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S. Bernardo e os cães

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S. Bernardo e os cães

Chama-se Grande São Bernardo o passo dos Alpes mais célebre da história de Itália, pelo qual passou Napoleão com as suas tropas, decidido a conquistar o território. O seu nome original era Colo do Monte de Giove. A mudança de denominação deveu-se a um arquidiácono, S. Bernardo de Mentone, ou de Aosta, que se tornou famoso pelas suas pregações.

Testemunha dos perigos da passagem e dos peregrinos que, envolvidos nas tempestades ou atingidos por pequenas avalanchas, ficavam sepultados na neve, criou, em meados do século XI, no cimo da montanha, uma hospedaria, onde colocou alguns discípulos. Assim nasceram os cónegos agostinianos de S. Bernardo, que, em companhia dos seus cães de montanha, se tornariam os anjos guardiões do vale, salvando inúmeras pessoas. Retrata-os, no século XIX, o pintor John Emms, fixando os frades prontos a sair para a sua missão.

Os molossos que acompanhavam os religiosos são hoje conhecidos mundialmente como os cães São Bernardo, devendo o seu nome precisamente ao santo, que, tendo experimentado a bondade e a força desses animais, os adotou como socorristas, adestrando-os. Numa das telas, intitulada “Socorro”, veem-se dois frades prontos a desafiar a tempestade para chegar aos necessitados. São precedidos pelos seus cães, um dos quais carrega a proverbial barrica com brandy. Apesar de este ser um atributo inevitável para o São Bernardo, consta que a sua utilização para o auxílio é uma lenda. Com efeito, tratar-se-ia de uma espécie de sinal de reconhecimento: os animais com a barrica eram, seguramente, cães de São Bernardo, e portanto, salvadores.

Um quadro, curiosíssimo, com o título “A fé de S. Bernardo”, permite-nos entrar numa cela do refúgio. Vemos o monge, de costas, a cuidar de um doente. Deste vemos apenas a mão inerme, apoiada no cobertor. Um cão, em primeiro plano, observa alguns pedaços de lenha e pinças para o caminho, indícios do auxílio prestado.

Mas o que maravilha é outro cão que, ao lado do monge, dirige o olhar para o crucifixo, quase erguendo uma oração muda. Hoje, a salvaguarda da criação e amor pelos animais parecem prerrogativa de grupos que reivindicam a sua laicidade, e todavia são muitos os santos que amaram os animais. S. Francisco, o mais celebrado, não é senão a ponta do icebergue: antes e depois dele, de S. Romualdo a S. João Bosco, de S. Vito ao Padre Pio, os animais acompanharam o caminho de santidade dos cristãos, socorrendo-os a seu modo e sendo por eles socorridos.

Poucos sabem que existe até um cão, de nome Guinefort de Borgonha, venerado como santo, em relação ao qual a Igreja insistiu na proibição do culto. E há também o Barry, cão de montanha que no período napoleónico salvou cerca de 40 pessoas de ficarem congeladas e que está hoje embalsamado em Nussbaumer, na Suíça.

O Colo do Grande São Bernardo (como o Colo do Pequeno São Bernardo) e os cães São Bernardo testemunham que as raízes cristãs da Europa são um facto, e não uma teoria amadurecida na mente de alguns, poucos, desejosos de afirmar a sua fé.

 

Gloria Riva
In "Avvenire"
Trad. / síntese: Rui Jorge Martins
Publicado em 02.09.2015 | Atualizado em 16.04.2023

 

 
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São muitos os santos que amaram os animais. S. Francisco, o mais celebrado, não é senão a ponta do icebergue: antes e depois dele, de S. Romualdo a S. João Bosco, de S. Vito ao Padre Pio, os animais acompanharam o caminho de santidade dos cristãos, socorrendo-os a seu modo e sendo por eles socorridos
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