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Leitura: "Um mapa para pensar a religião"

Imagem Capa (det.) | © Alfredo Teixeira

Leitura: "Um mapa para pensar a religião"

A Universidade Católica Editora prepara-se para lançar o livro "Um mapa para pensar a religião", de Alfredo Teixeira, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, músico e compositor, e colaborador da página do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

Doutor em Antropologia Política e Mestre em Teologia Sistemática, Alfredo Teixeira  integrou o grupo interdisciplinar de estudos no domínio do Pensamento Contemporâneo e colaborou na estruturação da área científica da Ciência das Religiões na Universidade Lusófona.

Apresentamos seguidamente um excerto da obra (56 pp., 5,00 €), integrada na coleção "Argumento".

 

Um mapa para pensar a religião
Alfredo Teixeira
Excerto (pp. 15-18)

«A atividade religiosa humana participa da enorme empresa de instituição, reprodução e transmissão do vivido e do adquirido. Nesta lógica, os pontos de vista concentram-se frequentemente nas dinâmicas de conservação, dando lugar ao pressuposto de que a religião se resume ao plano da inércia social. As forças de conservação e inovação na cultura distribuem-se por diversos domínios do mundo da vida – até porque esses dois dinamismos não se excluem. A religião, no plano desta indagação, não está apenas de um lado ou de outro, nem é incomparável ou apenas redutível.

É necessário regressar à evidência primeira de que a religião, nos diferentes territórios do conhecimento, é sempre um objeto construído e, nessa medida, é de todo vantajoso observar a religião enquanto modalidade de instituição do crer, ponto de vista que pode promover a descoberta tanto da sua comparabilidade como da sua singularidade. Note-se que a confusão entre o crer e o credo é ainda frequente. Não se perca de vista que a crença, como enunciado ou repertório de enunciados, não é algo de essencial em algumas manifestações religiosas historicamente conhecidas. Os estudos de Scheid permitem encontrar na religião romana um exemplo paradigmático, onde não se vislumbra o perfil de um credo, mas se descobre uma vida religiosa centrada em atos — ser religioso na Roma antiga consistia em realizar os ritos religiosos. Quando observamos algumas das tradições religiosas do Oriente, descobrimos a centralidade do corpo e do rito. Na rota indo-europeia, a narrativa impôs-se. Os relatos etnográficos, por seu lado, a partir do séc. XIX, tiveram o grande mérito de mostrar que na religião do indivíduo ameríndio ou do aborígene australiano proliferavam os rituais, sem que a partir daí se pudesse codificar um complexo doutrinário. A construção de ortodoxias nos itinerários históricos do cristianismo fez da doutrina um instrumento identificador. A preponderância histórica das Igrejas contribuiu para o estabelecimento de uma vulgata que começa por definir o religioso a partir de um credo.

Os subsídios aqui coligidos – para um mapeamento teórico – são discutidos na habitação de uma pergunta: como pensar a religião enquanto modalidade de crer? Este programa para pensar a religião visa superar um tríplice enviesamento provocado, recorrentemente, pelas definições de religião: o «efeito cogumelo», no qual a religião aparece como conjunto de enunciados, sem a consideração das posições sociais que definem o campo religioso; o «efeito máscara», que reduz a religião à ilusão, a fé à má-fé, e a crença aos dispositivos que transformam os atos de dominação em leis naturais; o «efeito espelho», que faz da religião o próprio sentido coletivo do grupo. Estas reduções da religião, deixadas à sua vocação hegemónica, impedem a descoberta da criatividade social própria do religioso.

 

Publicado em 10.12.2015

 

 
Imagem Capa (det.) | © Alfredo Teixeira
As forças de conservação e inovação na cultura distribuem-se por diversos domínios do mundo da vida – até porque esses dois dinamismos não se excluem. A religião, no plano desta indagação, não está apenas de um lado ou de outro, nem é incomparável ou apenas redutível
Este programa para pensar a religião visa superar um tríplice enviesamento: o «efeito cogumelo», o «efeito máscara» e o «efeito espelho». Estas reduções da religião, deixadas à sua vocação hegemónica, impedem a descoberta da criatividade social própria do religioso
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