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Universidade Católica organiza colóquio sobre Alexandre O'Neill

Imagem Póster (det.) | D.R.

Universidade Católica organiza colóquio sobre Alexandre O'Neill

O Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Universidade Católica Portuguesa realiza a 22 e 23 de setembro, em Lisboa, "O colóquio do O'Neill: 30 anos + 1 mês", com a participação de quase duas dezenas de oradores, entre os quais Pedro Mexia e José Tolentino Mendonça.

«Que quis eu da poesia? Que quis ela de mim? Não sei bem. Mas há uma palavra francesa com a qual posso perfeitamente exprimir o rompante mais presente em tudo o que escrevo: "dégonfler". Em português, traduzi-la-ia por "desimportantizar", ou em certos momentos, por aliviar, aliviar os outros e a mim primeiro da importância que julgamos ter. Só aliviados podemos tirar o ombro da ombreira e partir fraternalmente, ombro a ombro, para melhores dias, que o mesmo é dizer para dias mais verdadeiros.
É pouco como projecto? Em todo o caso, é o meu.»

Estas palavras ditas pelo autor na abertura do disco gravado em 1972, que acompanhava a edição do livro de poemas "Entre a cortina e a vidraça", foram as primeiras escolhidas pela organização para enquadrar a iniciativa, e «definem bem a atitude literária de Alexandre O’Neill – um poeta a quem repugnavam palavras como carreira, ou poses de “empolamento” características do meio literário, “certa importanticidade sumamente ridícula” de muitos escritores», escreve Maria Antónia Oliveira na página do Instituto Camões.

«Na sua relação com o mundo, nomeadamente com a escrita, o humor estava-lhe sempre presente. As suas histórias deviam ser contadas como a sua obra poética pois são um elemento valioso na sua criação. Os meus amigos eram todos ateus. Eu era um crente rodeado de ateus. Uma vez, ele vinha de táxi com o José Cutileiro e eu saía de casa. Dissemos adeus uns aos outros e o Alexandre disse para o José Cutileiro: “O António ficou a pensar: ‘Lá vão aqueles para o ateísmo’.”», escreveu António Alçada Baptista em 2005.

No dia a seguir à morte de Alexandre O'Neill, que ocorreu a 21 de agosto de 1986, escreveu Baptista-Bastos: «O coração ia-lhe de alto: pulsava, pulsava, até que estoirou. Andava sempre em ato de amor: amor pelas mulheres, pelo vinho tinto, pelos amigos, pelas ruas, pela claridade. Pelas palavras. Pelo segredo que as palavras contêm, lá dentro, no bojo. E delas se servia para ironizar, para ser sarcasta, para demolir. E delas se servia, amiúde, para se esconder, para se desfazer e para se refazer. "O surrealismo está gloriosamente empalhado" (disse, numa entrevista concedida ao semanário "O Ponto"). E acrescentou: "Até já há teses universitárias sobre o surrealismo! Quando há tese, há cadáver"». E concluiu Baptista-Bastos: «Lá se foi o O’Neill. Mas volta sempre, enquanto neste país houver um leitor de poesia».

«Convidámos várias pessoas que têm em comum o interesse e entusiasmo pela vida e obra deste autor. Da poesia às crónicas, da publicidade aos divertimentos com sinais de pontuação, e tentando sempre seguir o cherne, jurámos reparar a sua glória de escritor», explicam os organizadores do colóquio.

O programa provisório refere que a sessão de abertura está marcada para as 9h00, seguindo-se, meia hora depois, as intervenções de Clara Rocha ("Do medo em Drummond, Alexandre O’Neill e Manuel Alegre") e Fernando J. B. Martinho ("Alexandre O’Neill: a prosa dos seus versos").

O segundo painel, às 11h30, é composto por Carlos Nogueira ("Alexandre O’Neill, poeta satírico?") e Graça Videira Lopes ("O glorioso passado futurível de A.O").

A partir das 14h30 os convidados são Fernando Cabral Martins ("À luz da lâmpada miraculosa") e Miguel-Pedro Quadrio, que antecedem, às 16h00, Burghard Baltrusch ("'Amanhã acontecido' – Em torno à impossibilidade de separar poesia, estética e política em Alexandre O’Neill") e Alexandra Lopes.

O segundo dia abre às 9h30 com José Tolentino Mendonça ("'Dai-nos, meu Deus, um pequeno absurdo quotidiano' – a espiritualidade da ironia em Alexandre O’Neill") e Miguel Tamen ("A publicidade").

Gustavo Rubim ("Caos, elipse e jogo: O’Neill ou a violência dos signos) e João R. Figueiredo ("O’Neill e a tradição") intervêm às 11h30, e pelas 14h00 é a vez de Pedro Mexia ("Merecia uma Irene, Lisboa: a cidade de O’Neill") e Sebastião Belfort Cerqueira ("Amigos pensados: Jojo").

A última mesa-redonda, prevista para as 16h00, é composta por Sara Campino ("Inventários, divertimentos e almanaques"), Joana Meirim ("Animais modestos: as críticas de O’Neill") e Ramiro S. Osório ("Ainda cá está quem escreveu").

O colóquio sobre O'Neill, de quem a Assírio & Alvim se prepara para lançar, até ao fim de 2016, uma versão revista e aumentada da obra completa, decorre na Universidade Católica Portuguesa (edifício da Biblioteca, Sala de Exposições) e a inscrição, obrigatória, é gratuita.

Nascido a 19 de dezembro de 1924, Alexandre Manuel Vahía de Castro O'Neill de Bulhões escreveu prosa e poesia sob a influência do surrealismo, publicou traduções e organizou antologias, tendo mais tarde alargado a sua ação à publicidade. Foi várias vezes detido pela polícia política.

O'Neill publicou "A ampola miraculosa" (1948), "Tempo de fantasmas" (1951), "No reino da Dinamarca" (1958), "Abandono vigiado" (1960), "Poemas com endereço" (1962), "Feira Cabisbaixa" (1965), "No reino da Dinamarca – Obra poética (1951-1965) (1967), "De ombro na ombreira" (1968), "As andorinhas não têm restaurante" (1970), "Entre a cortina e a vidraça" (1972), "No reino da Dinamarca – Obra poética (1951-1969), "A saca de orelhas" (1979) e "Uma coisa em forma de assim" (1980).

Gomes Leal, Teixeira de Pascoaes, Carl Sandburg, João Cabral de Melo Neto, Vinicius de Moraes foram os autores que antologiou, a que se acrescenta, em 1977, a "Poesia portuguesa contemporânea".

 

Rui Jorge Martins
Publicado em 16.09.2016

 

 

 
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Na sua relação com o mundo, nomeadamente com a escrita, o humor estava-lhe sempre presente. As suas histórias deviam ser contadas como a sua obra poética pois são um elemento valioso na sua criação
O coração ia-lhe de alto: pulsava, pulsava, até que estoirou. Andava sempre em ato de amor: amor pelas mulheres, pelo vinho tinto, pelos amigos, pelas ruas, pela claridade. Pelas palavras. Pelo segredo que as palavras contêm, lá dentro, no bojo
Convidámos várias pessoas que têm em comum o interesse e entusiasmo pela vida e obra deste autor. Da poesia às crónicas, da publicidade aos divertimentos com sinais de pontuação, e tentando sempre seguir o cherne, jurámos reparar a sua glória de escritor
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