«Queres curar-te?... Se queres curar-te, levanta-te e caminha.» Jesus não dá respostas, coloca perguntas. Queres verdadeiramente curar-te?
Está a tornar-se adulta uma geração à qual demos demasiadas respostas e impedimos de formular perguntas: «Como estás? O que queres desta vida? És feliz?». Tem-se medo que este colocar-se interrogações seja excessivamente revolucionário. Consideram-se neuróticos aqueles que se põem estas perguntas porque são obstáculo à satisfação dos instintos.
O resultado é uma geração que pensa que a vida é como uma roda de uma engrenagem que não flui nem se transforma.
Jesus, ao invés, diz: «Olha para dentro de ti e pergunta-te o que verdadeiramente queres, e se o queres, levanta-te e caminha, o teu coração seja sem medo e torne-se vasto».
A dificuldade e os obstáculos servem antes de tudo para provar a seriedade, a firmeza, a substância da nossa vontade.
«Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração.»
A vontade fez-se frágil porque o nosso coração já não sabe qual é e onde está o tesouro da nossa vida, porque uma impercetível preguiça nos entorpece, impedindo-nos de cultivar e proteger esta busca.
A vida morre-nos porque não estamos motivados, mas suspensos do exterior para objetivos abstratos, enquanto a vida tem o seu tesouro nas pessoas, nos gestos e nos lugares de cada dia.
Acomodamo-nos àquilo que somos obrigados a fazer, habituamo-nos ao costumeiro, fingimos que não temos necessidade dos outros, quando depois deles dependemos completamente.
A nossa vontade é fraca porque nos falta a constância, e porque nos falta a coragem de dizer aquilo que se pensa e de fazer aquilo que se diz. Porque não temos a audácia de proporcionar as nossas forças à altura e grandeza dos nossos ideais.
A nossa natureza é fraca e delicada, facilmente condicionada pelos hábitos, mas é também capaz de aceitar a superação e de transformar a fraqueza em vontade.
A vontade adquire força se em nós amadurecerem escolhas no silêncio, na escuta de nós próprios e dos companheiros de estrada que têm no coração o nosso caminho.
É preciso libertar a vontade do conformismo, da preguiça e do medo que a tem prisioneira e lhe tira a coragem de ousar, de imaginar modos alternativos de viver.
S. Francisco não tinha medo da vida, do céu, da terra, do lobo, do fogo; passava portas estreitas, atravessava os umbrais levando-se a si próprio para além. Como ele, devemos aprender a viver estando dentro da vida, tomar decisões e saber tornar a escolher a cada dia com força, coragem e confiança.
Escolher é preparar a paz em nós próprios.