Exposição
Annemarie Schwarzenbach: Auto-retratos do mundo
Ao longo da sua breve vida (1908-1942) a escritora, jornalista, fotógrafa e viajante suíça Annemarie Schwarzenbach, efectuou numerosas reportagens fotográficas pela Europa, Médio Oriente (Irão, Iraque e Afeganistão), África e América do Norte, destacando-se a sua passagem por Lisboa durante a ditadura do Estado Novo (1941-1942). Esta exposição apresenta, ao longo de cinco núcleos, cerca de 200 fotografias da sua autoria, textos literários e jornalísticos e documentação original, que nos permitem entender o que era o mundo entre as duas Grandes Guerras e o modo como uma europeia observou e se relacionou com as culturas "estrangeiras", no contexto histórico, político e cultural da modernidade.
"Tu Viste os Seus Rostos"
A fotografia realista, de inventário social dos fotógrafos norte-americanos da Farm Security Administration influenciou Schwarzenbach, que também fotografou a pobreza dos estados do sul. Significativa e ironicamente, a obra de denúncia da pobreza rural, de Erskine Caldwell e Margaret Bourke-White, You Have Seen Their Faces, foi usada pela autora como título para uma das suas fotografias que testemunham a ascensão do nazismo na Europa. Os rostos da imposição do nazismo teriam em breve um significado tão ou mais cruel do que as imagens da pobreza, e todas as outras faces, doutros lugares, representam a sua profunda e humanista reflexão sobre o mundo.
A Eficácia Imagética dos Fascismos
Dividido entre a "Ascensão do Nazismo" e o "Fascismo 'soalheiro' de Portugal" este núcleo aborda a ascensão do nazismo na Áustria e do fascismo português no Estado Novo. A sua posição extremamente crítica em relação ao nazismo alemão foi bem diversa da sua complacência com o fascismo português. Razões pessoais e de circunstância terão estado na origem desse olhar tão diverso, mas a sua passagem por Portugal permite-nos avaliar a máquina de propaganda eficaz que o Estado Novo construiu sobre si como país "paraíso", tanto interna como externamente, em plena II Guerra Mundial.
Pode o Oriente ainda ser Oriente?
O Médio Oriente esteve desde sempre no roteiro das viagens de Schwarzenbach. As primeiras viagens que fez foram à Turquia, Síria, Líbano, Palestina, Iraque e Irão. A última viagem em 1939 com destino ao Afeganistão, acompanhada de Ella Maillart, é provavelmente a que permitiu à autora desenvolver uma observação mais rica do Médio Oriente, sendo também a mais documentada nesta exposição. Nas suas imagens e escritos é abordado o simbolismo da paisagem, a constatação das mudanças políticas e sociais, a importância da religião e dos lugares sagrados ou o fascínio pela liberdade do nomadismo, sempre duma forma dialogante e construtiva. São documentos visuais e escritos de grande importância já que nos convidam a olhar as sociedades islâmicas, de novo no centro da actualidade internacional, sem preconceitos ocidentais.
Deambulações Coloniais
O último continente da viagem de Schwarzenbach foi África, mais concretamente o ex-Congo belga, e as ex-colónias portuguesas São Tomé e Príncipe e Angola. Contudo, o seu entendimento de África é muito diverso do Médio Oriente. A polarização entre povos "civilizados" e "não civilizados" está patente de forma dicotómica no que escreveu e fotografou. A colonização é observada e interpretada por si como um modo de sobrevivência para a Europa destruída pela guerra, e uma epopeia de desbravamento da selva africana, no sentido do seu "progresso".
"Auto-retratos do Mundo" é uma exposição que pode ser vista no Museu Berardo, em Lisboa, até 25 de Abril. Entrada gratuita.
Texto: Museu Berardo
03.03.10
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