«A sala de cinema é o único lugar que resta no nosso planeta, juntamente com as igrejas, onde se pode tomar todo o tempo que desejas para pensar na tua vida», afirmou o realizador alemão Wim Wenders.
O cineasta apresentou hoje, no festival de cinema de Veneza, o seu filme "Les beaux jours d'Aranjuez", diálogo poético, por vezes íntimo, entre um homem e uma mulher através das suas memórias, desejos e paixões silenciados, que abre uma rutura nas suas vidas.
Rodado em 3D e produzido pelo português Paulo Branco, o filme baseia-se na peça homónima do austríaco Peter Handke, que Wenders já adaptou em obras anteriores, e inclui na banda sonora "Into my arms", interpretada por Nick Cave.
Da canção do australiano desprendem-se estas palavras: «And I don't believe in the existence of angels/ But looking at you I wonder if that's true/ But if I did I would summon them together/ And ask them to watch over you/ To each burn a candle for you/ To make bright and clear your path/ And to walk, like Christ, in grace and love/ And guide you into my arms// Into my arms, O Lord/ Into my arms, O Lord/ Into my arms, O Lord/ Into my arms».
É a palavra e a folhagem das árvores do jardim em torno de um terraço distante e ao mesmo tempo próximo de Paris, que impele a conversa do casal numa amena tarde de verão.
«Só se representam a si próprios, uma mulher e um homem, interpretados por Sophie Semin e Reda Kateb, não todos as mulheres e todos os homens, mas através deles muitos podem reconhecer-se», explicou o cineasta.
«Especialmente a mulher atravessa com as suas respostas toda a sua vida, mesmo os momentos mais penosos. Um dos privilégios deste filme é fazer com que um diálogo entre as pessoas se torne possível, e que elas consigam fazer emergir a infinidade do tempo», acrescentou.
Wenders também recordou a sua experiência como consultor artístico para a transmissão televisiva da inauguração do Ano Santo da Misericórdia, realizada a 8 de dezembro de 2015 no Vaticano.
«Foi uma ocasião extraordinária, havia muitas câmaras e muitas pessoas e foi como um trabalho teatral; foi longamente testada e constituiu uma ocasião extraordinário porque não acontece muitas vezes que o papa abra a Porta Santa, e eu queria estar lá quando isso acontecesse. Foi uma experiência comovente», declarou.
Luca Pellegrini