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Horas de Nossa Senhora / Rezar em português

Apresentar uma edição fac-similada de um Livro de Horas cujo original não é nem um manuscrito iluminado nem em latim pode parecer estranho. Na verdade trata-se de um livro impresso na cidade de Paris, em 1500/1501, e o único exemplar conhecido encontra-se na Biblioteca do Congresso, em Washington. É tão raro como um manuscrito.

Trata-se das Horas de nossa Senhora segundo costume Romaano . com as horas do spirito sancto . e da cruz e dos finados . e sete psalmos . e oraçam de sam lyom papa . e oraçam da empardeada . e com outras muytas e deuotas oraçoões. A sua singularidade e raridade deve-se, por um lado, à sua natureza – que motivava um uso e manejo quotidiano o que lhe provocava fragilidade – e, por outro, ao seu conteúdo – dado incluir os conjuros chamados Oração de São Leão Papa e Oração da Emparedada, a Oração de Nosso Senhor Jesus Cristo (Juste judex), antífona e oração de São Cristóvão e «indulgências fingidas» [p. 173] dos Papas João XXII e Inocêncio III, todos proibidos pela Inquisição do século XVI.

A edição da Biblioteca Nacional de Portugal inclui dois volumes: Fac-símile do exemplar da Biblioteca do Congresso, em Washington, Rare Book Division, Rosenwald, 451 (240 páginas) e um estudo de João José Alves Dias intitulado “Rezar em português: introdução ao livro de Horas de Nossa Senhora segundo costume Romano...”.

 

Um tempo santificado

Antes das torres das igrejas serem decoradas com relógios, o que só se generalizou pelo século XV, o tempo era marcado pelo som das horas canónicas, tangidas pelo clérigo no sino, horas essas que o cristianismo recuperou da prática judaica de recitar orações a horas fixas do dia. Numa cadência de três horas, os sinos tocavam e anunciavam o momento de rezar, marcando assim o tempo religioso e o ritmo do trabalho.

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Inicialmente destinava-se a servir de guia aos religiosos e monges de cada comunidade, assim como a todos os ordenados, dado que estes tinham de realizar, de forma ininterrupta, a oração da Igreja (louvar a Deus e pedir a salvação da humanidade). A vida consagrada, organizada com o monaquismo, tinha como objectivo máximo essa oração regular que assim se desenvolveu e aumentou, pois a ela eram dedicadas várias horas do seu labor. Seguiam para esse efeito o Breviário, livro que, de uma forma breve e prática, condensava todos os textos necessários para esses ofícios divinos.

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Essas horas, distribuídas na sua forma inicial por oito tempos, tinham os seguintes nomes: matinas (meia-noite); laudes (três da manhã); prima (seis horas); terça (nove horas); sexta (meio-dia); noa (três da tarde); vésperas (seis da tarde); completas (nove da noite/depois do pôr-do-sol). A cada uma destas horas correspondia um conjunto de orações.

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Os Livros de Horas

Toda a comunidade cristã era também convidada a participar nessa celebração constante. Para que o pudesse fazer começaram a aparecer, na Idade Média tardia, os chamados Livros de Horas, que tornavam acessível aos leigos, através de imagens e de diálogos, o Breviário, que os não tinham. Lembremos o que escreveu Lewis Carroll. no começo da sua obra imortal Alice no País das Maravilhas: «Alice começava a aborrecer-se imenso de estar sentada à beira-rio com a irmã, sem nada para fazer: espreitara uma ou duas vezes para o livro que a irmã lia, mas não tinha gravuras nem diálogos: E de que serve um livro, pensou Alice,se não tem gravuras nem diálogos?”». Pensamento semelhante deveriam ter os Homens medievos, dado que os Livros de Horas se tornaram o maior best-seller dos séculos XIV a XVI. O aparecimento da imprensa veio ajudar essa divulgação e esse êxito.

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Livros com imagens que permitiam uma dupla leitura: as representações facilitavam a apreensão do texto, ou a meditação sobre o mesmo, ao mesmo tempo que constituíam um guia para os que não sabiam ler, trazendo rapidamente à memória os ensinamentos das Escrituras.

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Os Livros de Horas, quer manuscritos que impressos, obedecem a uma tipologia comum: 1. O Almanaque ou Tábua das Festas Móveis; 2. O Calendário; 3. Os Evangelhos e a Paixão; 4. As Horas propriamente ditas da Virgem Maria, da Cruz e do Espírito Santo; 5. Os Sete Salmos de Penitência; 6. As Vigílias dos mortos; 7. Orações diversas. Cada uma destas partes era separada por uma grande imagem relacionada com o Ofício que acompanhava. As imagens que adornavam e iluminavam as diferentes cercaduras de cada uma das folhas encontravam-se, por norma, também relacionadas com o mesmo texto.

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Até ao terceiro quartel do século XV, estes Livros de Horas eram quase exclusivamente em latim, manuscritos e ricamente iluminados. Dada a sua qualidade de objecto de arte, destinavam-se a servir ou reis ou grandes senhores da nobreza. A imprensa veio permitir a sua difusão junto de todos os letrados.

 

João José Alves Dias
In Rezar em português, ed. Biblioteca Nacional de Portugal
24.02.10

Capa

Horas de Nossa Senhora...
Rezar em português
2 vol.

Autor (Rezar em português)
João José Alves Dias

Editora
Biblioteca Nacional
de Portugal

Ano
2009

Páginas
240 + 188

Preço
20,00 €

ISBN
978-972-565-453-8


 

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