Exposição
"A Casa Perfeitíssima": evocação ao legado religioso, cultural e caritativo de D. Leonor
Fundado em 1509 por iniciativa da Rainha D. Leonor (1458-1525), o Mosteiro da Madre de Deus cedo se afirmou como um espaço de excepção no contexto português. Este carácter de singularidade advém tanto das figuras que lhe ficaram associadas, começando pela da sua fundadora, como da própria arquitectura e obras de arte associadas ao cenóbio.
A “Rainha Perfeitíssima”, modelo de virtudes cristãs, foi a fundadora das Misericórdias e uma das responsáveis pela fundação de instituições hospitalares como o Hospital do Pópulo, nas Caldas da Rainha, e o Hospital real de Todos-os-Santos, em Lisboa.
A ela se deve também a encomenda de uma série de obras, tanto no reino como na Europa do sul, em Itália, fundamentalmente, e do norte, na Flandres e na Alemanha. São peças de pintura, iluminura, cerâmica, têxteis e escultura, que aliam à inquestionável qualidade técnica uma riqueza iconográfica e de sentido que revelam a figura da própria monarca e do lugar a que ficou, para sempre, associada.
A vida de D. Leonor, que atravessou o reinado de D. Afonso V, todo o reinado de D. João II e de D. Manuel I e o início do de D. João III, permitiu-lhe assistir a mudanças radicais na vida do reino, coincidindo com um momento fundamental da expansão ultramarina portuguesa. Propiciou, também, o encontro com personagens maiores do universo cultural de então.
O interesse da soberana pela vida intelectual reflecte-se numa série de acções que lhe estão associadas, tanto pela via da promoção do teatro de Gil Vicente, como pela introdução da imprensa em Portugal, a importação de obras de arte e o mecenato artístico interno.
Figura ímpar no universo intelectual e mecenático da Europa de então, D. Leonor foi um elo fundamental da Corte portuguesa com outras cortes europeias. O Mosteiro da Madre de Deus e o Paço de Santo Elói, onde se fez rodear da mais fina elite intelectual da época, formavam a sua própria “Casa”, tendo sido núcleos importantes de dinâmica civil e religiosa do reino no início do século XVI.
Inicialmente pensado para receber um número reduzido de freiras, pois foram sete as religiosas transferidas do Convento de Jesus de Setúbal para a Madre de Deus em 1509, o rápido acréscimo de pedidos de ingresso, que se traduziu na contabilização de 42 religiosas logo em 1525, teve um impacto imediato na reorganização do mosteiro e da vida conventual.
Em causa estava, também, uma vivência comunitária que, por ser feminina, se pautava por particularidades que se reflectiam nos respectivos estatutos, seguindo a observância da Ordem de Santa Clara. A uma vida pautada pelo recolhimento, pela penitência e austeridade, correspondem uma série de pinturas de temática sacra da autoria de pintores norte-europeus ou por eles influenciados.
A exposição divide-se em quatro núcleos: “Devotio Moderna”, “Casa Perfeitíssima”, Corte e Religião” e “Um Mosteiro de Clarissas”.
A mostra, que ficará patente até 11 de Abril, decorre no Mosteiro da Madre de Deus, em Lisboa, sede do Museu Nacional do Azulejo. A visita proporciona também a oportunidade de conhecer o seu património, que integra igualmente diversos motivos religiosos.
Texto: Exposição "A Casa Perfeitíssima"
Fotografia: rm
© SNPC |
08.03.10
Mosteiro da Madre de Deus (Lisboa)
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