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Sorrir apesar da perseguição

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Sorrir apesar da perseguição

Não costumamos misturar no mesmo texto as palavras "perseguição" e "sorriso". Porém ficamos espantados com esta singela entrevista a duas crianças cristãs, refugiadas em Ankawa, no Norte do Iraque. Aparentemente dizem pouco, alguns lugares comuns e nada de extraordinário. Mas as palavras ditas num contexto difícil e o testemunho da alegria, apesar de todas as contrariedades, têm o mérito de nos recentrar naquilo que é essencial na nossa vida.

«Vamos visitar um grupo de crianças, num lugar chamado AnkawaMall, para saber como vivem...
- Como estás Florin?
- Bem.
- Como estás Mariúm?
- Bem.
- Estás bem?
- Sim.
- Muito bem. Quando vocês se lembram dos dias em que viviam em Qaraqosh, nas vossas casas, de que é que sentem mais falta de não ter neste momento aqui?
- Da nossa escola e da nossa igreja.
- Jesus está connosco, em qualquer parte onde nos encontramos, Ele está connosco.
- Ou seja, mesmo aqui neste campo de refugiados, queres dizer que Jesus está contigo?
- Sim.
- Onde está Jesus?
- No nosso coração.
- Muito bem... Quem tem Jesus no coração sorri, verdade?
- Sim.
- Então é por isso que vocês estão a sorrir?
... (risos)»

Gente pequena a dar um grande testemunho. Para ouvir, ver e meditar nestes dias de Quaresma.

Esta entrevista improvisada por um jornalista do canal árabe Sat7 é muito refrescante. As poucas palavras, na sua simplicidade, ajudam-nos a centrar-nos no mistério da fé cristã, na presença real de um Deus que acampou literalmente no meio do seu povo e no coração de cada um. O sentido do diálogo remete-nos para o valor do sacrifício e do significado redentor do sofrimento mas também da vivência da alegria, do testemunho sereno e da esperança como horizonte de toda uma vida.

As duas crianças que não param de sorrir são oriundas da cidade de Qaraqosh, uma cidade maioritariamente cristã, ocupada e saqueada recentemente pelos jiadistas do autoproclamado "Estado Islâmico". A população daquela cidade e de toda a planície de Nínive foi obrigada a fugir, abandonando as suas casas e deixando tudo para trás. O que tinham desapareceu da noite para o dia. Ficaram sem nada, mas não perderam a dignidade.

Muitas pessoas fugiram durante a noite apenas com a roupa que traziam vestida no corpo. Mais de 70 mil estão neste momento a viver em condições precárias na cidade de Erbil e Ankawa, no Curdistão Iraquiano. O seu único crime é serem cristãos! "Nassarah" ou nazarenos, como dizia o grafito que apareceu nos edifícios das igrejas e nas casas dos cristãos da cidade de Mossul, juntamente com a frase que sentenciou a desgraça, "propriedade do Estado Islâmico".

Olhando à distância, apesar do tom positivo e simpático da entrevista, somos tentados a sentir pena destas pobres crianças. Pelos nossos padrões, sabemos que todas elas deveriam ser respeitadas na sua dignidade, assim como no seu direito de viver, estudar e professar livremente a sua fé. Será pedir muito que deixem estas crianças rezar na terra que os viu nascer?

Podemos comover-nos e pensar também na desgraça que se abateu sobre os cristãos do Médio Oriente. Contudo é bom lembrar que todos estes cristãos que sofrem perseguição por causa da sua fé pertencem a um grupo de elite da Igreja, o grupo dos mártires e testemunhas da fé. Todos eles representam o melhor que a Igreja tem. Por isso, o sentimento que devemos nutrir por eles não é de pena, mas de admiração. Que grande testemunho!

Ao referir-se precisamente a estes cristãos do Iraque, o papa Francisco dizia recentemente que toda a Igreja tem orgulho de ter filhos assim. Na sua dor e sofrimento, estes cristãos assemelham-se e vivem configurados com Cristo, o Servo Sofredor. O seu sofrimento não será em vão porque o seu sangue é semente de novos cristãos.



 

A Fundação AIS apoia os cristãos perseguidos e refugiados no Iraque e na Síria, assim como o canal Sat7, a principal televisão cristã do Médio Oriente e Norte de África.

 

Félix Lungu
Departamento de Comunicação da Fundação AIS
Publicado em 09.03.2015 | Atualizado em 15.04.2023

 

 
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A população daquela cidade e de toda a planície de Nínive foi obrigada a fugir, abandonando as suas casas e deixando tudo para trás. O que tinham desapareceu da noite para o dia. Ficaram sem nada, mas não perderam a dignidade
Olhando à distância, apesar do tom positivo e simpático da entrevista, somos tentados a sentir pena destas pobres crianças. Pelos nossos padrões, sabemos que todas elas deveriam ser respeitadas na sua dignidade, assim como no seu direito de viver, estudar e professar livremente a sua fé. Será pedir muito que deixem estas crianças rezar na terra que os viu nascer?
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