Muitas vezes os nossos sonhos nascem e amadurecem sem que nós o decidamos, não são um ato de vontade, somos como que chamados por eles.
Os sonhos são depostos em nós como uma semente e polarizam tudo: por vezes torna-se um sim de toda a pessoa, outras vezes pensamos que viver um sonho é demasiado pouco, e por isso deixamo-lo morrer e fazemos nascer outro.
Hoje vivemos a instabilidade dos sonhos a longo prazo, curamos um sonho com outro sonho, uma paixão com outra paixão, um desejo com outro, sem permitir-lhes que se tornem realidade.
Os sonhos adoecem e morrem se não se tornam vida, se não permanecem dentro da fidelidade a nós mesmos, se não nos fazemos hóspedes no seu mistério, se não sabemos esperar, se os consideramos uma conquista em vez de um encontro. A espera não é passividade, é fermento.
Não é fácil compreender se é desejo que gera em nós inquietude, ou é a inquietude que gera o desejo. Somos doentes de infinito, andamos ansiosos não pelo pouco, mas pelas demasiadas ofertas, os demasiados sonhos e desejos a que gostaríamos de ter acesso, mas a que não podemos chegar.
Deixámos adormecer a inteligência, essa capacidade de ler dentro de nós e dentro dos acontecimentos, de transformar as paixões e os sonhos em ações. Há uma desproporção entre aquilo que se pode e aquilo que se deseja.
Ainda que permaneçam vivos os sonhos, as emoções, a ternura, estamos cansados de viver uma realidade esmagada que não abraça o sonho. Os sonhos e as paixões requerem progressividade e paciência, criatividade e coragem para se tornarem vida.
Zaqueu, no meio da multidão, deseja ver Jesus, um desejo que não sucumbe perante a sua baixa estatura. Torna-se criativo e vê que entre ele e Jesus está uma árvore de sicómoro, que em hebraico quer dizer “árvore da loucura e da coragem”; trepa-a e consegue vê-lo, enquanto nós vivemos debaixo de uma chuva sem fim e sem regra de imagens e palavras onde a fantasia é sufocada e a criatividade é reprimida.
São a coragem e a criatividade que impelem o sonho a tornar-se realidade. O criativo não é o fantasioso, mas é aquele que, como Zaqueu, é capaz de se sintonizar com a realidade, e sabe criar harmonia entre o mundo em que vive e o mundo que vive nele.
Os sonhos precisam de paciência e de um passo de cada vez sem ter de recomeçar sempre do início; precisam de tempo para fazer amadurecer em nós aquilo que ainda não foi resolvido no coração.
Para transformar os sonhos em realidade é necessário um tempo longo, capaz de penetrar até ao coração da vida, onde os frutos libertam o seu perfume.