Apesar de o compositor francês Francis Poulenc (1899-1963) ter sido muito respeitado em alguns círculos artísticos, nunca conseguiu reunir o mesmo número de seguidores dos seus contemporâneos Ravel ou Satie.
Um dos motivos poderá estar ligado à variedade da sua música: alguns dos seus trabalhos poderiam muito bem ser executados no “Moulin Rouge”, enquanto outros foram concebidos para uma igreja. Na imprensa francesa chegou a ser qualificado de «meio monge, meio delinquente».
Após a morte de um dos seus amigos mais íntimos, Poulenc terá experimentado uma espécie de epifania religiosa, que o levou a compor mais obras vocais baseadas em textos sagrados. O “Stabat Mater”, estreado em 1951, que o autor qualificou de «“requiem” sem desespero», e o “Sept Répons de Ténèbres” (1963) são dois dos seus melhores trabalhos no género: austeros, simples, mas com momentos que tocam o sublime.
Em 2014, a editora Harmonia Mundi reuniu estas obras numa interpretação da Cappella Amsterdam, o Coro de Câmara Filarmónico da Estónia e a Orquestra Nacional Sinfónica da Estónia, que por diversas vezes atuou em Portugal, num conjunto conduzido pelo maestro Daniel Reuss.
Reverência, tristeza, alegria, beleza, poder, piedade e exuberância são algumas das qualidades dos cantores e músicos envolvidos nesta gravação. Desde os ténues e sombrios compassos de abertura do “Stabat Mater” até aos poderosos clamores de Judas nas “Sept Répons”, todo o dinamismo e emoção são explorados na plenitude.
O maestro Daniel Reuss junta as forças vocais e orquestrais tão bem, que raramente ouvi um balanço tão perfeito entre as duas. E a soprano Carolyn Sampson é fascinante. É extraordinária a forma como desliza suavemente para uma nota e permite depois que ela alcance a sua plenitude.
Se já conhece e admira a música de Poulenc, então precisa de ouvir esta gravação. Se ainda não conhece bem este compositor, esta maravilhosa gravação de alguns dos seus melhores trabalhos é uma excelente forma de se familiarizar com música fora de série.