amou Jesus, com a mesma intensidade, a mesma emoção, o mesmo impulso e confiança, não obstante todas as desilusões que eu lhe provoquei.

A terceira palavra: minha complacência. Termo inabitual e no entanto belíssimo, que na sua raiz literal se deve traduzir: em ti eu experimento agrado. A Voz grita do alto do céu, grita no mundo e dentro do coração, a alegria de Deus: é belo estar contigo. Tu, filho, agradas-me. E quanta alegria sabes dar-me!

Eu que não o escutei, eu que me fui embora, eu que inclusive o traí, ouço dizer-me: gosto de ti. Mas que alegria pode chegar a Deus desta cana frágil, desta mecha pálida que eu sou? E todavia é assim, é Palavra de Deus.

A cena grandiosa do Batismo de Jesus, com o céu rasgado, com o voo de asas abertas do Espírito, com a declaração de amor de Deus sobre as águas, é também a cena do meu Batismo, aquele do primeiro dia e aquele existencial, diário.

A cada aurora uma voz repete as três palavras do Jordão, e ainda mais forte nas madrugadas repletas de trevas: filho meu, meu amor, minha alegria, reserva de coragem que abre as asas sobre cada um de nós, que nos ajuda a elevar-nos para o alto, com toda a força, qualquer que seja o obscuro céu que encontremos.



 

Ermes Ronchi
In "Avvenire"
Trad.: Rui Jorge Martins
Publicado em 09.01.2017

 

 
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